DESCOBRINDO SANTA TERESA NO RIO DE JANEIRO.


Santa Tereza, fica do lado da Lapa, no centro do Rio, dando a impressão de que são um único bairro. Andar por suas ruas, é como estar numa cidade do interior e fora do nosso tempo, casas antigas, ruas estreitas, num passeio da época de glória do Rio de Janeiro antigo. São palacetes,  casarios  e pequenos castelos em estilo europeu, encrustados no morro com uma rica vegetação nativa. Se prestarmos mais atenção, veremos micos (pequenos macaquinhos) correrem nas arvores e fios de alta tensão, nesta região, considerada zona urbana carioca.
Eu fico imaginando se ainda tivesse o bonde circulando por suas ruas estreitas e sinuosas... Alias, a volta do bonde, é uma reivindicação permanente dos moradores, que desejam a sua volta, percebido quando se anda pelas ruas e observa-se cartazes em lojas, outdoors, pinturas em muros,  panfletos com poemas em postes e até no meio das ruas entre trilhos, o pedido de seu retorno, que parece ser alma de Santa Teresa e seus moradores.


O bairro surgiu à partir do convento de mesmo nome, no século passado e foi inicialmente habitado pela classe alta da época, numa das primeiras expansões da cidade para fora do núcleo inicial de povoamento, no Centro da cidade.


Por volta de 1850, a região foi intensivamente ocupada pela população que fugia da epidemia de febre amarela na cidade, pelo fato de estar localizado numa região mais elevada, desta forma menos atingida pela epidemia do que os bairros que o circundavam.
Atualmente o bairro vem se transformando num novo polo cultural e gastronômico, principalmente nas imediações do Largo do Guimarães, onde se encontram restaurantes, atelies e botecos da moda.


O boteco do Mineiro, na Rua Paschoal Carlos Magno- 99, é o mais conhecido, por sua informalidade, ambiente festivo e um cardápio de variedades que vai do feijão tropeiro, carne seca com abóbora, tutu à mineira, vaca atolada e alguns petiscos. Para se conseguir uma mesa, é um trabalho de paciência, já que se forma na calçada, uma fila de espera interminável.


Seguindo os trilhos do bonde, morro acima, na direção do bairro Cosme Velho, a mata nativa invade cada vez mais as ruas sinuosas, transformando-se numa bela paisagem bucólica. É a floresta da Tijuca onde encontrei varias pessoas fazendo caminhadas. Em alguns espaços abertos na mata, é possível ver o cristo Redentor de braços abertos sobre a baia da Guanabara e algumas favelas sobre morros vizinhos. Alguns moradores dizem que não é muito seguro fazer este trajeto à pé, mas estava um dia de sol tão convidativo para andar, que não resisti a caminhada morro à cima, quase toda sombreada pelas arvores que em alguns pontos formam tuneis verdes.
No alto do morro nas proximidades do Cristo Redentor existe um belvedere, para se apreciar toda a beleza da cidade. Não tem quem não pare para olhar e tirar fotografias.


Entre tantas visitas que fiz nestes cinco dias hospedados em Santa Teresa, o que mais me chamou a atenção, foi o Parque das Ruínas, na Rua Murtinho Nobre 169. Trata-se de um centro cultural criado em 1997 pela Prefeitura do Rio, numa programação variada de eventos culturais.


O Centro Cultural Parque das Ruínas, foi a casa da grande mecenas da Bela Época carioca, Laurinda Santos Lobo, que sediava grandes saraus em seu palacete, atraindo os mais importantes artistas do país como Villa Lobos e personalidades internacionais como Isadora Duncan que dançou em sua casa.



Conhecida também como a “marechala da elegância”, Laurinda reunia intelectuais e artistas nas magníficas dependências do palacete, que apos sua morte foi invadido, depredado, saqueado até transformar-se em ruínas e hoje é um dos mais belos projetos premiados do arquiteto Ernani Freire, que manteve a estrutura das ruínas agregando contemporaneidade sem apagar a memória histórica e do período de abandono.


Nas áreas internas foram instalados estruturas de vidro e ferro que cruzam os três andares do antigo palacete "em ruínas", dando maior espaço e transparência a estrutura. Do alto da construção, através de uma cobertura envidraçada, se tem uma magnifica vista do Rio de Janeiro e da Baia de Guanabara, outro espetáculo disponível à parte.


