Quarto 1408

Faz uns dois anos que moro sozinho e desde então, tenho me recusado a assistir filmes de terror ou suspense e o ultimo que vi foi "A Bruxa de Blair". Não sei se me acovardei a medida que fui ficando mais velho ou sempre fui um medroso não assumido e por isto, por alguma prevenção assistia estas modalidades acompanhado e mentia para as pessoas e para mim que não me instabilizava quando os assistia. Ria de meu filho que assumia sua tensão por estes tipos de filmes, mas na sexta-feira, quando liguei a TV na madrugada, não pude recuar e deixar de assistir o filme "Quarto 1408" que passava num dos canais fechados da Net. Desconfiei que fosse, pelas cenas de suspense dentro de um quarto de hotel com um homem preso dentro dele e sendo aterrorizado pelos mais variados eventos inexplicáveis e lembranças de seu passado. Quando sentei para assistir havia iniciado e só pude ver seu nome no canto da tela depois de alguns minutos da minha atenção.
O filme conta a estória de um escritor cético e famoso por suas obras sobre paranormalidade, as quais começou a escrever após a morte da filha. Para terminar seu livro: Dez Noites em Quartos de Hotéis Mal-Assombrados , hospeda-se no hotel Dolphin munido de gravador laptop etc... e passa uma noite no quarto 1408. Mesmo com os avisos do gerente sobre a morte de quase 60 pessoas naquele quarto, ele decide enfrentar os medos e encarar o desafio... Eu mesmo pego de surpresa, decidi encarar os meus!

O que fazer em dias de chuva?

Além de sexo e bolinhos fritos, a leitura é boa companheira, o chá aquece o corpo e as paixões se reestabelecem em novas perspectivas:
  1. Do pudor à aridez, da historia das lágrimas_ Anne Vicent-Buffault.
  2. O Romance está morrendo?_Ference Fehér.
  3. Sobre a modernidade_Charles Baudelaire.
  4. O Crime de Lord Arthur Savile_Oscar Wilde.
  5. O fantasma de Canterville_Oscar Wilde.
  6. A alma do homem sob o socialismo_Oscar Wilde.

Apertando nós

Hoje o encontro por aqui foi de muita dor e pergunto-me por que nos permitimos isto, nos deixamos abater por sentimentos desnecessários? Por que tantas exigências, desencontros? Damos nosso corpo ao carrasco bater e ouvidos ao que temos certeza não ser nossas verdades. Pensamos desatar, mas acabamos apertando ainda mais os nós das diferenças.

Eu não sei dançar!

Às vezes eu quero chorar mas o dia nasce e eu esqueço/ Meus olhos se escondem onde explodem paixões/ E tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar ou outra coisa pra lembrar.../
Às vezes eu quero demais e eu nunca sei se eu mereço/ Os quartos escuros pulsam e pedem por nós/ E tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar ou outra coisa pra lembrar/ Se você quiser eu posso tentar mas.../ Eu não sei dançar tão devagar/ Pra te acompanhar/ Pra te acompanhar/ Eu não sei dançar.


Desejo e Reparação.

Do mesmo diretor de Orgulho e preconceito, o filme conta a história de Briony Tallis, filha mais nova de uma família aristocrata britânica cujo hobby é escrever. Com uma imaginação fértil, Briony, aos 13 anos, acusa Robbie Turner, filho da governanta e pretendente amoroso de sua irmã Cecília, de um crime que ele não cometeu. A acusação destrói o recém-descoberto amor de Robbie e Cecilia e altera dramaticamente o curso da vida de todos.
O filme mostra a jornada de Briony, anos mais tarde, na tentativa de reparar o erro. Ao mesmo tempo mostra as trajetórias de Robbie, lutando na França pela Segunda Guerra Mundial, e Cecilia, trabalhando como enfermeira na Inglaterra.
Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme -Drama, “Atonement” (títuloo original) conta ainda com outro momento magnifico, quando a atriz veterana Vanessa Redgrave entra em cena interpretando Briony já velha. A atriz em pouquíssimo tempo na tela, deixa a platéia estarrecida ao evocar todo o remorso acumulado durante uma vida.
Assim como o livro é sobre o poder reparador da literatura, o filme assume a função de mostrar toda a força do cinema. Mesmo com o texto dizendo o contrário, o poder das imagens nos faz ficar felizes ao final da produção e querer mais, ainda nos interioriza e força-nos a perguntamo-nos sobre a nossa visão diante dos fatos que alteramos em prol de nossos preconceitos, duvidas e 
inexperiências.


Título Original: Atonement
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 130 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2007
Direção: Joe Wright
Roteiro: Christopher Hampton, baseado em livro de Ian McEwan
Elenco
Keira Knightley (Cecilia Tallis)
James McAvoy (Robbie Turner)
Romola Garai (Briony Tallis - 18 anos)
Saoirse Ronan (Briony Tallis - 13 anos)
Vanessa Redgrave (Briony Tallis - idosa)
Brenda Blethyn (Grace Turner).

Pandemia

Faz duas semanas ou mais, que os serviços de emergência de Porto Alegre viraram uma espécie de acampamento de guerra. Alguns hospitais inclusive construíram umas espécies de containers e barracas em seus pátios afim de atender isoladamente as pessoas com suspeita de Gripe A. Entrando nestas emergências diariamente é que se tem noção do caos instalado e perceber a expressão de insegurança e medo no olhar da população e funcionários de saúde. Escolas já prolongaram seu período de férias de inverno, cirurgias eletivas (não urgentes) foram suspensas afim de reduzir o tráfego nas emergências e diminuir a circulação de visitantes e pacientes, limitando riscos. Estoque da medicação Tamiflu antes comercializado, agora esgotado, informações das autoridades desencontradas. Pessoas circulam pela cidade com mascara no rosto e olhar de desconfiança. Um espirro ou tosse num ambiente fechado é capaz de gerar tanta tensão que não falta muito para iniciar um tumulto geral. Será que realmente estamos vivendo um período de guerra biológica como costumava assistir em filmes de ficção na TV? Esta palavra, "Pandemia", eu só conhecia através de conceitos escritos em livros e revistas de Saúde Publica, não pensei que vivenciaria uma situação destas beirando ao estado de calamidade geral !

