Os Armandos.

Algumas pessoas possuem um rosto que não combina com seu nome de batismo e lhe caem inapropriado, irreal e eu fico me debatendo de surpresa, em silencio, sem deixar pistas, com esta idéia cada vez que me é apresentada, sentindo intimamente que são falsas. 
Esta semana fui apresentado para um cara chamado Armando cujo o rosto branco, parecendo de cera e os olhos puxados de oriental, lhe conferiam uma expressão de tristeza e submissão. Pra mim, qualquer pessoa com aquela expressão não teria o nome de Armando, mas ele tinha. Seu rosto fecharia mais como Tiago, Lucas, Marcio, sei lá, qualquer coisa que lembrasse fragilidade. Os Armandos, me perecem mais imediatistas e abertos, mais ousados na forma de estabelecerem contato com outras pessoas, mais dinâmicos no temperamento social, sem se parecerem desprotegidos e convenientes como este que conheci. Terei uma grande surpresa se algum dia ele me mostrar que não é nada disto, fazendo este meu preconceito cair definitivamente por terra. Enquanto isto não acontece, vivo esquecendo do seu nome, cada vez que o vejo ou vem falar comigo.

Interações necessárias

Estou feliz, mas muito feliz com a possibilidade de voltar a viajar com meu filho. Na verdade esta possibilidade vai virar realidade nos próximos dias e acredito que nos divertiremos demais.  Estou realmente acreditando que somos muito parecidos interiormente como ele mesmo diz; Embora existam entraves em mim que eu não gostaria que ele herdasse.

Dura na Queda 2




Eu fiz um post aqui no blog dia 27 com o título de "Dura na Queda", que fala sobre a minha impressão de que a musica de mesmo nome, composta por Chico, me parecia ter sido feita para Elza Soares cantar, que a musica cabia para ela, para sua vida, como uma luva de pelica. Esta sensação ocorreu depois de vê-la cantar a musica magnificamente num vídeo postado no Youtube de seu show "Do cóccix até o pescoço"- de 2002.
Hoje relendo novamente a letra da musica, encontrei este outro site: http://www.chicobuarque.com.br/letras/notas/n_dqueda.htm, que se trata de uma parte da entrevista dada por Chico Buarque e que fecha com o que suspeitei.
Transfiro aqui em baixo, parte desta entrevista:
Ricardo Leite - Tem muita música sua que você tenha gravado e nunca lançado? Existem muitos autores que vão lá, gravam quinze músicas e lançam dez... Você tem essas sobras?
Chico - Sabe, eu ia dizer que não, mas lembrei agora de uma história do meu último disco. Eu estava com ele quase pronto e fiquei cismado com uma música, achando que alguma coisa estava errada, que eu não iria conseguir cantar. O disco já estava com o prazo estourado e no limite do número de músicas. Mesmo assim eu tirei essa e compus outra. Aquela ficou guardada, pra ser retomada um dia, aquela coisa. A letra repetia um pouquinho uma letra de uma música minha antiga, chamada Ela Desatinou. Era um 'Ela Desatinou 2'. Aí, olha que engraçado: eu estava em Londres fazendo um show e encontrei Elza Soares. Quando ela me encontrava, cantava [imita] "Elzaaaa desatinooou..." Ela fazia essa graça, e tal... Algum tempo depois, chega aqui uma produtora que queria fazer um musical sobre a vida da Elza Soares. Sentou aqui mesmo, onde a gente está, e me pediu uma música pro show. Eu disse pra ela que eu não tinha a música, que eu tinha terminado um show, que não ia dar tempo de compor... aí de repente eu lembrei: "Peraí, eu já fiz essa música pra Elza, sem saber!" Eu tirei ela do meu disco porque não era pra eu cantar, era pra Elza cantar. E ela gravou. O engraçado é que o titulo da música era Dura na Queda, e a Elza tinha acabado de despencar do palco... Parecia realmente feita pra ela, e foi.

Jogando pedras no rio

Ele tem diante de si um rio do qual decide diariamente jogar pedras gigantescas, para vê-lo agitado, turbulento, alterando assim a rota normal e tranquila das águas. Utiliza isto para desconstrução dos próprios sentimentos ternos e de delicadeza que lhe sobraram. 
Existe um monstro em seu interior que se satisfaz com o sofrimento daqueles que o amam, por isto rouba lagrimas a todo o instante e aprisiona almas com esmerado prazer. Isto o faz sentir-se gigante e poderoso, controlador das situações que já perdeu o controle; Mente pra si mesmo. 
Ele não vive mais a normalidade dos dias, caminha sobre nuvens de sonhos egoístas e único, agoniza em seus medos acreditando estar sentindo prazer. Mas olhando de perto, não muito perto para não ser devorado, eu acho até que algumas de suas vitimas o merece por se deixarem seduzir por algo tão obvio e de pouca credibilidade.

Dura na Queda.