Outro lugar imperdível para quem gosta de passeios culturais é o Museu Chácara do Céu, ao lado do Parque das Ruínas. Com um acervo cheio de obras importantes da arte moderna, com exemplares de artistas nacionais e internacionais). Nomes como Di Cavalcanti, Matisse, Degas, Joan Miró, Modigliani e Portinari, estão presentes na casa conhecida desde 1876 como Chácara do Céu. Na casa, uma parte integrada aos jardins, também dá uma bela visão para a baía de Guanabara. Afinal este é um bairro privilegiado por sua altitude, favorecendo a o visitante, uma visão magnifica da cidade maravilhosa.

Até o próximo passeio!

A ESCADARIA SELERON - LAPA E SANTA TEREZA


Foram cinco dias e quatro noites, nos dois bairros mais emblemáticos do Rio de Janeiro: Lapa e Santa Tereza, que são vizinhos, localizados na região central da cidade, conhecidos como berços da boemia carioca e também por suas edificações de inestimável valor histórico e cultural.


LAPA - AQUEDUTO DA CARIOCA:
É na Lapa que se encontra o enorme Aqueduto da Carioca, construído no período colonial, para distribuição de água para a cidade e posteriormente serviu como via para o bonde que ligava o Centro do Rio ao Morro de Santa Teresa. O bonde hoje, está fora de circulação depois do acidente ocorrido em 27 de Agosto do ano passado, vitimando fatalmente algumas pessoas.


OS BAIRROS:
Ao contrario de Santa Tereza, que durante a semana lembra uma cidadezinha do interior, parada no tempo e com fluxo de turistas visitantes e frequentadores de seus bares noturnos nas sextas, sábados e domingos, a Lapa não para nunca, mantendo a efervescência de seus bares e botecos de segunda a segunda, sempre com numerosa circulação de pessoas de diversas tribos que se reúnem para apreciar a boa musica e entrarem no clima da boemia. 

OS BOTECOS:
Visitamos o Boteco do Gomes, na esquina da Rua do Riachuelo com a Gomes Freire, o bar Mofo que usa sua decoração, ambientação e trilha sonora para prestar uma homenagem ao Rio da década de 50, nas paredes, fotos expostas em um painel, na trilha sonora sambas e choros de artistas como Noel Rosa e Cartola. A choperia Brazooca, considerada uma das maiores choperias da Lapa, a casa possui quatro andares em forma de mezaninos, a programação musical é composta por samba.


Muitos desses bares restaurados, mantem suas características dos velhos tempos, através do mobiliário antigo, louças, lustres e fotografias de autoridades do samba, que são ostentados nas paredes como verdadeiras relíquias documentais.


GASTRONOMIA:
A maioria desses botecos e restaurantes apresentam uma variada carta gastronômica como feijoada, rabada, frango à passarinho, provolone à milanesa, pratos a base de frutos de mar, massas, carne-seca com aipim e outros petiscos de botequim, cujos os preços salgados são dirigidos a o publico turístico que não se importa em estar pagando ou não um preço justo pelo que consome. Para se ter uma ideia, numa mesma quadra, podemos encontrar bares vendendo a mesma marca de cerveja, por preços que variam de R$ 4,50 à R$ 9,00-dependendo do tipo de estabelecimento.

RÔ E HELENA NA LAPA

ESCADARIA SELARÓN:
Ainda nas proximidades dos Arcos da Lapa, nome também dado a o Aqueduto da Carioca, na rua Manoel Carneiro, podemos visitar a escadaria do convento de Santa Tereza, toda revestida de azulejos coloridos, pelo artista e ceramista chinelo Jorge Selarón, que depois de viajar por diversos países escolheu o Rio de Janeiro para fazer sua morada permanente.

BATE PAPO INFORMAL
COM JORGE SELERÓN

São 215 degraus, decorados com mais de 2 000 azulejos diferentes, provenientes de diversos países e que são enviados ao artista por apreciadores de sua obra. O mais interessante é que os azulejos são frequentemente trocados, fazendo da obra a originalidade de estar sempre se modificando. 

EU, RÔ E JORGE SELERON

A escadaria foi inicialmente revestida por Selarón em 1994, por ocasião da copa do mundo de futebol e em 2005, foi tombada pela prefeitura da cidade, onde Selarón recebeu o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro. Nesta tarde conversamos sobre o que ele mais gosta de falar: Futebol.

Aniversario do Diário de Bordo.