Rosa branca e vinho tinto

Ontem fiquei admirado, olhando a rosa branca plantada num pequeno vaso sobre a mesa de jantar na casa de uma amiga. Magnificamente alva e solitária, presa num caule fino e coberto de espinhos quase invisíveis que pareciam uma escada de degraus perigosos. Quando servi-me de vinho, tive ímpetos de derramar sobre suas pétalas algumas gotas do vinho tinto e imaginar que ela pudesse estar sangrando. Depois olhando pela janela pensei em como eu tenho o hábito de capturar imagens soltas e molda-las com a minha imaginação, guardar frases lidas ao acaso que me causam algum tipo de efeito interno e que ficam encravadas dentro de mim por semanas, meses à fio, como a que li dia desses num blog: "Quando o silêncio pede palavras...".

Mascaras

O dia amanheceu chuvoso e sem perspectiva de melhora, o churrasco do qual fui convidado, tive de adiar depois da ligação de pedido de ajuda que até o momento estou acreditando ser por uma boa causa, pode ser que amanhã venha me arrepender. Dia desses escrevi sobre as mascaras que utilizamos para nos proteger e nos transformamos em personagens que acreditamos ser. Hoje percebi que algumas pessoas escondem por trás dessas mascaras, segredos de difícil aceitação social e que me faz pensar em que tipo de seres humanos são, capazes de se transformarem quando abatidos por traumas da infância, sofrimentos e dores acumuladas, quando retiram estas mascaras na urgência de poder respirar. Diante dos meus olhos vi o medo, lágrimas e o desespero de quem é arrastado por sentimentos sombrios e agora é descoberto. Afinal quem somos e o que sentimos de verdade na eminência destes fatos se a mascara acabou de cair?

Desejo de Liberdade

Três mulheres com historia de passados diferentes e amarradas a uma figura masculina opressora, buscam um desejo latente de alterar seus destinos.
Diante de (situações-limite), elas necessitam de coragem para mudar suas vidas. Olívia (Sophia Loren) trabalha e cuida do marido paraplégico. Artista nata, ela desenha os sonhos que a perturbam toda noite. Seus desenhos acabarão por levá-la à filha que lhe foi tirada ainda jovem.
Natália (Miro Sorvino) é filha de um fotógrafo consagrado e acaba de ter publicada na capa da revista Time sua primeira grande foto. Mas a vontade de saber o que aconteceu com a garotinha do retrato a dirige por um novo caminho.
Catherine (Deborah Kara Unger), violoncelista primorosa, abandonou marido, filha e carreira para dar vazão ao rancor que guarda pelo pai e vingar-se de um homem que já passou 22 anos na prisão. Enquanto as histórias se desdobram, as três mulheres tem a mesma visão de uma menina, imagem que traz à tona lembranças de desejos não realizados e as inspira a seguir seus sonhos.
Título Original: Between Strangers
Origem: EUA/ITA
Ano: 2002
Director: Edoardo Ponti
Elenco:
Klaus Maria Brandauer,
Gérard Depardieu,
Sophia Loren,
Malcoln McDowell,
Pete Postlethwaite.

Duração: 95 min.
Gênero: Drama

Arte Francesa em PoA

Fui na terça-feira, durante à tarde, visitar a exposição no MARGS dos grandes mestres do realismo francês: "Arte na França 1860/1960-Realismo". A exposição reúni mais de cem obras de artistas de grande importância, criadas sob a influencia do realismo francês, entre eles: Courbet, Monet, Van Gogh, Degas, Renoir, Cézanne, Balthus, Millet, Dérain, Miró, Dalí e Manet.
A ascendência do estilo sobre artistas brasileiros também é revelada na mostra, que também traz obras de Cândido Portinari, Almeida Júnior, Iberê Camargo, Lasar Segall e Guignard produzidas na França.
A exposição “Arte na França 1860 – 1960: O Realismo” é uma realização do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com a Secretaria Estadual da Cultura e o MARGS, com patrocínio Banrisul, Grupo Gerdau, CEEE, Corsan, Caixa/RS e Sulgás.
Meu ingresso? Um saquinho de arroz que será destinada ao comitê de Ação Solidaria do Governo Estadual, para a Campanha do Agassalho.

Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS)
Praça da Alfândega, s/n° - Centro – Porto Alegre
De 14 de julho a 30 de agosto
Visitação de terças a domingos, das 10h às 18h



Preconceito no Twistter

O preconceito quando não assumido publicamente, está dissimulado na nossa sociedade sob gestos, olhares, atitudes e também comentários entre pessoas que não se esperava uma atitude descriminatória, por que supõe-se que elas são livres destes vergonhosos sentimentos, mas quando são formadores de opinião, e tem vida pública e assim subentende-se responsabilidade sobre oque falam e pensam e servirem de certa forma como exemplo a toda a sociedade, até que num determinado momento elas mostram oque realmente pensam e terminam defecando pela boca e daí o remendo fica pior do que bater no peito e assumir de uma vez o que já se sabe. Fiquei não sómente pasmo, mas também revoltado ao ler esta reportagem num jornal-revista na Internet e que copiei aqui no blog para voces analizarem o ocorrido:
O humorista Danilo Gentili, do programa "CQC" da TV Band, será investigado pelo Ministério Público de São Paulo por possível crime de racismo. De acordo com a coluna Zapping, assinada por Alberto Pereira Jr., ele publicou uma piada em seu perfil do Twitter na noite de sábado, 25, que gerou repercussão. Gentilli escreveu: "Agora no Tele-Cine KingKong, um macaco que depois q vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
Minutos depois, ele voltou a escrever no perfil tentando justificar a brincadeira: "Alguém pode me dar uma explicação razoável porque posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca um negro de macaco?". Não satisfeito, Gentili, continuou se justificando: "Reparem: na piada do KingKong nao disse a cor do jogador. Disse que loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeca de vocês que tem preconceito, hein".
No domingo, Gentili voltou ao Twitter para postar uma foto e comentou: "Obrigado, pessoal. Vocês conseguiram me prender igual a um macaco por denúncias de racismo."
Ainda indignado com tudo o que está acontecendo, Gentili preferiu usar um espaço maior, além dos 140 caracteres oferecidos pelo Twitter, para continuar o assunto. Em seu blog, o repórter do CQC falou sobre a diferença de raças para explicar o seu ponto de vista sobre o assunto.
"Se você me disser que é da raça negra preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra. Pois se todas raças são iguais então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?", diz o humorista em seu blog.

