Wladmir e eu voltávamos de algum lugar que agora não lembro, mas sei que chovia muito e eu podia ouvir o ruído dos pneus dos carros esmagarem as possas d'água sobre o asfalto negro da avenida Ipiranga. Luzes e faróis se refletiam no chão molhado e multiplicavam imagens indecifráveis e o vento com chuva fina batia-me no rosto enquanto eu contava em silencio os postes que iluminavam o inicio da noite sobre as calçadas. Então me bateu um sentimento de esvaziamento interior, (aquela) vontade louca de parar sem olhar para os lados. Parar com tudo em que me envolvi nesta nova fase de vida e que agora já acho velha, porque houve desgaste, porque virou rotina, uma ressaca de uma embriaguez que foi gostosa mas que pouco a pouco tem causado um mal estar crescente. Simplesmente bater a porta e sair andando sem também olhar para traz, decidido. Debulhar a vida, devolver-me a sensação agradável do que realmente vale a pena e ir para algum lugar em busca disto.
Repensando
A morte do astro Michel Jackson, o infarto do meu colega de quarenta e cinco anos, internado na UTI e o comentario do Nilson na janela da ambulancia enquanto partíamos apresados para um novo atendimento,... (_É, a gente precisa ter uma vida melhor e se preparar para uma velhice digna!) me fez parar e pensar em como realmente estamos despreparados para surpresas como estas em nossas vidas!...
Cantorias e cabernet sauvignon
Hoje é Sábado e então brotou-me até uma pequena indignação quando cheguei em casa do trabalho e percebi que não havia programado nada para esta noite. Os poucos telefones que tentei quando me dei por conta, diziam com aquele voz eletronica e me irritavam profundamente:
_Este telefone está desligado ou fora da área de cobertura, pôr favor, tente mais tarde!.. _Este telefone não está programado para receber ligações!.. _Não foi possível completar sua ligação, tente mais tarde!..
Pareciam estarem todos eletronicamente 'configurados' contra meus planos de sair. Na verdade não sabia exatamente o que gostaria de fazer mas... Sobrou-me então uma garrafa de cabernet sauvignon guardada no armário e as cantorias de Vital Farias para que eu me (desconfigurasse) deste clima de impossibilidades. Um brinde!
_Este telefone está desligado ou fora da área de cobertura, pôr favor, tente mais tarde!.. _Este telefone não está programado para receber ligações!.. _Não foi possível completar sua ligação, tente mais tarde!..
Pareciam estarem todos eletronicamente 'configurados' contra meus planos de sair. Na verdade não sabia exatamente o que gostaria de fazer mas... Sobrou-me então uma garrafa de cabernet sauvignon guardada no armário e as cantorias de Vital Farias para que eu me (desconfigurasse) deste clima de impossibilidades. Um brinde!
Cotidiano
Na quinta-feira, não sei por que razão fiquei tão angustiado em deparar-me com aquela cena comum em familia, com aquele cotidiano que absolutamente não era o meu e provocou-me inusitado sentimento de desordem pessoal.
Xícaras com resto de café sobre a mesa, que havia sido bebido recentemente, a TV ligada no programa "A Grande Familia," cobertores no sofá para aquecerem os pés. Fiquei deslocado de tudo aquilo, esperando o momento certo de dizer adeus e sair correndo pra rua. Já em casa e envergonhado da minha atitude, percebi que não encontraria jeito e palavras para levantar o telefone e pedir desculpas.
CAMINHADA SEM FIM.
Sentado no hall do edifício eu admirava a rua, as pessoas e alguns carros que trafegavam por ali e por um breve instante, senti um aperto no peito. Sim, às vezes sinto isto, uma dor que não é física, mas que defino pessoalmente como um aperto na alma, como se fosse saudades ou talvez melancolia de algo que nem sei o que é. Eu olhava a rua mas não percebia mais o que se passava nela pois meu olhar ultrapassava a parede envidraçada e se distanciava para outro lugar, muito, muito longe dali.
E eu caminhava agora ofegante, pôr ruas estreitas e de pedras antigas onde homens e mulheres negras vendiam comida e usavam roupas coloridas diante de casas também coloridas de um amarelo, azul e vermelho vibrantes e percebia que eu não estava mais na minha rua, na minha cidade, no meu estado mental normal. Eu caminhava quieto e com uma sensação de alegria contida, mas também retraído, entre a multidão de pessoas, para que não percebessem que eu estava fora do meu lugar, naquela viagem fora do meu tempo real e com medo de ser descoberto. Ao mesmo tempo eu me perguntava, na tentativa de restabelecer alguma segurança, (quem saberia que eu não era dali, a não ser eu mesmo?) Surgiam alguns lapsos de memória e eu perguntava-me perplexo o que eu fazia ali, o que eu procurava? Já estava cansado quando parei de caminhar e procurei um pouco de fôlego para continuar, continuar, continuar esta caminhada sem fim...
É, a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela!..