Hoje dia 13 de Outubro, meu blog está completando cinco anos de existência. Eu dei uma olhada nas postagens que fiz a cinco anos atras e foram duas. Uma homenagem a Porto Alegre, com uma foto do Cais do Porto e a letra da musica do J. Fogaça, "Porto Alegre é demais" e um outro texto chamado "O Fantasma da Rua Liberdade", que eu conto sobre o primeiro contato que tive com um fantasma, quando eu era um adolescente e morava com meus avós. Bom, muitas coisas mudaram nestes cinco anos de blog, inclusive eu que envelheci. Eu pretendia fazer uma festa para comemorar (conforme prometi) junto com meus seguidores, estes cinco anos de literatura barata e cheia de erros de português, mas me perdi entre datas e compromissos assumidos. De qualquer forma terei que adiar, sabendo que sou devedor deste compromisso.

MARATÁ, POR ONDE O TREM PASSAVA.


Neste Sábado fui conhecer com colegas de viagem e alguns amigos, a cidade de Maratá, localizada a 90 quilômetros de Porto Alegre, nas proximidades de Montenegro e Brochier, cidades vizinhas.
Maratá é um termo indígena que significa lugar onde os elementos água e solo, entram em choque, num combate eterno em homenagem à natureza e não é a toa, visto a sua exuberante região de mata nativa preservada, morros e cascatas que se despejam de altos paredões de pedra.


Sua colonização iniciou-se em 1856, quando imigrantes alemães, desembarcados em São Leopoldo, se instalam nas margens do Arroio Maratá, motivados pela beleza do lugar e a possibilidade de terra fértil para implementação agrícola.  Posteriormente em 1909 foi inaugurado um terminal de estação de trem em Maratá, que circulava de Porto Alegre, Montenegro, para Caxias do Sul, desativada no final de 1970.


A vila de Maratá, depois emancipada de Montenegro em 1992, desenvolveu-se com a construção da linha férrea, que transportava produtos e passageiros de toda a região até  Estrela, no vale do Taquari. Pegar o trem na estação do Maratá, era uma opção para as pessoas de Estrela ou Teutônia, que queriam ir até Porto Alegre, por isso; entre 1950 e 1977, havia uma linha de ônibus ligando estas cidades à estação de Maratá, mais tarde com o fechamento da linha férrea, a cidade voltou a cair no anonimato.


Atualmente o município apresenta características comuns a tipica cultura alemã, do qual foi colonizada, ruas e praças muito limpas, arquitetura em estilo enxaimel e algumas poucas construções antigas ainda preservadas, já que a maioria sofreu reformas em função dos tempos modernos.


Maratá faz parte da Rota Microrregional "Caminhos das Velhas Colônias", projeto implantado pelos municípios de Brochier, Salvador do Sul, Barão e São Pedro da Serra, estimulando o turista a conhecer os atrativos de cada cidade através de roteiros culturais, históricos e gastronômicos. 
Ente os principais pontos atrativos da cidade estão:

Parque da Cachoeira Maratá:
Localizado a poucos quilômetros da sede, com acesso pela Rua Erno Pletsch, o Parque possui uma cachoeira com 15 metros de altura, com amplo espaço para Camping com churrasqueiras, banheiros, chuveiros, lancheria e uma gruta em homenagem á Nossa Senhora de Lurdes. Possui trilhas no interior da mata, onde pode-se chegar ao topo da cachoeira ou encontrar uma pequena cascata, escondida ao pé do morro.




Parque Municipal da Cascata Vitória:
Também localizada a poucos quilômetros do centro da cidade com acesso pela Rua Miguel Schneider. A queda d'água tem 30 metros de altura. No local, já funcionou uma usina hidrelétrica, mantida pelos moradores de Maratá entre 1928 e 1938.


O local conta com infraestrutura completa para os turistas com restaurante, churrasqueiras espalhadas pelo Parque, Feira de Produtos Coloniais, ponte pênsil sobre o Arroio Brochier, área de Camping, iluminação, banheiros com chuveiros quentes e trilhas até o topo da cascata.


Ainda passeando por suas ruas, é possível apreciar algumas construções antigas e charmosas, em estilo europeu, do tempo em que o trem por ali passava.

Até a próxima viagem!..

Desencontros.

As veze estamos sozinhos, precisando de uma companhia para dividirmos as angustias ou compartilharmos do silencio e é  ai nestes momentos, que todos parecem estarem ocupados. Telefones não são atendidos, mensagens não retornam, nos condenando a dor e ao isolamento. Que leis são essas que nos amargam desencontros, que nos transformam em bichos acuados? Mas daí que no outro dia, tudo se inverte, o que fazer senão descartar a amargura?..