Da mesma forma que a musica "Tigresa" composta por Caetano Veloso, até hoje me faz lembra de Sônia Braga, "Dura Na Queda" de Chico Buarque parece ter sido composta para Elza Soares.
Eu cresci ao lado de pessoas que por puro preconceito não gostavam dela. Achavam-na escrachada, vulgar, perigosa e mudavam de estação quando ouviam sua voz grave e rouca cantar com tamanha potencia e irreverencia. Eu pessoalmente sempre fui um admirador incondicional de seu talento e de sua postura de mulher corajosa, que foi descriminada durante grande parte da vida sobrevivendo a duras penas.
O texto de Tatiana Cavalcante que é resultado de uma entrevista concedida por Elza após um Show com temporada no Bar Brahma, em 2009-São Paulo e que pode ser lido AQUI, descreve um pouco do que foi sua difícil trajetória de vida.
Elza tem hoje 73 anos, nasceu numa favela do Rio de Janeiro, sofreu com a miséria e a morte de entes queridos, mas superou tudo. Recebeu indicações ao GRAMMY Awards e também foi eleita pela BBC de Londres a cantora do milênio. É claro, que com todo este histórico de vida, ela é dura na queda
Aqui está a letra da musica:

Perdida na avenida, canta seu enredo, fora do carnaval.
Perdeu a saia, perdeu o emprego, desfila natural.
Esquinas, mil buzinas, imagina orquestras, samba no chafariz.
Viva a folia, a dor não presta, felicidade, sim.
O sol ensolará a estrada dela. A lua alumiará o mar.
A vida é bela.
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas...
O sol ensolará a estrada dela.
A lua alumiará o mar.
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas...
Bambeia, cambaleia.
É dura na queda. Custa a cair em si.
Largou família, bebeu veneno e vai morrer de rir.
Vagueia, devaneia
Já apanhou à beça.
Mas para quem sabe olhar a flor também é ferida aberta
E não se vê chorar.
O sol ensolará a estrada dela.
A lua alumiará o mar.
A vida é bela. O sol, a estrada amarela.
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas...
O sol ensolará a estrada dela.
A lua alumiará o mar.
A vida é bela. O sol, a estrada amarela.
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas...

Elo


Ontem à noite assisti a entrevista de Maria Rita no programa de Jô Soares, para divulgação de seu novo CD Elo, fruto de apresentações no interior do Brasil e também no exterior a mais de um ano. Deu uma canjinha do seu mais recente trabalho apresentando três canções novas incluídas no repertorio já conhecido dos outros shows. 
Maria Rita me parecia mais a vontade no programa, o que não senti em outras entrevistas apresentadas na TV, onde dava a sensação de um certo desconforto a o falar de sua vida e de seus trabalhos anteriores. Devo confessar que eu sentia uma especie de inibição a o vê-la dar entrevistas, como se não estivesse por inteira, armada, tensa, causando-me também desconforto e um tipo de inibição , forçando-me a gostar mais de seu trabalho como cantora do que da sua postura pessoal. Este sabor agridoce eu também sentia com relação a sua mãe Elis Regina, que decididamente era ainda mais intenso, mostrando-me mais tarde o excesso de responsabilidade que jogamos nas costas de nossos artistas, achando que eles são sobre humanos ou produtos de consumo à serviço de nossos gostos.


Maria Rita desde o inicio de sua carreira evitou falar ou fazer comparações de seu trabalho com o de sua mãe, o que é compreensível mas também inevitável, causando-me até a desconfiança de que esta postura não se restringia somente à comparações técnicas, mas questões de caráter emocionais não resolvidos. De qualquer forma o comentário de Jô Soares, ontem, sobre sua relação profissional e de amizade com Elis, fez Maria Rita emocionar-se por alguns minutos e a gente também.

Os talentos nos duetos

Eu nunca tive duvidas de que Amy Winehouse era uma das melhores cantoras que surgiu nas ultimas intra-safras de cantoras Pop, quando lançou seu primeiro álbum de estúdio chamado "Frank", depois o segundo "Back to Black", aclamado pela critica e consagrando-a como uma celebridade , nem seria pelo fato de hoje estar morta que eu a elegeria a melhor. O ser humano tem por hábito endeusar não só os artistas, como qualquer outra pessoa que partiram desta para a melhor, como se a morte apagasse todos os erros que cometessem durante a vida.
Hoje eu estava revendo o vídeo de Amy em dueto com Tony Bennett e lastimei a perda de sua vida com todo o seu talento para as drogas.
Depois assisti a outro vídeo-dueto, com Lady Gaga que também esta maravilhosa com seus cabelos azuis ao lado de Tony Bennett. Não sei por que criei tanto preconceito em torno de Lady Gaga, achando que as performances que usa em suas apresentações e o tipo de musica que canta, não combina com o meu gosto musical, ao contrario de Amy, do qual não sentia isto. Puro preconceito, bobagem minha!

No panelão de sopa.

