Uma puta insatisfeita.

Sol, é isto que estou vendo brilhar daqui da janela da minha casa nesta manhã?. Gritos de crianças na praça aqui em frente? Um sol maravilhoso em contrapartida a esses dias que se mostraram umidos, chuvosos ou nublados? Parece mais uma ilusão!.. 
Mas eu também pareço uma puta insatisfeita com oque a vida tem para oferecer, quando chove quero sol, quando esquenta quero frio. Devo concordar que o tempo ta ficando parecido com o nosso temperamento, intempestivo!

O despertar de um sonho.

Sonhei com meu pai e ele não era o mesmo homem que costumava ser enquanto existia, pois utilizava um outro corpo, uma outra voz, o corpo de um homem desconhecido e uma voz mais delicada, mesmo assim eu sabia que era ele e tratava-o por pai, enquanto ele segurava a minha bagagem que insistia em carregar até o embarque de um aeroporto. 
Eu pretendia viajar para uma cidade desconhecida, que ele insinuava querer me acompanhar embora eu me fizesse de desentendido sobre a sua intenção. Ele me perguntava pra onde eu iria, e quanto tempo ficaria neste lugar, enquanto eu lhe respondia com evasivas e frases reticentes. Não nos olhávamos no olho e enquanto falávamos, parecíamos criar uma grande barreira de timidez que nos distanciava cada vez mais um do outro. Eu me perguntava em cada intervalo de nosso escasso dialogo, o por quê de sua intenção de querer ir comigo se nada mais tínhamos em comum, se não nos víamos a muito tempo e não possuíamos qualquer intimidade para virarmos colegas de viagem. Pensei em despista-lo e então fugir sem que percebesse, mas não conseguiria digerir bem esta atitude covarde, a não ser que eu me forçasse a acordar do sonho. É, eu sabia que tudo aquilo era um sonho e sentia que a unica forma de desfazer aquela situação embaraçosa e ficar sem culpas, era me despertando do sonho, como quem troca o canal da TV.

Uma noite duplamente ganha,

Depois de um dia de trabalho, com um tempo chuvosos e feio desses, lidando com gente mentalmente doente, gente preconceituosa, gente dissimulada e muito chata, eu precisava me distrair com um pouco de entretenimento e somado com arte, melhor ainda. Convidei uma amiga para assistir comigo o show da Tássia Minuzzo no auditório da faculdade de medicina da UFRGS hoje às 19 horas num tributo a Edith Piaf. 
Pena ter sido apenas uma horinha britânica de show batido no relógio e minhas fotos saírem uma merda. Foi uma viajem no tempo a Paris e seus cabarés dos anos 30. No término do show, percebemos dois estudantes (do mesmo sexo), saírem do espetáculo de mãos dadas e esbanjando carinhos na maior naturalidade. A noite estava duplamente ganha, porque a vida não é só feita de dores e mediocridades, mas de arte e autenticidade.

O ambiente menos honesto da minha casa.

Hoje de manhã ao acordar, tomei meu café sentado no safá da sala e isto me causou a sensação de estar num ambiente estranho e impessoal, possivelmente por estar fugindo da força de um hábito por mim estabelecido. Esta frase direta em que iniciei o texto, também me obrigou a revelar nas sub linhas, que eu tomo o café da manhã antes de fazer a higiene pessoal e faz parte de uma das manias que adquiri no decorrer da vida e não sei explicar por qual razão. Como beber um copo de água quase gelada depois do café, como comer um pouquinho de creme dental depois de escovar os dentes, ou dar uma cheiradinha nas axilas para constatar se o desodorante não venceu.
Mas eu não sei o por quê fui a fundo nestas revelações intimas, já que minha intenção ao iniciar esta postagem tem outra intenção que vou retomar agora. Bom, eu estava sentado no sofá da sala bebendo o café da manhã, onde toda a neura começou, lembra?
Primeiro, eu quase nunca sento no sofá da sala, com exceção quanto recebo visitas ou preciso amarrar os cadarços do calçado, bebo meu café de qualquer jeito e qualquer lugar,  jogado sobre a cama, de pé na cozinha ou na janela e até já aconteceu, sentado no vaso sanitário lendo algum jornal com data vencida. O café da manhã, hoje por mim bebido no ambiente social, me fez pensar que talvez nem fosse necessário eu ter este ambiente, a não ser pelo fato de que as vezes recebo visitas e que não são muitas. A sala estabelece pra mim, uma divisão emocional entre minhas atividades sociais, cujas as atitudes são mais cuidosas, cerimoniosas, sociais e a minha intimidade do dia a dia ( no quarto, na cozinha, no banheiro). Talvez eu nem precisasse de sala, se não fosse a necessidade do social, das cerimonias. A sala por ser um ambiente social é também uma especie de cartão de visitas oferecida a o publico que nos frequenta. Enfeitar a sala, significa também nos enfeitarmos para os outros. Acredito que ela seja o lugar menos honesto da nossa casa e não é a toa que o Cazuza disse em sua musica "Bete Balanço"; Sentadas são tão engraçadas, donas de suas salas... Acho que foi isso, me senti engraçado e numa especie de cerimonia!