O DIA QUE NEVOU EM PORTO ALEGRE

Amanheceu um lindo dia ensolarado nesta terça-feira, cujo o inverno aqui no sul tem sido um dos mais rigorosos das ultimas décadas. Poucos estavam acordados para sentir, mas a cidade registrou na manhã de sábado, 25 de Julho, o frio mais intenso dos últimos dez anos, informado pelo Instituto Nacional de Meteorologia, localizado no Jardim Botânico, zero graus.

Lembro-me de 24 anos atrás, quando eu, com 26 anos, abri a porta da cozinha da casa de minha mãe, em Viamão e deslumbrei a paisagem mágica da neve caindo sobre o pátio e pomar e a fumaça da chaminé do fogão à lenha se misturando entre os flocos de gelo que caiam e flutuavam no ar. A neve caiu por aproximadamente uma hora.
Era 24 de Agosto de 1984, data que eu me esforcei para não esquecer, dado a um evento incomum desses. No outro dia, para provar que não foi historia de pescador, saiu a reportagem com as fotos no jornal ZH, mostrando aos leitores, esta bela manifestação da natureza e também para os incrédulos que estivessem alimentando alguma dúvida sobre o ocorrido. 
Até então o jornal informava que desde 1909 não caia neve na cidade. Foi a primeira vez que vi neve na minha cidade e na minha vida, a segunda vez, foi em Gramado, depois em Nova Iorque e Buffalo nos EUA muitos anos depois...


Carta Vieja/Carmenére 2008/Chile

Carta Vieja Carmenére 2008/ Chile. Faltou corpo que aveluda a lingua e encanta no primeiro gole, no primeiro momento que se guarda em alguns segundos dentro da boca, depois excedeu um certo toque amargo que persistiu e não passou boa impresão. Não aprovou!

Trilhas sonoras da vida

Ontem, na casa de meu irmão pôr ocasião de seu aniversário, a família e alguns amigos estavam reunidos. Entre muitas gargalhadas e brincadeiras coletivas, assistíamos alguns vídeos de cantores americanos dos anos 70 da coleção particular de meu irmão. Lembrava-me de algumas musicas, mas sem saber ao certo onde exatamente elas se encaixavam na minha história. Pôr breves minutos tive aquela sensação de que o tempo passou rápido para mim, minha família e todos ali reunidos e que aquelas musicas eram no momento, algum ponto de atração que nos puxava para um mesmo espaço em comum do passado, onde todos de alguma forma foram felizes a sua maneira, então restava cantar, lembrar e aplaudir com muita saudades aquelas trilhas sonoras inesqueciveis de nossa vida.

Auto-encenação

Há duas maneiras de nos relacionarmos conosco e com os outros: Acreditar no que realmente somos ou ver nossas faces como personagens de nós mesmos e é quando utilizamos alguns tipos de disfarces e tentamos convencer a nós e aos outros sobre aquilo que pensamos que somos e que criamos no nosso mundinho falso. Muitas vezes passamos até a acreditar nestas mentiras (e em cima disto, alicerçamos histórias, emoções, opiniões que não são as nossas, que são inventadas, forjadas por este personagem que criamos). Isto acontece por que de alguma forma ficamos inseguros, temerosos de que percebam alguma fragilidade em nossa vida, que nos tornemos fracos, incapazes na opinião dos outros. Mas vale a pena lembrar que nossa opinião sobre nós mesmos é tão ou mais importante, que a destas pessoas que tentamos nos esconder, nossa opinião tem um peso muito maior que julgamos saber no perimetro da consciencia, somos duros com nos mesmos. Foi assim que me percebi semana passada, quando levantei o telefone e me pus a conversar com algumas pessoas que eu não falava há meses e que eu já percebera ter perdido a minha confiança nelas ou que talves nunca tivesse tido. Fui sentindo que meus gestos e expressões se modificavam na medida em que ia falando sobre mim mesmo, justificando-me após cada opinião que formava a respeito de algo na minha vida, era subjetivo, parecia tentar provar onipotencia e assim afasta-los do que realmente sou e que talvés precisasse na urgência de minha insegurança esconder. Por alguns instante me parecia com uma outra pessoa, falando de outra pessoa, criando um falso discurso que nem eu mesmo acreditava. Por outro lado, elas alimentavam este meu discurso, fazendo perguntas em cima de perguntas, se mostrando curiosas de saber tudo sobre a minha vida embora não se importasse com isto, curiosos sobre a minha grande mentira.

Falando de viagem

Rita deu um pouco de seu tempo para me contar sobre sua viagem para a Europa e em particular sua impressão a respeito de Roma, Paris e Atenas, cidades que por razões pessoais mais lhe chamaram a atenção por sua beleza. Enquanto falávamos percebi em seu olhar um entusiasmo que eu julgava fosse maior quando converssasemos a respeito. Fiquei pensando se é possível visitar um lugar destes sem ficar basbaquiado com sua arquitetura, museus, pontes, cultura, tudo que se pode ver e sentir nestes locais aclamados pela opinião geral. Lembrei-me de alguém ter me dito que depois de algum tempo viajando tudo parece ser um lugar comum, como se uma ruela em Paris fosse parecida com uma outra na Argentina, um vale na Espanha lembrasse algum recanto no sul do Brasil, Pittsburgh com Recife e então as pessoas não percebem mais as diferenças... Estar na Bélgica e como estar em qualquer lugar, isto é possível? Na minha opinião viajar tem que ter um gosto maior do que simplesmente conhecer lugares, é visitar com olhos de conquista, com a atenção de quem busca o diferencial em pequenas detalhes que talvés não seja encontrado na arquitetura, nos pontos turísticos, mas nas relações que se cria entre você e as pessoas, entre você e o meio. Em diferentes locais é necessário ter um olhar diferente. Observar detalhes, captar elementos que vão alem de sua historia. Sim por que cada recanto, vila deve haver alguma história, algum segredo. Impossível pensar na Torre Eifel, apenas como um gigantesco monumento de aço. Precisamos nos deixar seduzir, agregar emoções, observar ou criar situações que virem referencia em nossa vida, que atinge nossa alma, para que um dia possamos nos lembrar. Com certeza aquele banho de Anita Ekberg, no Fontana di trevi no filme La doce Vita, acho que jamais foi esquecido por ela como por todos que a assistiram.

