O CHEIRO DO RALO

Às vezes algo me falta, muitas coisas me faltam até o término do dia, da semana e esta procura exaustiva me deixa quase sem forças, quase desistindo, até eu me dar por conta, de que nada é possível fazer a não ser aguardar, esperar por um novo dia, como quem aguarda o inevitável, o que não se pode mudar, o que está sendo conduzido por forças que eu desconheço. E ai fica aquela sensação de estar sentindo inevitavelmente o cheiro do ralo, e o cheiro do ralo podemos com o tempo, sentir uma certa doçura.


O PODER DAS LETRAS

Eu sei que as coisas não deveriam correr para este lado do rio, mas existem frases, textos, ideias que leio e que modificam toda a minha ideia e conduta para com seus autores. Na pratica, eu tenho medo de estar fazendo um julgamento precipitado, resumido e errado à respeito, mas o poder das letras são tão poderosas, que me faz recuar das possíveis constatações negativas que poderão surgir a cargo do tempo.

PÁSSAROS PRESOS

Existe um cheiro peculiar em cada arvore que eu abraço, em cada rua que entro, uma sinfonia em cada vento que sopra criando notas musicais nunca ouvidas por mim antes. Tenho um nó preso na garganta a me arranhar e quem não o tem, não faz parte deste mundo.
As vezes desconfio que  a natureza trabalha silenciosa, para que libertemos pássaros engaiolados do nosso interior. Solta-los dói. Mante-los preso nos asfixia até a morte.


SENTIMENTOS DE INVERNO

Quando chove tanto assim, me perece que é chuva de Julho, que forma lago nas praças e calçadas desta cidade, misteriosa sinfonia de sapos, meninas olhando o mundo por traz da bruma na vidraça, brasa no fogão a lenha, café preto perfumando o ar, pão torrado com margarina, lampião de querosene pendurado na parede, com discreta luz querendo se apagar...


IDAS E VINDAS.

Então eu sinto nossas desigualdades como fórmulas matemáticas incompletas, nestas equações de verdades e de sentimentos que correm inexplicavelmente de uma ponta a outra da vida e no sentido contrario. Desencontros que revelam nossas diferenças, enquanto vais em tuas Idas e eu volto arrastando lembranças de outros tempos em que parecíamos seguir numa mesma direção. Tempos também de solidão, de pensamentos de inverno, de nuvens escuras e espessas no horizonte, de olhos ressecados ao vento, que por sorte, alguns verões lhes deram brilho, viçosidade. Tenho a sensação de que um dia, cruzaremos um pelo outro e bateremos nossas mãos acidentalmente na rua. Nos olharemos surpresos olho no olho, com a impressão de que nos conhecemos de algum lugar do passado...
Sabe? Nada disto é triste, são apenas constatações de que nos deslocamos para pontas opostas nesta vida, construindo o que somos hoje, seres humanos diferentes.


AMARRANDO O CELULAR NA TESTA

Não tenho mais paciência e antes que eu tenha uma crise de estres, estou começando a não aceitar mais convites de pessoas que vivem de celular na mão o tempo todo, desatentas a qualquer bate-papo que inicio com elas.
Na verdade, isto é muito constrangedor e qualquer assunto, se fragmenta e morre quando é percebido a desatenção. Pessoas com este perfil, já se contaminaram com a mentira de que não estão sozinhas, de que são populares, de que são amadas por estarem cercadas de gente, que curtem tudo o que elas postam, sem ao menos lerem o que foi escrito.
Gente fora de moda, como eu, que dá importância a atenção, a o olho no olho, deveria ir viver numa ilha deserta e longe dessas modernidades ou então, amarrar o celular delas na minha testa, para  dar a sensação de que estão me olhando no rosto, enquanto estamos falando.


CENAS COMUNS DO COTIDIANO.

