Eu deveria me sentar aqui, diante deste computador e escrever detalhadamente sobre a minha experiência, sobre a minha viagem para o Chile. Contar que a ideia inicial era de ir para o Peru e conhecer Macchu Picchu, mas que tivemos que mudar de rumo pois dois ou três dias antes da viagem desabou uma tempestade que inundou a região de Ollantaytambo e Cuzco deixando tudo debaixo água e que foram bloqueadas qualquer passagem que levassem até as montanhas na cidade perdida dos Incas. O trem que levaria os turistas para Macchu Picchu pelas montanhas ficou interditado e as noticias dadas pela TV e Internet repetiam que o país estava um caos, que turistas estavam sendo resgatados por helicópteros de lugares de difícil acesso, com fome, sede e frio, que faltava recursos para os resgates e que a região estava em estado calamitoso por no mínimo sessenta dias até a chuva parar, até o governo peruano buscar verbas para reparação dos lugares destruídos pela enxurrada. E que amigos e parentes ligavam-me aconselhando-me que eu não fosse. E que eu fiquei frustrado como qualquer pessoa que planeja uma viagem destas e vê tudo literalmente desabar na ultima hora e se vê impossibilitado por motivos que independem de si, dos responsáveis pela excursão, do governo peruano. E então para não perder dinheiro, tempo de férias e a possibilidade de sair da rotina, alteramos o roteiro das férias em direção a o Chile. Eu gostaria de ter me organizado e feito algumas anotações dos lugares, datas e horários por onde passamos e que são lindos, mas descobri ser uma pessoa por vezes desorganizada para este tipo de coisa. Gostaria de ter tirado mais fotos e mais bonitas do que as que tirei, de ter escrito sobre as pessoas legais que conheci e dividí espaço na excursão, da emoção de ter feito uma viagem destas com meu filho que estava visivelmente feliz e amigos especiais, mas tudo vira uma emoção só e a gente acaba esquecendo de fazer registros que mais tarde se lamenta de não ter feito.
A sensação de estar no meio do deserto, numa região completamente árida, subir em lugares íngremes na Cordilheira dos Andes, a falta de ar ao enfrentar 4.800 metros de altitude com dificuldade de respirar adequadamente tendo a impressão de morte por asfixia a qualquer momento. Os Gêiseres del tatio a uma altura que pode atingir 1 talvés 3metros de altura, as piscinas naturais com 36 graus, de temperatura, o vale de La luna onde se assiste o pôr do sol sobre as montanhas, o deserto do sal. A arquitetura e modernidade de Santiago do Chile e seus surpreendentes e dóceis cães de rua, o metrô, as belas igrejas e mosteiros, as praias do Pacífico como Valparaiso e Vinãs del Mar e em Antofagasta de geografia particularmente selvagem, diferente. San Pedro do Atacama, cidadezinha isolada no meio do deserto com telhados de palha e barro, mas repleta de turistas do mundo todo. Os passeios noturnos pelos bares de Córdoba e Salta na Argentina, a comida que deixava muito a desejar para a nossa daqui do Brasil. Eu deveria sentar-me aqui diante do computador e descrever muito mais coisas e detalhes bons e ruins sobre esta viagem a o Chile. Eu deveria dar dicas de lugares onde se come bem e paga-se barato, sobre particularidades interessantes de cada lugar onde estive e também os hábitos e cultura do povo local, eu deveria agradecer por esta oportunidade ímpar, mas acho que tudo ficou tão surpreendentemente preso em mim que ainda não consigo por pra fora tudo que ví e sentí e fico fazendo estes post em pedaços, na medida em que vou lembrando destes dias que estive por lá.
Vantagens e desvantagens:
Bom viajar de ônibus para o Chile tem vantagens e desvantagens. As desvantagens é ser uma viagem longa, demorada e cansativa, com dificuldade as vezes de encontrar local adequado e que satisfaça à todos para comer, tomar banho e fazer as necessidades fisiológicas, principalmente a 2 que é proibido no banheiro do onibus. Algumas vezes os deslocamentos de uma lugar para outra são feitas a noite e então se perde a noção de onde se está e alguma parte de locais que se quer ver ou fotografar de perto. Por outro lado, durante o dia, o onibus fez varias paradas possibilitando-nos contemplar paisagens belíssimas. As Aduanas, principalmente a Chilena, gostam de dar chá de banco em estrangeiros e não demonstram nenhuma simpatia com a gente e parecem demorar deliberadamente para liberarem a documentação. Saímos de Porto Alegre, cruzando por Uruguaiana, Santa Fé, Córdoba, Mendonça, Cordilheira dos Andes, Santiago, Valparaíso, Vinas Del Mar, Antofagasta, Salta, Corrientes, retornando por Uruguaiana até Porto Alegre, totalizando 6.721km de experiencias incríveis.
Córdoba:
Na Argentina a cidade que mais me chamou a atenção por sua beleza e vida social intensa foi Córdoba, segunda maior cidade argentina com jeito interiorano. É considerada a capital da Cultura das Américas e a primeira capital oficial da Argentina. É também um centro cultural e histórico pela chegada de Jesuítas que lá se instalaram no século passado e construíram a Manzina Jesuitica, complexo religioso que ocupa um quarterão de área construída. Ficamos um dia e uma noite em Córdoba e no dia seguinte seguimos viagem passando por Mendonça em direção a Santiago.