A culpa é de Deus?

Agora pela manhã liguei para o celular de uma colega de trabalho, e que considero muito mais que isto, mas uma grande amiga em se tratando do tempo que nos conhecemos e que dividimos um com o outro nossos problemas pessoais e luta profissional por mais de vinte anos. Ela estava na rua quando me atendeu e informou-me com tristeza sobre o falecimento de sua mãe dia 14, sendo atendida por uma equipe do SAMU. Insatisfeita e revoltada com a qualidade do atendimento que foi prestado à sua mãe, disse-me que buscaria os recursos legais para processar o serviço que não valorizou o estado grave em que se encontrava sua mãe quando foi solicitado e durante o socorro. Fiquei perplexo enquanto ela me dava a noticia, com a voz triste o ocorrido com sua mãe, dona Bibi, que eu conhecia de tanto tempo e indiscutivelmente criei laços, como se fosse um familiar meu. Envergonhado de fazer parte deste serviço do qual ela se queixava e que hoje, enfrenta tantos problemas internos quanto estruturais, que tenta abraçar os problemas de saúde de uma cidade que cresce à margem de um defasado numero de recursos técnicos pertinentes a todo o problematico complexo de saúde neste país, como (pessoal, centros de emergências, ambulâncias, hospitais, recursos), com uma legislação bonita de se ler no papel, mas que no dia a dia é impraticavel. Fiquei naquele situação delicada de quem não pode ficar em cima do muro e que precisa tomar partido de algum lado da situação, a dor de minha amiga ou as explicações formais de um serviço instituído, legalizado, informatizado, do qual faço parte e sei que algumas vezes não recolhe informações corretas de quem solicita o serviço e então envia o recurso errado, às vezes nem envia, que desacredita e descredibiliza profissionais de funções menores que atendem na linha de frente. Talvés eu devesse visitar minha amiga e dar-lhe tapinhas nas costas dizendo que havia chegado a hora de sua mãe partir e que nada poderia ser feito, nem mesmo pelo SAMU, talvés eu devesse lhe dizer que eu acreditava que tudo foi feito com a maior competencia, desde o acolhimento médico na hora do chamado até o atendimento final realizado pela equipe, mas eu não tenho certeza de nada!.. Não, eu não consigo ser hipócrita o suficiente para encenar este teatro e acho que ela deveria ir sim em busca da verdade, apurar responsabilidades se tem duvidas sobre o ocorrido ou apenas se consolar, fingir que aceitou e colocar a culpa como a maioria das pessoas fazem, em Deus.

O trote

Hoje é domingo e ainda tenho de trabalhar. O telefone começou a tocar 4h 30 min. da manhã por que alguém do outro lado da linha resolveu passar trotes ou algum golpe e eu fui o escolhido. Foram três absurdos e insistentes pedidos de socorro de alguém que se dizia minha filha, que simulava a voz de uma adolescente chorando e pedindo ajuda, que se dizia estar nas mãos de bandidos. Eu não tenho filhas e então resolvi desligar o aparelho da parede depois da terceira insistencia, imaginando que se não o fizesse viriam frases agressivas falando em sequestro, dinheiro, morte e outras barbaries. Resolvi afastar-me daquele clima, sai do quarto e fechei a porta. Aguardei meu horário de ir para o trabalho sentado na sala, já sem sono., irritado. Impossivel não deixar de se alterar com uma ligação destas, na madrugada interrompendo o sono, mas não quis pensar em quem estava do outro lado, se era simulação ou verdade, se alguém precisava realmente de ajuda, dar vazão ao desespero, preferi acreditar no possível golpe já conhecido e que tantas pessoas foram vitimadas, talvés pra mim fosse mais facil acreditar nisto. Chovia la fora e ouvia a chuva bater na calçada de concreto, nas caixas de proteção de ar-condicionado. Lembrei de meu filho que vi algumas horas antes e combinamos assistir um vídeo juntos nestes poucos dias de ferias escolar. A chuva parecia não desistir de cair, o telefone decididamente eu deixara mudo e trancado no quarto, abri a porta e saí para o trabalho fingindo despreocupação.

Ensaio sobre a Cegueira

Imagine que de uma hora para outra tu percas a visão e depois gradativamente todas as pessoas a tua volta, vizinhos, amigos a cidade, o país inteiro, numa epidemia repentina e inexplicável e todos acabam cegos e reduzidos pela obscuridade, a meros seres lutando por seus instintos. Ensaios sobre a cegueira é um drama que descreve o colapso humano e urbano com a destruição da sociedade perdendo tudo aquilo que se considera civilização. Mostra o caos e a luta das pessoas para se adaptarem a falta destes sentidos (visão e civilidade) e o preço a pagar por isto. Mais do que tudo, é uma reflexão dos valores humanos na medida em que são obrigados a confiar um nos outros para continuarem a sobreviver com a diferença do que eram para o que se tornaram, obrigados a rever valores morais e humanos indistintamente.




Baseado no livro de José Saramago.
Ensaio sobre a Cegueira
tem a direção de
Fernando Meirelles e o Título original -Blindness

Ano: 2008/ Brasil-Japão-Canadá.