Acordar cedo e abrir a janela... Numa determinada hora, a noite divide espaço com o dia e tem uma cor diferente, uma cor cinza pálida mesclado em sombras, que parece uma película de filme antigo a rodar na tela quadrada da janela. As imagens passam fragmentadas sob a luz dos raios frágeis do sol que começam a despontar do outro lado do infinito.
Na rua, o homem cruza decidido, o cachorro fareja qualquer coisa pelo chão, o casal de namorados se abraçam e bocejam no portão.  Pra onde vão todos, o que o cachorro procura?
Engraçado ver a vida assim, sob uma aresta diferente, um toque de enigma no que é vitalmente comum ao cotidiano.
Observar as pessoas, mesmo que a distancia, nos revela verdades e mentiras, nos aproxima do humano que todos somos, um toque de despedida que se espalha na alma.


NÃO É O SHORTINHO, É O QUE ELE REPRESENTA.


Quando eu li e também ouvi, a grande quantidade de comentários, alguns inclusive de pessoas da minha relação, escrevendo nas redes sociais, frases tendenciosas e de repudio, ao protesto feito pelas meninas "burguesas" do colégio Anchieta, que se reuniram no patio da escola com cartazes em protesto a proibição de usarem shortinhos nas dependências  da instituição, porque desviava a atenção dos meninos e professores, eu juro que fiquei de cara e não pensei que isto viraria sopa de letrinhas num caldo de discussões. Muitos comentários na Internet diziam que se tratava de um protesto de quem não tinha o que fazer e que deveriam protestarem por coisas mais serias, como a má qualidade do ensino no país, que não é mais mérito apenas das escolas publicas, etc., etc., etc..

E eu fiquei pensando nas opiniões que se divergiam,  nos que acreditavam se tratar de uma luta em defesa dos direitos da mulher e nos que argumentavam ser algo sem fundamentação. Dai que percebi como as pessoas não repararam que esta atitude era apenas simbólica, por que representava muito mais do que a aceitação ou não de um tipo de roupa considerado pelas grande massas, como obsceno e que ofende os pudores da sociedade moralista, porque se trata de uma luta contra a diminuição e controle da liberdade das garotas e/ou (mulheres) de usarem aquilo que se sentem bem, como uma forma de se expressarem, sem que sejam responsabilizadas pelos descontroles emocionais dos outros e de toda uma sociedade machista e escrupulosa. É inaceitável que as mulheres sejam responsabilizadas pela distração ou desrespeito dos homens, em qualquer âmbito de convivência, (na escola, no trabalho ou na rua), pelas roupas que escolheram vestir. Não é o shortinho que incomoda, é o que ele representa na cabeça de cada individuo.
Será que se uma menina usando shortinho ou mini saia, for vista andando na rua e chamar a atenção de algum motorista tarado, que atropela meia duzia de pessoas numa parada de ônibus, será responsabilizada pelo acidente?.. Olha que não é de se duvidar que seja responsabilizada!

VIVA, PENSE, OBSERVE? LOGO VOCÊ EXISTE.


Uma das coisas que prova que um homem está vivo e que ele existe, está na liberdade de seus pensamentos, na sua capacidade de observação e no interesse de desvendar os mistérios do mundo que o cerca e sentir de que forma se relaciona com isto. Este é um processo de evolução pessoal acompanhado de pequenas revoluções a serem vencidas a cada minuto de reflexão sobre a vida.
Conhecer pessoas, atuar nos mecanismos de convivência e descobrir novas culturas, faz parte deste contexto de ideias que o joga contra os paradigmas que o faz navegar pela vida.
O desejo de mover-se, de conhecer lugares, de descobrir outros hábitos sociais e culturais,  o faz reconhecer-se, transformar-se num ser humano mais flexível diante das escassas respostas, que  o faz modificar-se a cada nova experiencia vivida.

BECO ESCURO.