Quando olhamos no fundo do olho de algumas pessoas, percebemos o caminho que elas decidiram tomar, mesmo a gente não concordando com ele. Não tem choro nem vela, por mais que pensemos na possibilidade de alterar-lo, apontando novos rumos, isto quase sempre, não é possível: A decisão já foi tomada, introjetada por forças inconscientes e acolhida pelo destino traçado lá na frente. É quando percebemos nossa impossibilidade de influenciar, de mudar opiniões e então nos calamos,  parecendo legumes de cores, tamanhos e sabores diferentes boiando numa grande panela de sopa, prontos para sermos devorados quando estivermos no ponto. Frágeis legumes de pouca influencia sobre as escolhas e decisões alheias.
Não estou tentando criar nenhuma verdade filosófica, (nem sei se isto é possível aqui e agora e se tenho capacidade pra isto), mas em algum momento estamos em pontas opostas, sendo ora observadores, ora observados no fundo de nosso olho, ao tomarmos decisões pessoais pouco convencional aos moldes sociais. Me sinto agora, como um legume.

Dá um tempo!..

Tenho lutado por minha licença premio a mais de três anos, mas ontem assinei-a sob protesto e alguma pressão, por não fazer horas extras conforme as necessidades do serviço, que muito já fiz e foi convenientemente esquecido. 
Ora o serviço tem suas necessidades e eu as minhas, que neste momento  urge de algum tempo de lazer ao que me sobrou de energia por tanto tempo sendo esmagada pelas deficiências da maquina publica e administrativa. 
São mais de 120 dias de licença vencida para pleitear no mínimo 30 dias e ganhar apenas 15 dias. Faça-me o favor; Dá um tempo!
Eu fico me perguntando o porquê de tanta concorrência para entrar no serviço publico, se uma das poucas vantagens que sobrou foi a estabilidade (ainda não derrubada), e o resto vem caindo gradativamente a cada mandato que passa, (conforme a corda vai apertando no pescoço de cada administrador). 
Poucas são as estatais que oferecem hoje, aos seus servidores tratamento diferenciado a que eles tem direitos constitucionais. Os direitos são cada vez menores em relação aos deveres.

Tá tudo devagar.

Para um vôo alto e distante é necessário aparar delicadamente a ponta das asas, ficar de ouvidos atentos e sensível à todas as formas de comunicação; inclusive as internas e silenciosas. Precisa-se distensionar, buscar recursos dentro e fora.
Hoje o mundo está parecendo rodar em slow motion e em certos momentos no sentido contrario. As ligações não retornaram e eu pareço estar de mãos atadas a espera de um sim ou um não. Desde às dez no telefone, tentando e nada, parecendo que estou mendigando um favor, mas que pagarei com juros e correção monetária. Tanta coisa ainda para resolver e nada e eu sem querer levantar a bunda do sofá, me recuso. Penso melhor com ela relaxada.
Minha avó disse certa vez, que quando nos sentimos assim, devemos dobrar meias na gaveta, já que permanecer com ideias fixas, só nos levam ao descontrole e desejos do tipo homicídio em massa. Por algum tempo eu pensava que o sangue que corria nas veias de minha avó, não fosse vermelho, mas de um verde fosforescente como a luz dos vaga-lumes e eu estava certo, mais do que certo.

Cisco.



Gosto de frases curtas cuja a ideia que transmitem ao serem ouvidas, são fortes, grandes, profundas, com sentido, emocionalmente pessoais. Não precisam de muitos elementos gramaticais para se fazerem entendíveis, batendo em minhas emoções e na vivencia obvia do dia a dia, dos gestos simples, transformada em poesia ou versos combinados de bom gosto.
Lembro quando ouvi "Diariamente" de Nando Reis, na voz de Marisa Monte e achei a musica tão delicada e criativa que fiquei por semanas ouvindo-a.
Por esses dias me identifiquei com "Cisco" de Zeca Beleiro e Carlos Careqa, belamente interpretada por Thays Gulin, cantora Curitibana de voz doce e afinadíssima que lançou seu segundo CD- "Oooooooo" em 2011 pela Som Livre.
A musica a que me refiro, está na oitava faixa do primeiro CD- Thays Gulin de 2006, ao lado de outras composições de Zé Ramalho, Chico Buarque, Nelson Sargento, Tom Zé, Arrigo Barnabé, Otto, Jards Macalé, Evaldo Gouveia, Jair Amorim e Anelis Assumpção, arranjadas com muito bom gosto por Fernando Moura na construção do disco.


Veja a letra da musica:

Cisco no olho, pisco
Carne no dente, mordo
Água no leito, chovo
Molho na tela, tremo

Vida no ralo, morro
Fruta no talo, como
Corte no pulso, sangro

Sangue na veia, pulso
Medo do escuro, grito
Luz no inferno, canto
Flores no escuro, claro
Rato no queijo branco

Água na bica, banho
Boca na boca, sugo
Calo no pé, danço
Couro na brasa, queimo


Disco no prato, risco
Bala na agulha, tiro
Papa na língua, calo
Vela ao vento singro

Faca no peito, cravo
Cravo num terno lindo
Fruta no prato fundo
Vinho na taça, brindo

Cego, mas sigo
Vou só, só comigo




Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...