Sinais proféticos de verdade

É oito horas, eu chego na janela do apartamento à procura de sinais e onde estão os sinais?... Olho pra baixo e vejo o instrutor arrumando as balizas para iniciar sua aula pratica de direção, do outro lado da rua. Olho para a direita e percebo a mesma tranqueira no trafego da avenida Ipiranga, o sol se incidindo na mesma direção sobre a minha janela. Sabe de uma coisa, eu acho que nada vai mudar, se fosse mudar, alguma coisa desta rotina habitual estaria diferente, haveria um sinal mais perceptível. A avenida Ipiranga estaria vazia, ou os carros estariam andando no sentido contrario, o instrutor estaria fazendo peripécias de circo e eu talvez nem estivesse acordado tão cedo como sempre faço. Isto tudo me parece um sinal obvio, de que nada mudou, nem vai mudar tão cedo, haveria de ter um sinal pelo menos surpreendente que me fizesse acreditar em alguma mudança verdadeira.

Um preságio, um mal sinal.

Não, hoje eu não quero escrever mais nada neste blog, alem disto que sai agora como um desabafo, um suspiro de cansaço, por que me sinto esvaziado. Eu comecei a ter esta sensação logo que acordei, mas se evidenciou à tarde, quando minhas vísceras deram os primeiros sinais, que não valorizei, enquanto caminhava sobre aquele grosso tapete de propagandas politicas espalhados pela rua. Era um presagio, um mal sinal Então foram feitas as escolhas e eu me pergunto se era este o resultado que todos queriam? Quando retornava para casa, encontrei um senhor conhecido, que me disse o seguinte; Deveriam nos pagar  para votarmos, já que não elegemos políticos, mas carteis que vão mandar na nossa cidade! Em seguida me veio à cabeça, a ultima lei sancionada pela administração municipal, que restringe o uso do Largo Glênio Peres, um espaço publico tanto tempo esquecido e que pertence a o povo desta cidade, para o uso de manifestações culturais e politicas, que são elementos fundamentais para liberdade de expressão democrática.

Sarau em Guaíba.

Recebi o convite por telefonema ontem de noite e minutos depois, caiu uma chuvarada tão forte, que eu pense; Vão me ligar novamente, desfazendo o convite, mas não aconteceu. Fomos ao sarau da Denise do outro lado do lago. Assisti a apresentação de talentos acomodado na fila de cadeiras pretas, estufadas e fiquei pensando que cada um tem um artista dentro de si que precisa ser mostrado, apreciado, aplaudido, é uma das formas que as pessoas tem de se sentirem amadas, respeitadas e socializarem o que gostam de fazer. Gostei particularmente das apresentação de tangos argentinos acompanhados de teclado e gaitinha de boca e depois de uma outra apresentação solo de gaita e violão (a la Borguetinho). 
Não falei com a Denise que é a curadora do evento, que funciona já a cinco anos no museu da cidade, somente com a sua filha Hana, simpaticíssima, que cantou Esquadros da Calcanhoto no finalzinho do espetáculo e depois saímos com Josué e Welinton para jantarmos. O bate papo animadíssimo  regado a cerveja bock, obrigou-nos a aceitar seu convite para irmos até sua casa e continuar...
Encontramos um violão de desenho delicado, cuja afinação e som especiais são atribuídos a um parafuso que lhe foi colocado. Cantar é muito bom e parece limpar a alma.

DESAMARREM OS CACHORROS.


Depois da minha visita a exposição de Miguel Rio Branco, no Santander Cultural, aceitei o convite de um amigo, para visitar a Praia de Ipanema, na zona Sul de Porto Alegre. Saímos do Bom Fim, até o Santuário Madre de Deus, ouvindo Sidney Magal e Tim Maia, no radio de uma Kombe e depois seguimos até Ipanema cuja a água e a orla me pareceram mais limpas e menos movimentada do que das outras vezes que estive por lá de visita. Também era uma sexta-feira de tarde e desta forma, o movimento de pessoas na praia e o trafego de veículos, estavam menos ostensivos que nos Sábados e Domingos, quando costuma lotar todo o trecho de acesso a praia.
Caminhando pela orla meio vazia, eu fiquei lembrando de alguns momentos da minha infância  em que eu passava com a família por ali, para aproveitarmos os belos dias de sol em grandes piqueniques numa caminhonete DKV.