Esquecimento

Ontem à noite, eu falava com minha irmã pelo telefone enquanto ouvia de fundo a voz de minha mãe me advogando:
_Não briga com ele, deve estar muito cansado, por isto esqueceu!.. Mas minha irmã, continuava sem dar ouvido à ninguém, braba com minha falta.
_Tu esqueceste do meu aniversário seu mer...
Meu Deus, era verdade! Esqueci inclusive do dia da semana, do mês, do ano... Como pude esquecer do seu aniversário, da menina que eu trancava dentro do guarda-roupas e que ainda hoje sei que precisa de tanta atenção.

Estranhos de nós mesmos.

Encontrei uma mulher no posto de saúde que assim que teve a oportunidade se aproximou de mim e disse sorridente:
_Acho que não esta lembrado de mim! Sou a sobrinha da Teresinha, a tua amiga, lembra?.. Acho que não vais te lembrar pois eu era adolescente ainda e tu era bem jovem, mas te reconheci, assim que entrastes naquela porta, os olhos, o jeito!..
Depois da surpresa, fiquei buscando, pensando.., meu Deus, claro que não lembrava dela...e nem com um largo esforço conseguí lembrar da adolescente que foi. Falava de coisas em comum e que cruzavam na minha memoria meio reticente, falho, mas que com certeza foram situações que vivenciamos juntos, fechava! Agora era uma mulher feita, uma estranha mulher dizendo-me que se lembrava de mim, de anos atraz em visitas em sua casa, em sua família... Me senti desconfortável, embaraçado, como se estivessemos falando de outras pessoas que não éramos nós, envergonhado pela falta de lembrança, sendo subjugado pelo meu próprio esquecimento, incomodado com o que o tempo faz com a gente: 'Um estranhos de nós mesmo'. E ela continuou, empolgada por ter se lembrado de tudo, feliz por ter me encontrado mesmo me achando mais velho. Talvés meio irritada de eu ter esquecido.

De olhos bem fechados

Eu achava que não era sonho. Eu acreditava que era real e podia ouvir o cavalgar veloz do cavalo negro pelo corredor estreito do pátio de casa durante a madrugada. Era fascinante e assustador. Eu apertava meu corpo contra as paredes da casa, de olhos bem fechados para que ele não me atropelasse e daí eu morreria. Eu sentia o seu cheiro e o vapor que saia de sua boca. Eu nunca acreditei que fosse sonho, sempre pensei que fosse real e até hoje tenho esta dúvida do que de fato acontecia!..

COMO SE FOSSE..

Me acordei cedo para trabalhar sentindo-me tão normal, equilibrado, envolvido nestes conceitos de aceitabilidade para com as coisas que normalmente me ponho contra e me rebelo. Então me veio a letra de uma musica do Fagner na cabeça que ficou presa em mim quase que o dia todo. Nada a ver com que eu sentia, mas ela ficava ali dentro de mim repetitiva, como ave saltando, como se eu buscasse energia para conquistar as estrelas.

"De azul carinho Vi a noite pintada Fosse alegre como ave soltando Fosse triste como ser virgem Fosse linda como a conquista Das estrelas, das estrelas De azul carinho Veio o desenho pintado Jeito de amar desesperado Mais chorando que vivido Como se vivê-la fosse não vê-la."

Fagner/Capinan

Sonrisal na agua

Hoje fui ao teu encontro pensando te achar como ontem, para diminuir minha raiva, pra deitar a cabeça no teu colo e ficar quieto, sem pensar em nada, sem dizer nada, apenas me manter em silencio. Sinto distanciar-me de tudo, afastar-me não sei pra onde, desaparecendo, sumindo, partindo, efervecendo-me como Sonrisal na agua!

FALE COM ELA.

Assisti nesta semana o filme de Almodóvar, Fale com ela e me perguntei pôr que não o tinha assistido antes. Tem perguntas que não temos respostas, assim como presentes que sem razão, deixamos escapar pôr entre os dedos pôr pura desatenção, acho que foi isto que aconteceu. Desatenção, nada mais explica!

O filme é maravilhoso, um convite ao espectador entrar dentro do universo humano feminino e conhece-lo sem esperar retorno imediato pois o ganho vem de si mesmo., no silencio, no amor. Almodovar esmiuça o universo masculino feito de sentimentos como solidão, desamparo e renúncia amorosa. Para perscrustá-lo, inverte alguns sinais e dá a seus dois protagonistas características femininas. 
Marco não só é sensível ao extremo e chora pôr situações que qualquer outro homem habitualmente não choraria, como Benigno, que parece ser efeminado ou mesmo assexuado. Explora magnificamente a incomunicabilidade nas relações, o dar e sentir sem a possibilidade de retorno. Você pode estar se perguntando o que pode haver de surpreende e polêmico em um filme onde duas mulheres estão em coma e dois homens trocam experiências sobre a vida, acredite, nas mãos de Almodóvar muita coisa. 

Fale com ela conta ainda com uma participação especial de Caetano Veloso, que tem sua música (cucurrucucu paloma) inserida no filme de forma apaixonante, e ainda numa cena de toureada magnifica, Elis Regina empresta sua voz na musica "Por toda a minha vida"- de Tom Jobim. Sem me estender muito, aconselho a não fazer como eu de ficar tanto tempo sem assistir o filme. Surpreenda-se!

...Engrenando...

Depois de um dia de trabalho:
  1. Futebol de salão e gritos da torcida no club.
  2. Duas cervejas Bock bem geladas.
  3. Vaca atolada entre colegas alegres.
  4. Um chá quente e amargo para evitar a azia.
  5. Almadovar ao chegar em casa.
Vou tentar dormir para um novo dia de trabalho!..

O leitor

Depois eu conto!.. Mas acho que não estou a fim de contar. Não vou contar! Parece que tem coisas que queremos guardar só pra gente!