É, as vezes a gente quer dizer tantas coisas e não diz absolutamente nada, apenas fica calado pensando em dizer... Acho que não sou o único a sentir isto e nem serei o ultimo desta fila, mas dai encontrei Gonzaguinha no Youtub que colocou de forma criativa e sensível um pouco deste sentimento que é de todos nós.
Fora de Ordem
As vezes quando me dou pôr conta, me encontro as avessas, e então surge a sensação de que estou inadequado em meu próprio espaço e que não pertenço a esta cidade, a este pais e que se não fosse um absurdo total, diria ate não pertencer a este mundo. Fico meio fora de ordem, assistindo tudo a minha volta como um vídeo que aos poucos vai perdendo a cor e pôr fim a nitidez. Será que o mundo virou de cabeça para baixo e eu não sei?..
"...E o cano da pistola
Que as crianças mordem
Reflete todas as cores
Da paisagem da cidade
Que é muito mais bonita
E muito mais intensa
Do que no cartão postal...
Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial..."
Caetano Veloso.
Que as crianças mordem
Reflete todas as cores
Da paisagem da cidade
Que é muito mais bonita
E muito mais intensa
Do que no cartão postal...
Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial..."
Caetano Veloso.
NÁUFRAGOS.
E de repente um cheiro peculiar me levou para um outro lugar e eu segurava teu rosto com as duas mãos espalmadas fixando meus olhos dentro dos teus meio assustados com a minha atitude inesperada. E nós estávamos nus sobre a areia quente de um deserto que inexplicavelmente começou a brotar grama por todos os lados e foram crescendo tão rápido que nos cobriu por inteiro. O Sol virou nuvem e então ficou frio. E eu me deitei no chão em posição fetal e tu tentavas me cobrir com o teu corpo dizendo: _Acorda, acorda, não durma!.. E eu não queria acordar, só queria ficar ali quieto e morrer sem acordar com o teu corpo sobre o meu feito lápide.
LA DOLCE VITA DE FELLINI E A ULTIMA CENA.
Estive pensando que o mundo é cheio de símbolos e que a vida da gente é cheia de situações simbólicas, de comunicações falhas e pouco compreendidas, dificultadas por mecanismos externos que por vezes não identificamos de onde vêem e que afetam a nossa sensibilidade e percepção. Dai, sobra a escolha que mais se adequa aos nossos anseios imediatos, mesmo que depois viemos a nos arrependermos...
Lembrei disto ao rever ontem a cena final do filme 'La Dolce Vita' de Fellini, que pra mim é um dos melhores.
Observe a tentativa de comunicação entre a menina Beatrice e Marcello na beira da praia, prejudicada pelo ruido do vento e do mar e evidentemente pelo seu próprio desinteresse em ouvi-la, de compreender o que a garota estava querendo lhe dizer.
Observe o olhar da menina depois que ele se afasta, observe seu ultimo olhar, lançado na nossa direção perguntando-nos se também desistimos, se perdemos a inocência ou a razão de viver.
Lembrei disto ao rever ontem a cena final do filme 'La Dolce Vita' de Fellini, que pra mim é um dos melhores.
Observe a tentativa de comunicação entre a menina Beatrice e Marcello na beira da praia, prejudicada pelo ruido do vento e do mar e evidentemente pelo seu próprio desinteresse em ouvi-la, de compreender o que a garota estava querendo lhe dizer.
Observe o olhar da menina depois que ele se afasta, observe seu ultimo olhar, lançado na nossa direção perguntando-nos se também desistimos, se perdemos a inocência ou a razão de viver.
Esperando Godot
Então eu corri as pressas para casa na ânsia de deixar quase tudo que a mim me cabia, pronto. Poderia ter sido uma noite agradável de sorrisos e vinho tinto se não fosse a ligação desanimadora desmarcando tudo em cima da hora e a outra que fiquei esperando e não recebi. Sobrou apenas cinzas da expectativa desfeita e uma garrafa de vinho que beberei mais tarde, como Wladimir e Estragon na estrada, esperando Godot!
Pode ser que tudo mude quando chegares em casa
Pode ser que tudo mude quando tu chegares em casa e leres no espelho do banheiro com creme dental -Eu te amo!
Pode ser que tudo se transforme quando alguém te disser que teu café tem um sabor especial e que ninguém faz igual.
Que teu corpo é mais quente...
Que teu olhar tem mais luz que os outros olhares...
Que teu sexo é mais gostoso...
E aí tu ficarás pensando pra onde tudo isto vai te levar e que tipo de responsabilidade tens sobre tudo isto!
Basta ouvir: - Eu te amo?
Pode ser que tudo se transforme quando alguém te disser que teu café tem um sabor especial e que ninguém faz igual.
Que teu corpo é mais quente...
Que teu olhar tem mais luz que os outros olhares...
Que teu sexo é mais gostoso...
E aí tu ficarás pensando pra onde tudo isto vai te levar e que tipo de responsabilidade tens sobre tudo isto!
Basta ouvir: - Eu te amo?
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