Certo dia, resolvi não ir trabalhar. Estava chateado com a vida, com a rotina do Pronto Socorro, com a cara mal humorada dos colegas e simplesmente me neguei a ir. Quando o despertador tocou de manhã, desativei-o enrraivecidamente, virei-me para o outro lado da cama e tentei esticar meu sono. Dormi e sonhei que estava sentado numa UTI a o lado de um senhor em coma e que minha função era controlar sua medicação colocada num frasco de soro. Tinha que administrar minuciosamente aquelas gotas para que não pingasse nem a mais nem a menos que o prescrito pelo médico. À medida que as horas passavam e eu ficando cansado da vigília, mais frascos de soro iam sendo colocados em seus braços para que eu cuidasse. Cheguei a contar dez frascos, pingando desenfreadamente sem que eu pudesse ter o controle da situação. Quando acordei, em cima da cama, suava frio e meu corpo doía. A o levantar-me senti que ainda contava mentalmente aquelas gotas de soro. Que plantão cansativo!
Plantão Mental
Desabafo.
Meu filho vai dormir até mais tarde. E digo,bem mais tarde se o conheço. sábado e domingo não foram suficientes para ele. Afinal madrugadas na internet, MSN, Orkut também cansam. Final de aulas, inicio de férias, incerteza da aprovação no ano letivo. Não demora começam outras queixas. Não tem nada pra se fazer nesta casa! Que saco mesmo!
Bom tenho uma série de coisas para fazer hoje. No mínimo uns seis compromissos gravados na agenda mental, e outros tenho ainda que ler.
!!100 anos!!
Bruxas
Acho legal essas iniciativas que valorizam as pessoas e seus interesses comuns estimulando inclusive seus vínculos profissionais.
Acho que devemos pensar nisto e amadurecer esta idéia.
O pardal manco
Por falar em passarinhos, devo contar que tem um pardal manco vivendo nas redondezas da base onde trabalho e que ja se tornou membro da equipe. Ele passeia todas as manhãs dentro de casa e entre nós sem o menor constrangimento em busca de farelos e insetos no chão. Lembro que este pardal foi atendido por algum colega quando caiu do ninho, ja adulto, e machucou uma das perninhas. Numa manhã quando cheguei ele tinha uma imobilização feita com palitos de fósforos e um pedaço de esparadrapo. Acho que ele não esqueceu disto.
Homens adimiraveis
Do que se compõe a elegância em um homem, me perguntei esses dias.
Seu corpo, seu gosto pessoal em se vestir, sua colônia pós-barba? Acho que não! Elegância não tem nada a ver com a beleza física ou acessórios de guarda- roupas, mas algo além. Alguma coisa que transcende a banalidade da estética e seus fricotes sociais. Alguma coisa que culmina do seu interior como individuo, como pessoa na sua mais ampla condição.
Amante, amigo leal, pai presente e ai se vão. Algo a ver com postura e suas atitudes diante das sinuosidades da vida e suas armadilhas. Algumas pessoas me passam esta idéia através de suas maneiras, sua serenidade e simplicidade de se relacionar, de interagem com o mundo sem contaminar sua dignidade. São elegantemente humanos.
Suicídio entre irmãos
Pense numa coisa, que você sabe que pode fazer mal a sua saúde, mas que quando colocam na sua frente, simplesmente não dá para resistir. Pensou? Então você não para mais de comer até ficar estufado, com náuseas e muita, muita culpa.
Primeiro voce começa educadamente, depois disfarçadamente e logo sem a minima vergonha na cara, esquece de tudo e manda vê. Hoje aconteceu comigo.
Minha irmã, que eu apelidei de Tadeu por causa do seu corte de cabelo e é meia fissuradinha nestes venenos lícitos, comprou um saco de torresmo, acho que de porco, sequinho e começamos a comer enquanto falávamos da vida alheia e contávamos piadas sem graça. Teve um momento em que nos olhamos com ar desafiador e começamos a disputar quem enchia a mão mais rápido na embalagem e colocava na boca. Começamos a rir compulsivamente, talvez um da cara do outro, como dois loucos até não sobrar nenhum farelo.
Da próxima vez quero tentar com um frango assado, destes de forno elétrico que vendem nas portas de padaria...Cheirosos e engordurados, se não a bricadeira do suicídio coletivo não tem graça!
Meu Jardim
Uma linguagem do amor
*texto retirado do livro:
As cinco linguagens do amor_ Gary Chapman
Puxando da memória
Lembrar da minha infância é também lembrar do Dino. Velho mulato que fazia batida de samba com a ponta dos dedos numa caixinha de fósforos. Chapéu de aba curta, calça comprida e um par de sapatos pretos que parecia nunca tirar dos pés.
Minha mãe conta que ele tinha uma ferida no pé que nunca cicatrizou provocada pela roda do bonde, quando ainda era jovem.
Sentava num banco de madeira, na calçada, todas as tardes e cantava trechos de musicas que nunca esqueci:
"Oh linda imagem de mulher que me seduz!.."