Cores de Almodovar e Frida Kahlo

Acordei pensando em quanto necessita-se para ser feliz. Muito.., pouco.., muito pouco ou apenas pouco de muito que exigimos?.. Então desisti de pensar nisto, tomei o rumo da rua e me fui em busca de um objetivo. O objetivo naquele momento era encontrar uma locadora nas redondezas do qual pudesse pegar um filme e assistir tranquilo na cama enquanto a chuvinha enssoça persistia em cair. Talvés um vinho?... Não!, vinho bebi ontem depois que todos sairam!.. Viver sozinho parece te dar uma dimensão maior de liberdade que percebi ser falsa, uma média amplitude do que fazer em prol de si mesmo nos dias de folga, nos dias em que não se está muito afim de abraçar obrigações necessárias e rotineiras. Daí, surge a perspectiva de estar a deriva num grande mar de possibilidades e ainda em duvidas pra onde se jogar... A única locadora aqui perto, porém longe, estava fechada, sobrou-me então olhar a vida, as pessoas caminhando caladas pelas calçadas molhadas, as árvores, as praças, a chuva, as cores, as canções que surgem na cabeça.
É, e eu percebi que precisava de muito, muito mais coisas neste momento para estar feliz!
"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores..." - *Adriana Calcanhoto.

Vinho, pinhão, amendoim torrado

Agora que todos se foram, abro a janela e observo a lua escondida entre nuvens., (parece que esta janela virou uma espécie de altar dos meus rituais intimistas!). Bebo uma taça de vinho que ganhei hoje e então sorvo-a com vontade como se engolisse a vida, absorvo-me em mim mesmo, na intimidade de meus pensamentos, na loucura que navego sem pesares. Todos se foram mas ainda percebo suas presenças, seus cheiros, a energia desprendida de seus corpos, seus movimentos pela casa. Todos se foram mas parece que ainda estão por aqui invisíveis, marcando alguma tipo de presença que não vejo, mas sinto vagar no ar. Deixaram suas almas que mais tarde baterão minha porta e irão a procura de seus corpos, que sairam antes. Presentearam-me delicadamente com vinho, pinhão e amendoim torrado.

Areia movediça

Começamos a nos encontrar com uma certa frequência e isto não me fazia mal até eu perguntar-me sobre os por quês. Disse-me que algumas situações semelhantes em nossa infância provocou esta atração de amizade, este reconhecimento interior que nos aproximou a ponto de termos tantas coisas para dizer um ao outro. Mas será que temos mesmo o que dizer um ao outro, será que isto é verdadeiro? Não me sinto suficientemente confiante, aberto para recebe-lo como talvez ele esperasse que eu fosse. Pôr vezes penso estar pisando em areia movediça e então me disponibilizo pela metade, me ponho em alerta como um guardião esperando o momento de afastar ou eliminar a fera do meu espaço.

Conjugar o verbo morrer

Eu sei, tu sabes e acho que todo mundo sabe que um dia iremos morrer embora seja difícil conjugar este verbo no "nosso tempo" e de que forma acontecerá. Abandonaremos esta carcaça velha e partiremos para algum lugar com nossa alma, espírito ou sei lá como chamar, intacto, jovem, como se nenhuma alteração tivesse sofrido com o decorrer do tempo, ao contrario do nosso corpo que vem perecendo dia após dia. Mas fico pensando também, que se depois de mortos, não tivermos mais esta consciência dos dias em que vivemos por aqui, na terra, perderemos toda a referência, as lembranças boas e más, os amores, os amigos e aí que graça tem?... É como ganhar o prêmio Nobel sem nunca sabermos que ganhamos, ser reconhecido por algo somente depois de morto, como os pintores do século passado que nunca souberam que viraram gênios de suas obras. Será que o premio final é isto, a inconciência de tudo que somos e que vivemos? Ontem à noite quando atendi um homem atropelado na avenida e percebi que não havia mais vida naquele corpo, jogado sobre uma poça de sangue e que uma de suas pernas fora amputada e arremessada do outro lado da calçada, percebi também a fragilidade das coisas e a rapidez com que se transformam em outras. Ali estirado, não parecia ser gente, era um pedaço de carne ensanguentada e imóvel. Cobri seu corpo com um lençol e afastei-me repetindo pra mim mesmo que era um homem e que talvés nem percebera que havia chegado a sua hora.

De mãos dadas

Vi na rua uma idosa com a expressão preocupada segurando a mão de um menino que carregava uma bola. Ele tinha o olhar inocente e perdido. Esta cena comum fez-me lembrar de minha avó que dizia proteger-me do mundo e das maldades da vida. Hoje eu sei que ela protegia-me inclusive de mim mesmo.

Nova esperança

Por vezes sonho acordado e estes sonhos são tão reais que fazem-me acreditar que não me levarão às margens das impossibilidades, daquilo que minha mão não alcançará por estar além do seu alcance. Mas sei que são desejos que me absorve a alma, agita meus hormônios, meu sangue na perspectiva de um novo caminho. O dia também se fez novo por aqui, iluminado com o nascimento do sol e pássaros cantando na minha janela. Esta sinfonia não deve ser em vão. Daí veio então esta canção na lembrança, que ouvi algum tempo, na voz de Elis, enquanto eu abria a janela:

"Nova esperança, bate coração, renascer cada dia como a luz da manhã. Despertar sem medo, enganar a dor. Disfarçar essa mágoa que anda solta no ar...

Ter que acreditar no regresso da estação, como o sol volta a brilhar, como as chuvas de verão. Ter que acreditar só pra ter razão. De sonhar mais uma vez...

Nova esperança, bate coração, Renascer cada dia como a luz da manhã. Semear a terra, certo de colher, da semente o fruto, depois descansar..."


A visita inesperada

Margarita chegou em minha casa depois que toda a visita já tinha ido embora. Tinha o olhar da desconfiança e os movimentos cuidadosos de quem procurava pistas incriminadoras, de quem é vítima de fantasmas que criou a cerca de minha vida. As vezes penso que minha alegria é sua tristeza, que minha liberdade sua prisão. Margarita é boa gente, mas não se liberta destes fantasmas que a aprisionam-na e que talvez nunca se livre em minha companhia.