Eu tô muito chato hoje!

Eu tô cheio dessas opiniões corporativistas que tendem sempre pro mesmo lado, pro mesmo ponto de vista e que faz todo mundo sacudir a cabeça concordando, incorporando a mesma ideia. Na verdade essas opiniões se convergem para o mesmo ponto, por que não tem respostas que se contraponha a altura, estão escassas ou não existem de fato. 
Todos estão no mesmo barco, na mesma convergência de opiniões e sobrevivendo por que ninguém tem respostas. Ninguém possui novidades capaz de mostrar soluções que se diferenciam daquilo que já ouvimos e parecem não dar soluções. As frases que traduzem ideias, podem ter intonações diferentes, verbos, verbetes, adjetivos, sinônimos mais elaborados, sofisticados, educados, mas são as mesmas que ouvimos de todas as bocas e se repetem, se repetem, se repetem.., como num disco arranhado.
Tomara eu conseguisse ouvir idéias diferentes, saídas diferentes, mas isto tá  dificil, quase impossível por que estamos perdidos, de olhos cinzas e sem brilho, vivendo de referenciais alheios. Estamos perdidos em nossos próprios entendimentos, nesses conceitos homogêneos, que todos copiam, que todos repetem por acharem bonito, poético, politicamente correto, sem nos arriscarmos numa contracultura enquanto estamos vivos.

Um ponto no escuro.

Tá chovendo e isto me parece bom se não exceder por muito mais tempo, me dá paz e um sentimento de isolamento benéfico. Uma declaração com firma reconhecida de que vivo só e praticamente todos neste planeta como em colmeias isoladas, a procura do que fazer e no que pensar. 
Comi a generosa fatia de torta de chocolate mole que me mandastes e foi dos deuses. Foi das mais gostosas que lembro ter comido e possivelmente dormirei sem culpas. 
Eu não sei por que ainda estou acordado, se tivesse mais coragem, caminharia agora nesta noite escura e debaixo da chuva, até me encharcar, me arrepiar, me enrugar e depois voltaria pra cama mais leve.

Dois ou tres pontos no escuro.

Se tu me acompanhasse neste passeio pela chuva, ou nos encontrássemos por acaso, seriamos dois. Acho que tres já seriam demais, não é mesmo?..