Mendonça:
É um importante polo na produção de Vinhos e azeite, a cidade está localizada aos pés da cordilheira dos Andes e pode ser considerada como um oásis, pois é vastamente arborizada e está numa região semi-desértica. A cidade é abastecida por sistemas de irrigação provenientes de dois rios que tem origem do degelo dos Andes.
Na foto acima eu meu filho, estamos sobre a cordilheira e ao fundo a barragem de agua proveniente do degelo das montanhas mais altas. Olhando por fotos, não se tem noção da grandiosidade disto tudo. Os penhascos e as montanhas são imensas, causando uma sensação de medo e fascínio.
Santiago:
Depois de cruzarmos pela cordilheira e enfrentar por horas a cara amarrada dos funcionários da Alfandega, chegamos em Santiago ao entardercer. Nos hospedamos no Hostel Santa Lucia no centro da cidade, cujo o café da manhã eu não gostei. Na maioria dos hostel em que ficamos, os cafés eram do tipo solúvel e muitas vezes eram servidos sem que o leite fosse fervido.
Odeio café que não é passado em saco. Outra particularidade o café tinha um gosto horrível, sorte termos levado algumas caixas de café brasileiro na bagagem. Também não gostei muito da comida chilena e dos banheiros que pareciam artigo de luxo na maioria dos lugares que entramos. Alguns restaurantes mesmo com uma boa apresentação, disponibilizavam banheiros no fundo do estabelecimento e em péssimas condições de uso.
Apesar da minha insatisfação alimentar, Santiago é uma cidade moderna, rica e com muitas coisas interessantes e culturais para se ver como museus, catedrais, praças, pórticos, construções arquitetônicas antigas, muitas festas nas ruas durante o dia, bares e restaurantes onde se pode sentar ao ar livre e apreciar uma boa comida e bebida.
Tem uma boa rede de metros e o cotidiano da população bem movimentada. Os banheiros públicos são pagos e a o menos no centro da cidade, construídos no subterrâneo das avenidas principais. Santiago parece estar dentro de uma enorme bacia, cercada de montanhas por todos os lados por onde se olha.
Os cães de rua em Santiago:
Outra particularidade que chamou a atenção de todos os integrantes da excursão, é a quantidade de cães que vagam pelas ruas de Santiago por serem abandonados por seus donos. São cães dóceis e de porte grande que peseiam pelas ruas como se estivessem no patio de suas casas. Não são mirrados e sujos como os nossos, possibilitando até que se passe a mão sobre eles, sem ficar com aquele cheiro desagradável. Não são afugentados pela população e tambem não demonstram medo. Atravessam as ruas e são respeitados pelos veículos que circulam. Se por um lado são abandonados por seus donos, de alguma forma a população os acolhe. Inumeras vezes percebi sob as calçadas recepientes com agua e comida. No dia em que visitei o Palácio de La Moneda, com todo o protocolo de segurança, revista de bolsas e detectores de metais me surpreendi ao ver pelo menos dois destes cães deitados no pátio interno ao lado dos guardas.
E olha com certeza não eram cães de guarda treinados não, é como se a população os adotasse e mantivesse uma relação de respeito por eles. Como se fosse um hábito institucional no país. Em Córdoba, percebemos o mesmo respeito pelos animais.
Santuário Inmaculada Concepón:
Ainda no centro da cidade é possível se ter uma visão panorâmica de toda a Santiago ao visitar este Santuário numa região alta por onde se chega através de um bondinho puxado por fios de aço. O local é cheio de bancas que vendem artesanato, comida e outros utensílios locais.
Muitos fiéis sobem até o lugar para louvar a santa, mas o ganho maior é ver a cidade lá de cima e usufruir dos bares e restaurantes com mesas sobre as calçadas, na parte baixa e central da cidade com artistas de rua fazendo shows e tocando instrumentos que pouco conhecemos.
Valparaiso e Vinas Del Mar:
Depois de muitos paseios, compras e incursões por toda a cidade e mais uma noite no hostel, seguimos viagem no outro dia pela manhã em direção a o litoral do Pacifico para conhecer Valparaiso e Vinas Del Mar. Valpariaso é uma cidade portuaria e lá almoçamos num restaurante panoramico a o som de La barca.
Apelidei os musicos de Chitãozinho e Xororó chilenos. As praias chilenas são completamente diferentes do que estamos acostumados a ver por aqui no Brasil, tem pouca vegetação, muitas pedras e a agua é fria de doer os ossos.
Vinas Del Mar é mais sofisticada e fiquei impressionado com sua infraestrutura, shoppings, estacionamentos subterrâneos e restaurantes sofisticados e caros. Outra coisa que me chamou a atenção foi uma placa nas areias de Valparaíso, escrito: "Em caso de Tsunami, evacue a área".Um dos cartões postais de Vinas Del Mar é este relógio de flores, construído na praça central da cidade à poucos metros do mar.
Pacífico/ Panamericana e as casinhas no deserto:
Seguimos viagem pela rodovia Panamericana na beira do Pacifico, até encontrarmos o deserto. Era magnifico apreciar o mar recortado por enormes pedras de aspecto vulcanico e do outro lado a imensa região árida do Deserto do Atacama que a cerca de 400 anos não chove e é considerado o mais alto e mais seco do mundo, localizado na região norte do Chile, com cerca de 200 km de extensão. Nossa próxima parada, o deserto e São Pedro do Atacama.