Sim, não

Wladmir e eu voltávamos de algum lugar que agora não lembro, mas sei que chovia muito e eu podia ouvir o ruído dos pneus dos carros esmagarem as possas d'água sobre o asfalto negro da avenida Ipiranga. Luzes e faróis se refletiam no chão molhado e multiplicavam imagens indecifráveis e o vento com chuva fina batia-me no rosto enquanto eu contava em silencio os postes que iluminavam o inicio da noite sobre as calçadas. Então me bateu um sentimento de esvaziamento interior, (aquela) vontade louca de parar sem olhar para os lados. Parar com tudo em que me envolvi nesta nova fase de vida e que agora já acho velha, porque houve desgaste, porque virou rotina, uma ressaca de uma embriaguez que foi gostosa mas que pouco a pouco tem causado um mal estar crescente. Simplesmente bater a porta e sair andando sem também olhar para traz, decidido. Debulhar a vida, devolver-me a sensação agradável do que realmente vale a pena e ir para algum lugar em busca disto.

Repensando

A morte do astro Michel Jackson, o infarto do meu colega de quarenta e cinco anos, internado na UTI e o comentario do Nilson na janela da ambulancia enquanto partíamos apresados para um novo atendimento,... (_É, a gente precisa ter uma vida melhor e se preparar para uma velhice digna!) me fez parar e pensar em como realmente estamos despreparados para surpresas como estas em nossas vidas!...

Cantorias e cabernet sauvignon

Hoje é Sábado e então brotou-me até uma pequena indignação quando cheguei em casa do trabalho e percebi que não havia programado nada para esta noite. Os poucos telefones que tentei quando me dei por conta, diziam com aquele voz eletronica e me irritavam profundamente:
_Este telefone está desligado ou fora da área de cobertura, pôr favor, tente mais tarde!.. _Este telefone não está programado para receber ligações!.. _Não foi possível completar sua ligação, tente mais tarde!..
Pareciam estarem todos eletronicamente 'configurados' contra meus planos de sair. Na verdade não sabia exatamente o que gostaria de fazer mas... Sobrou-me então uma garrafa de cabernet sauvignon guardada no armário e as cantorias de Vital Farias para que eu me (desconfigurasse) deste clima de impossibilidades. Um brinde!

Cotidiano

Na quinta-feira, não sei por que razão fiquei tão angustiado em deparar-me com aquela cena comum em familia, com aquele cotidiano que absolutamente não era o meu e provocou-me inusitado sentimento de desordem pessoal.
Xícaras com resto de café sobre a mesa, que havia sido bebido recentemente, a TV ligada no programa "A Grande Familia," cobertores no sofá para aquecerem os pés. Fiquei deslocado de tudo aquilo, esperando o momento certo de dizer adeus e sair correndo pra rua. Já em casa e envergonhado da minha atitude, percebi que não encontraria jeito e palavras para levantar o telefone e pedir desculpas.

CAMINHADA SEM FIM.

Sentado no hall do edifício eu admirava a rua, as pessoas e alguns carros que trafegavam por ali e por um breve instante, senti um aperto no peito. Sim, às vezes sinto isto, uma dor que não é física, mas que defino pessoalmente como um aperto na alma, como se fosse saudades ou talvez melancolia de algo que nem sei o que é. Eu olhava a rua mas não percebia mais o que se passava nela pois meu olhar ultrapassava a parede envidraçada e se distanciava para outro lugar, muito, muito longe dali. 
E eu caminhava agora ofegante, pôr ruas estreitas e de pedras antigas onde homens e mulheres negras vendiam comida e usavam roupas coloridas diante de casas também coloridas de um amarelo, azul e vermelho vibrantes e percebia que eu não estava mais na minha rua, na minha cidade, no meu estado mental normal. Eu caminhava quieto e com uma sensação de alegria contida, mas também retraído, entre a multidão de pessoas, para que não percebessem que eu estava fora do meu lugar, naquela viagem fora do meu tempo real e com medo de ser descoberto. Ao mesmo tempo eu me perguntava, na tentativa de restabelecer alguma segurança, (quem saberia que eu não era dali, a não ser eu mesmo?) Surgiam alguns lapsos de memória e eu perguntava-me perplexo o que eu fazia ali, o que eu procurava? Já estava cansado quando parei de caminhar e procurei um pouco de fôlego para continuar, continuar, continuar esta caminhada sem fim...

É, a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela!..

É, as vezes a gente quer dizer tantas coisas e não diz absolutamente nada, apenas fica calado pensando em dizer... Acho que não sou o único a sentir isto e nem serei o ultimo desta fila, mas dai encontrei Gonzaguinha no Youtub que colocou de forma criativa e sensível um pouco deste sentimento que é de todos nós.

Fora de Ordem

As vezes quando me dou pôr conta, me encontro as avessas, e então surge a sensação de que estou inadequado em meu próprio espaço e que não pertenço a esta cidade, a este pais e que se não fosse um absurdo total, diria ate não pertencer a este mundo. Fico meio fora de ordem, assistindo tudo a minha volta como um vídeo que aos poucos vai perdendo a cor e pôr fim a nitidez. Será que o mundo virou de cabeça para baixo e eu não sei?..
"...E o cano da pistola
Que as crianças mordem
Reflete todas as cores
Da paisagem da cidade
Que é muito mais bonita
E muito mais intensa
Do que no cartão postal...

Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial..."
Caetano Veloso.


NÁUFRAGOS.

E de repente um cheiro peculiar me levou para um outro lugar e eu segurava teu rosto com as duas mãos espalmadas fixando meus olhos dentro dos teus meio assustados com a minha atitude inesperada. E nós estávamos nus sobre a areia quente de um deserto que inexplicavelmente começou a brotar grama por todos os lados e foram crescendo tão rápido que nos cobriu por inteiro. O Sol virou nuvem e então ficou frio. E eu me deitei no chão em posição fetal e tu tentavas me cobrir com o teu corpo dizendo: _Acorda, acorda, não durma!.. E eu não queria acordar, só queria ficar ali quieto e morrer sem acordar com o teu corpo sobre o meu feito lápide.

LA DOLCE VITA DE FELLINI E A ULTIMA CENA.