Ria e contava histórias que na época eu achava que eram mentiras.
Celulares
Meu colega de trabalho trocou de celular e passou quase todo o plantão mexendo naquela geringonça, na descoberta de todas as funções mágicas que o aparelho podia lhe oferecer.
Fiquei olhando enquanto ele apertava as teclas luminosas e torcia o canto da boca em sua expressão de curiosidade, alterando sons, fundo de telas, etc.. Fiquei pensando no encantamento que este objeto eletrônico provoca nas pessoas. Algumas chegam a ficarem mudas cegas e surdas quando entretidas naqueles joguinhos barulhentos e idiotas.
Conheço algumas pessoas que trocam de celular a cada dois, três meses, quando surge um novo modelo nas prateleiras das lojas, nos encartes de jornais.
Nova tecnologia e designer! Anunciam. Tira fotos com 5.2 megapixels! Filma até 2 horas sem perder qualidade!
Sem desmerecimento da importância dessas caixinhas de comunicação que facilitam nossa vida, a verdade é que tenho horror a estes recursos milagrosos que pouco uso e só geram despesas. Celular é um aparelho de comunicação para se falar com pessoas e pra mim basta. Tantos recursos assim, eu acho que só serve para encher morcelas da nossa vaidade. As crianças são ainda mais surpreendentes, não pedem mais brinquedos como carrinhos, bonecas, pois o top de consumo infantil é celular se possível que tirem fotos. Sem falar na sua influencia sobre os valores sociais. Quanto mais compacto e tecnologia apresentar mais poderoso e rico é seu proprietário.
Aquela frase que dizia: "Se conhece o homem pelo seu caráter". Deve ter mudado para: "Se conhece o homem pelo seu celular".
Feridas que não cicatrizam
Existem feridas que insistem em se abrirem, quando menos esperamos não é mesmo? Quando pensamos estar curados, volta a nos incomodar, causando aquela velha sensação de desconforto e impotência.
Pensamos já ter usado todos os antídotos para resolver-mos o problema e sem mais nem menos reaparece, soberana pesando em nossas cabeças, responsabilizando-nos pelo tratamento errado e conferindo-nos culpa.
A culpa, esta é pior, se relaxar-mos, nos arrasta para a UTI e aí só Deus sabe se teremos alta.
O jeito é ter paciência e procurar novos caminhos, novas técnicas para sarar-mos de vez sem palhativos. Saber que pra tudo tem solução em nossas vidas, se possível com menos sofrimento.
Impressão facial
Tem traços faciais que sugerem um nome, concordam comigo? Quero dizer que algumas pessoas parecem trazer imprimidas no rosto um determinado nome que não é o seu. Como se já nascesse com ele, independente do escolhido por seus pais.
Por exemplo: Já olhou para uma pessoa que você não conhece e pensou, esse sujeito tem cara de Paulo, quando na verdade se chama Francisco?
Dia desses mandei colocar um alarme no meu carro e fui atendido por um funcionário muito atencioso que se chamava Leonardo. Mesmo me dizendo seu nome, quando perguntei, olhava para o seu físico franzino e miúdo, seus olhos arregalados, e quase infantis eu tinha a sensação de que se chamava Zezinho. Algumas vezes até me referi a ele por este nome.
Olhando uma foto de minha irmã sentada a mesa com cigarro entre os dedos, óculos na cara, olhar rude, cabelo curto quase masculino pensei logo: "cara de Tadeu!" Mais tarde disse pra ela e a pegação de pé foi geral. Adicionei sua foto no meu Orkut com o nome de Tadeu.
Isto tudo parece loucura, mas trocaria o nome de muita gente que conheço, com raras exceções, por estes nomes que são quase impressões digitais impressos na cara, escolhido não por seus pais, mas por traços, marcas personais esculpidas pela vida.
Dias de outono
Gosto de dias como foi o de ontem, parecia Outono se não fosse dezembro. O vento batendo na cara, as árvores em movimento como se estivessem dançando balé.
Alguma coisa que não lembro, deve ter marcado minha vida, num dia como este, por que me transporto para outros tempos, outros momentos que não consigo identificar com certeza...
Pandorgas içadas a o vento, as vezes morta entre fios de alta tensão. Pernas de pau, pé de lata, pião girando na palma da mão...
Café da tarde
Minha mãe gostava de fazer polenta doce, para comer com café a tarde. Alguém ja provou?
Pra mim era um feito mágico!
Ela colocava a farinha de milho com açúcar na panela de ferro e ficava mexendo com a colher de pau até tudo se transformar... O amarelo da farinha a os poucos virava num marrom dourado, com aquele cheirinho de cravo e manteiga que se derretia.
As pequenas brigas entre irmãos concorrendo pelo maior pedaço, e o café preto eram apenas complemento daquelas tardes felizes em que o relógio parava.
02- xícaras de farinha de milho média.
01- xícara de açúcar.
05- cravos.
01- casca de canela.
01- colher de manteiga.
leite fervente até chegar ao ponto.
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