Nesta época, eu com meus dez ou onze anos de idade, lembro-me de uma situação que me deixou muito envergonhado, impedindo-me de retornar a este lugar depois de me tornar jovem. Essas mazelas emocionais que adquirimos, pela falta orientação necessária, mas que depois passa!...
Eu era criança e lembro de estar sentado na areia, num desses dias de veraneio, quando percebi dois cachorros que se arrastavam, parecendo terem sido amarrados pelos rabos. Eu fiquei muito apavorado com o que me parecia uma maldade humana e gritei para todos os que estavam presentes, que os desamarrassem para não se machucarem ainda mais.
Houve um silencio geral, depois seguido de largas gargalhadas por causa da minha inocência, que foi mais encarada evidentemente, como uma estupidez. Depois levei uma daquelas xingadas, sem entender  o porquê.


Sou desses tempos, em que se aprendia sobre as coisas da vida, aos trancos e barrancos e quase sem nenhuma explicação, tempos em que a esperteza e o código de olhares com silencio, era uma arte e sinônimo de inteligencia, alem de outros valores invertidos. Tudo bem, eu sobrevivi com alguns defeitos evidentes e não mais recuperáveis, mas sobrevivi.


Ainda hoje pela manhã, na exposição do Miguel Rio Branco, no Santander, uma fotografia com cães grudados, me fez lembrar desta situação, e depois ir até Ipanema onde vivenciei esta experiencia desagradável a tanto tempo atrás, me fez refletir que certas situações se incidem na nossa vida para reviver e reorganizar certos erros e mal entendidos a que somos submetidos. Acho que é uma especie de chance dada, para nos perdoemos de culpas do qual nem somos responsáveis.



PONTO CEGO.

Nesta sexta-feira, dia internacional da cerveja, levantei cedo para compromissos inadiáveis. Depois de tudo resolvido, ou ao menos encaminhado, decidi dar uma passada no Santander Cultural, na Praça XV, centro de Porto Alegre, para reencontrar um amigo de viagem e ver a mostra de fotografias, desenhos, pinturas, colagens e videos do artista plastico Miguel Rio Branco, chamada de Ponto Cego. Primeira surpresa, o Santander estava intencionalmente quase às escuras, para que as obras do artista se tornassem ainda mais evidentes ao olhar dos visitantes.


São 110 obras, numa multiplicidade de cores, simbolismos e efeitos, retratando os que estão à margem da sociedade e que poucos tem curiosidade ou interesse de conhecer, fora de uma exposição, esta realidade tão cruel. Os painéis de fotografias principalmente e que mais chamou-me a atenção, retratam a tristeza, a pobreza, a prostituição, a ternura, marcas da violência, sedução, relações interpessoais marginalizadas e outros sentimentos transmitidos através de expressões oprimidas, resignadas, degradadas e identificadas nos semblantes castigados pela vida, nos olhares e gestos, marcados por uma falta de esperança que são imposto aos excluídos, aos que não possuem chance de uma melhor escolha.


O trabalho do artista é tão vibrante e a mesmo tempo tão impactante, que nos faz pensar em como tudo aquilo pode ser possível. A fotografia de um cão sarnento e abandonado na rua, assim como a de um homem sentado bêbado ou talvez drogado na calçada, colocam-lhes na mesma posição de desleixo e de abandono. Mulheres com cicatrizes pelo corpo e pelo rosto, marcadas por uma violência com impunidade e desumanidade. Detentos aprisionados em uma cela, como se fossem animais, crianças maltratadas, homens esmagados nm coletivo como se fossem simples cargas...


As obras que foram produzidas entre 1986 e 2012 para compor a exposição, são tão aflitivas quanto educacionais, no sentido de nos forçar a uma reflexão profunda e pessoal desses fatos que modelam uma sub-sociedade perversa e que alavanca regras e costumes tão violentos e aquém da nossa realidade de confortos e modernidades.


Alguns desses trabalhos fotográficos resgatados pelo artista, no Pelourinho em Salvador, em Cuba, e no Deserto do Atacama no Chile, mostram que a pobreza e a exclusão social não possuem fronteiras geográficas,  que pessoas apresentam atitudes, reações e sentimentos semelhantes independente de raças e nacionalidades, quando lhe são negados dignidade.


Bom, eu não acredito em simples coincidências e acho que o nome da exposição veio a calhar numa perfeita elucidação da realidade, já que ponto cego em particular é uma obscuração do campo visual, uma parte do campo de visão não percebida. O trabalho de Miguel Rio Branco vai alem da perfeita performance estética, mas como uma denuncia de cunho artístico, na sua mais intensa profundidade, sobre esses desdobramentos sociais e humanos a serem questionados com atenção. E nossa.., o olhar deste cavalo me pareceu estar dizendo tantas coisas!..

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...