Pais torturadores

Li por esses dias, no blog Em busca da Arte Inflamada que as vezes visito, uma postagem que me chamou a atenção, por que de fato já vivi o mesmo sentimento descrito pela autora e que tem por titulo "país torturadores". O texto descreve nada menos, que uma pequena brincadeira feita por seus pais, de faze-la chorar quando ainda era criança, por acharem aquilo engraçadinho e cuja a atitude  eles acreditavam ser inocente e que acabou  traumatizando-a de tal maneira que ela jamais esqueceu e terminou levando para a sua vida adulta como um entrave emocional dificil de se dissolver... Mais do que uma forma de desabafo pessoal, o texto de poucas linhas da autora, foi pra mim uma especie de alerta e que me fez pensar se de algum forma, em algum dia, em algum momento, eu também não fui um torturador do meu próprio filho, causando-lhe algum constrangimento sem que eu me percebesse deste ato, achando estar fazendo um comentário ou tomando alguma atitude inocente. Acho que como ser humano tortuoso, devo ter em algum momento pisado na bola. 
Nos dias atuais eu ainda assisto pais humilhando publicamente seus filhos, como se essa atitude fosse um complemento da educação, o que não se trata do foco que estou discutindo agora, embora existam diferentes formas de torturas, mas sim das brincadeiras que parecem inocentes e se tornam repetitivas por parecerem engraçadas, mas que de fato subjugam e põe pra baixo qualquer ser humano independente da idade, sob forma de uma tortura. 
Se a gente pensar no conceito de que filhos torturados, se tornarão possíveis pais torturadores, como resposta de um revide inconsciente que transformou-se em doença, é bom pensar até que ponto nossas atitudes não estão sendo invasivas em nome de uma paternidade que sufoca, desrespeita, humilha e depois causas sequelas pro resto da vida.
Eu lembro de minha avó certa vez, me mostrando um camundongo preso numa ratoeira, onde por pura inocência eu tentei colocar a minha mão sobre o animal ainda vivo e com dor, que obviamente me mordeu a ponta dos dedos deixando-me aterrorizado. Eu era criança e ela poderia ter evitado aquela experiencia que pra mim foi muito dura, mas ao invés disto, achou muito engraçado e ria de mim cada vez que contava o acorrido para algum parente que nos visitava. Eu me sentia tão envergonhado de ter sido fraco e era uma tortura imaginar ser exposto diante das pessoas, todas as vezes que vinham nos visitar. 

Pra tudo eles dão um jeitinho.

Hoje como é de costume nos meus plantões como socorrista do 192, fui atender um motociclista que caiu do veiculo ao desviar de um carro, (este por sinal todo adesivado de propagandas politicas), que freou bruscamente numa manobra enquanto desfilava pela Estrada João de Oliveira Remião. Além da vitima que atendi estavam no local a candidata do PC do B que esforçava simpatia, dois homem que  acompanhavam-na, um era o motorista, a brigada militar e mais alguns curiosos.
Mesmo numa situação delicada, por tratar-se de um acidente, a candidata ainda questionou para mim e ao motorista da ambulância, em quem votaríamos, o que me abstive de dar explicações. 
Mais tarde o motociclista me contou que apos o acidente, antes de chegarmos de ambulância, a candidata pediu-lhe que identificasse como motorista que dirigia seu carro, o outro homem que era carona, pois o que estava na direção, não possuía carteira de habilitação. Eu bem desconfiei que aquele excesso de simpatia escondia outras razões implicativas, uma vez que políticos no nosso país costumam sempre dar aquele jeitinho de arrumar as coisas com muita simpatia e sorriso nos lábios; com ela não seria diferente.

SER POBRE, NÃO SIGNIFICA SER RELAXADO

Minha avó assim como minha mãe, enfim a prole antepassada e feminina da minha família, me passou a importância dos cuidados pessoais de higiene e no ambiente onde vivíamos, numa frase simples e que guardo até hoje nas minhas entranhas. Elas diziam, (minha mãe ainda diz); "Ser pobre não significa ser relaxado". O que é uma verdade pois já estive em ambientes muito humildes, cuja a limpeza era de se reparar.

Ontem quando fui atender uma senhora, que passava mal em sua casa, deitada no que ela e o marido achavam ser uma cama, esta lembrança de minha avó e minha mãe ressuscitaram dentro de mim este conceito. A casa desta senhora, cujo o marido era mais jovem, não se diferenciava de um lixão, onde se misturavam quarto, cozinha, sala, com cachorros fedorentos e quinquilharias. 


Ainda quando estava sendo conduzida para dentro da ambulância, o marido dela que a amparava pelo braço, se voltou para mim e disse com uma expressão de orgulho; " Quem tem mulher, tem que cuidar, né senhor!.." 
Eu fiquei tão abismado com aquela sujeira toda, que sob pretexto de fotografar o cachorrinho fedorento deitado numa caixa de madeira, desviei a câmera do telefone celular para outros lados.

Uma ideia a mais.

Eu costumo jogar seixos na água, bem próximo da margem onde o rio é raso e pode-se ver seu fundo transparente. Fico observando calmamente o efeito deste gesto se transformando em pequenas ondas que se agigantam e logo se dissipam no infinito liquido. Existem tantos efeitos mágicos oriundas da natureza.... Pensei em visitar esta semana, as flores roxas e amarelas de Ipê que enfeitam as calçadas da cidade. Efeitos que valem a pena guardar.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...