Estive pensando que o mundo é cheio de símbolos e que a vida da gente é cheia de situações simbólicas, de comunicações falhas e pouco compreendidas, dificultadas por mecanismos externos que por vezes não identificamos de onde vêem e que afetam a nossa sensibilidade e percepção. Dai, sobra a escolha que mais se adequa aos nossos anseios imediatos, mesmo que depois viemos a nos arrependermos... 
Lembrei disto ao rever ontem a cena final do filme 'La Dolce Vita' de Fellini, que pra mim é um dos melhores.
Observe a tentativa de comunicação entre a menina Beatrice e Marcello na beira da praia, prejudicada pelo ruido do vento e do mar e evidentemente pelo seu próprio desinteresse em ouvi-la, de compreender o que a garota estava querendo lhe dizer. 

Observe o olhar da menina depois que ele se afasta, observe seu ultimo olhar, lançado na nossa direção perguntando-nos se também desistimos, se perdemos a inocência ou a razão de viver.




Esperando Godot

Então eu corri as pressas para casa na ânsia de deixar quase tudo que a mim me cabia, pronto. Poderia ter sido uma noite agradável de sorrisos e vinho tinto se não fosse a ligação desanimadora desmarcando tudo em cima da hora e a outra que fiquei esperando e não recebi. Sobrou apenas cinzas da expectativa desfeita e uma garrafa de vinho que beberei mais tarde, como Wladimir e Estragon na estrada, esperando Godot!

Pode ser que tudo mude quando chegares em casa

Pode ser que tudo mude quando tu chegares em casa e leres no espelho do banheiro com creme dental -Eu te amo!
Pode ser que tudo se transforme quando alguém te disser que teu café tem um sabor especial e que ninguém faz igual.
Que teu corpo é mais quente...
Que teu olhar tem mais luz que os outros olhares...
Que teu sexo é mais gostoso...

E aí tu ficarás pensando pra onde tudo isto vai te levar e que tipo de responsabilidade tens sobre tudo isto!
Basta ouvir: - Eu te amo?

Fato curioso

Mandaram-me esta semana, um motorista novo, para trabalhar comigo, chamado Gil e então durante um agitado atendimento de um paciente com falta de ar, gritei por seu nome para que me alcançasse algumas coisas que eu precisava no momento. Havia entre as pessoas que estavam a nossa volta observando o atendimento, uma senhora que ao virar-se e olhar curiosa para os meus cabelos volumosos disse para uma outra a o seu lado: _Ele deve ser o Zé Ramalho!

Mascara de Paz e paciência

Meu colega de trabalho andou me achando um tanto ansioso nestes poucos dias que trabalhamos juntos, depois de seu retorno das férias, inclusive não me permitia usar com frequência o rádio de comunicação, somente quando era extremamente necessário. Disse-me que eu ficava muito estressado e tornava-me agressivo pôr motivos às vezes desnecessários. Fazia brincadeiras provocando meu senso de humor. Eu bem que me esforçava para melhorar e evitar que alguns enguiços funcionais e pessoais me atingissem , mas em alguns momentos era difícil impedir que me afetassem de maneira a sentir muita raiva e me deixasse angustiado e insatisfeito com tudo. Então me mostrava mais calado e ausente, transformado em alguém que não sou e que os outros desconhecem, usando mascaras que simulavam paz. Mas alguns dias depois, fiz um atendimento que surpreendentemente salvou minha (auto-estima), então pude me livrar dos enguiços e retirar minhas mascaras de vez...

Fuso-horários

Algumas pessoas parecem viverem num fuso-horário diferente da gente, mesmo vivendo no mesmo país, na mesma cidade e com isto provocando desencontros absurdos que te fazem surtar se não estivesse embuido de paciência e esperança cristã. No momento em que tu precisas fazer um contato, não atendem ao telefone pôr que estão dormindo, se tu ligas mais tarde estão no banho e liga de novo o telefone está ocupado e liga mais uma vez saiu para o supermercado, o celular desligado, até tu desistires de vez e entregar este encontro, a sorte, ao acaso, a coincidência de tropeçarem na mesma calçada exclamando com surpresa:
_Meu Deus, tu pôr aqui, precisava demais falar contigo hoje, mas tu não me liga!
Daí tu tentas explicar que tentou mas não consegue por que recebe uma avalanche de explicações misturadas com problemas simples mas inaceitáveis.
_Precisamos conversar, mas agora estou com presa, minha vida está uma loucura, nem te conto. Vê-se me liga, estou sempre em casa! Tu não me ligas!..
Tic-tac, tic-tac, este é o ruído de um relógio, ou de uma bomba pronta para explodir e acabar com tudo, inclusive com uma amizade! Brincadeira, não quero ser demasiado irônico, ou digamos venenoso neste comentário! Mas estive pensando que algumas situações na nossa vida se sobrepõe ao nosso entendimento, mesmo sendo simples, humanamente simples de se compreender como atrasos, mal entendidos, desencontros, o difícil é as duas partes se entenderem neste rebuliço de que provocamos.

Chico Maravilha nós estamos por aqui...

Hoje acordei pensando no Chico. Engraçado, devo ter sonhado com ele, pois quando levantei da cama tudo parecia mais iluminado e diferente, como se eu não acordasse agora, em Junho de 2009, mas num dia ensolarado em 1970 e via ele caminhar na minha volta ou então ter falado com ele a poucos minutos. Chico foi um amigo que tive na juventude e que se diferenciava dos outros pela sua alegria de viver e energia com que encarava as coisas e de um espirito transformador. Lembro-me que com ele assisti meu primeiro filme nacional na tela grande do cinema Miramar e que mais tarde virou ícone, "Toda a Nudez Será Castigada- do Jabor." Em 72 ele resolveu criar um jornalzinho quinzenal de rua e que sobreviveu não mais de três meses, era financiado por comerciantes locais da rua onde morávamos e destinava-se alem de propagandas, falar de futebol e fazer fofócas de vizinhos. Organizou também um time de voleibol entre jovens da nossa rua para competir com outros jovens de outros bairros. Soube mais tarde que Chico casou-se, teve filhos, mudou-se para um bairro distante e antes de completar cinquenta anos, morreu de um câncer ósseo. Tocava violão e era fã de Jorge Ben Jor, brincava algumas vezes que as musicas "Fio Maravilha" e "Taj Mahal" tinham sido feitas para ele.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...