Então de um momento para o outro, me vi num beco escuro, sem saber que rumo tomar; Voltar ou prosseguir? Afinal aquele era um corta caminhos que reduziria em muito a distancia até a minha casa. De longe avistei lampiões pendurados em pequenos sobrados antigos, cuja a luminosidade pouco ajudavam na minha escolha de por onde iria seguir. Respirei fundo e pensei então que em outros momentos da minha vida, acharia este lugar tão inspirador para me influir em qualquer coisa poética, mas não agora. Aquele não era o momento de eu estar naquele lugar, para motivações criativas. Precisava sair dali em busca de claridade, de luzes intensas que iluminassem meus passos e até a minha própria alma assustada. Precisava restabelecer a segurança de mim destituída. Fui. Uufaaa!..
De onde vinha esse temor que me tornara tão vulnerável, me perguntei a o chegar do outro lado mais seguro e iluminado do beco. O escuro, a visão comprometida, a duvida de que no próximo passo, poderia ser assaltado e morto?.. 
Não, isto tudo são falsos flash back inventados pelo medo do desconhecido. Pior, são as incertezas que vão abrindo buracos e me matando antes de eu ser realmente morto.

AMIGOS AUSENTES SÃO APENAS BOAS LEMBRANÇAS.


"Dizem que os amigos verdadeiros passam longos períodos sem se falar e jamais questionarão a solidez da amizade, Quando eles se encontram, independentemente do tempo e da distancia, parece que se viram ontem. Entendem que a vida é corrida e que a fina poeira dos dias jamais encobrirá o que você sente por eles". 

Este texto andou rodando pela internet algum tempo e sempre que o lia, suas palavras não me convenciam. Eu ficava tentando encaixa-lo em alguma brecha da minha aceitação, me perguntando se ele se definia como  uma verdade pra mim, se cabia no conceito que tenho de relação verdadeira e em tudo mais que eu acredito ser importante para a manutenção do afeto entre as pessoas e ele não coube, não fechou, não me convenceu, deixando entre aberta as gavetas da minha desconfiança.
Vendo tantas pessoas curtirem este texto, tão desprendido, tão tolerante, tão consolador no Facebook, é o que ele me passa, eu cheguei a me perguntar: Será que eu é que sou tão egoísta, achando que uma relação só é possível se estabelecendo elos de convivência? Pelo menos uma rotina para nos por em prova!.. Será mesmo que o tempo e a distancia agregada ao que se pré supõe uma falta de convivência, não enfraqueceria qualquer relação, inclusive a de amizade entre as pessoas?
Será que a falta de um "Olá como você está".  Uma conversa de olho no olho, são dispensáveis para se manter vivo e perpetuar os sentimentos?.
Não, não, eu questionaria a solidez dessa amizade, porque eu preciso de mais. Preciso de um corpo físico, de carne e osso diante de mim, para poder tocar, abraçar, sentir o seu calor, a respiração e suas nuncias de voz, e de expressão. Distancia pra mim é separação e separação é sofrimento quando gosto de alguém.
Vivemos num mundo, onde cada vez mais, nos afastamos do dialogo e do contato físico com as pessoas, nos estigmatizando a o imediatismo e o superficial, pela falta de tempo, pelo individualismo, pela timidez, pela falta de confiança que adquirimos dos tempos modernos e isto é necessário revermos. Por outro lado, temos a nossa disposição, ferramentas competentes para lembrar pros amigos, que ainda estamos  vivos e ficarmos cientes de que eles também estão. Uma cutucada online aqui, outra cutucada online ali.., uns desenhos animados capazes de informar o nosso estado de espirito e até nossos secretos sentimentos.
Não precisamos mais de gente que nos procure para conversar, para nos dar um abraço de alegria, ou o ombro para chorarmos. Nos tornamos cibernéticos. Temos medo de nos expormos, de invadirmos e sermos invadidos. Essas ferramentas uteis, do qual me refiro, simulam a nossa alma e o que estamos sentindo, é só darmos um enter. Talvez seja por isto, que passamos a compreender a falta de tempo, a distancia e outras impossibilidades, pois estas ferramentas simulam uma falsa proximidade. As pessoas estão acomodadas e então criando desculpas
Não consigo ver neste referido texto, nada mais do que um conformismo, um conselho de resignação para o desinteresse, a indiferença, um consolo. Amigos pra mim, são os que mantem vínculos afetivos fortes e presentes, não importa a distancia e a falta tempo. São poucos, mas ainda existem. Portanto, amigos ausentes não são amigos, são apenas boas lembranças.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...