Broas de polvilho e mate doce


Logo que eu levantei da cama e me debrucei no parapeito da janela, o dia estava de uma cor verde ictérica, parecendo anormal. Uma cor que eu nunca tinha visto antes e que me deixou intrigado. A chuva logo veio atrás, conforme a previsão dada ontem no jornal da TV. "Chuva, muita chuva em algumas regiões do Sul e Sudeste do país".
Semana passada estive numa cidade no interior do Estado, com casinhas de madeira em estilo da campanha, sobre extensos campos e saindo fumaça de suas chaminés. Eu gostaria de estar hoje por lá, comendo broas de polvilho com mate doce. O resto eu deixo ainda por conta da imaginação...
Eu lembro quando estive em Cambara do Sul, com uma colega, na casa de uma amiga. O fogão à lenha aceso, pinhão assado na chapa, uns dias chovia, no outro fazia frio, banho em chuveiro improvisado, cavalgadas para recolher o gado, as ovelhas, uma simplicidade tamanha que só pode ser traduzida como a melhor qualidade de vida que ainda é possível de se ter acesso.
Faz tanto tempo que eu estive por lá, que quase não lembro do rosto das pessoas que me acolheram, mas o carinho ficou registrado na alma.

Pulga na orelha e borboletas no pensamento

Neste momento, me encontro numa espécie de  recesso ou hibernação emocional para interagir com as pessoas, como se algo me impedisse de me manter leve e a vontade nos  meios sociais por onde circulo. Me ponho camuflado, concordado, repetindo bordões que todos estão acostumados à ouvir, mas que não é o que  eu gostaria de dizer, me submetendo a repetições de idéias ou caindo  em abismos do [é.., pois é...] Será que é isto mesmo que eu estou sentindo ou é apenas cansaço do trabalho, da vida, de mim mesmo?.. Haverá alguma discussão ou poema novo a serem trocados?
Eu acho que  existe vários motivos de fecharmos nossas portas e janelas de acesso interno aos que estão a nossa volta. Primeiro, quando nos fechamos intencionalmente  por razões visíveis e autorizadas por nós mesmos e segundo, quando elas se fecham sem ter um motivo reconhecido e aparentemente sem razão. Me  sinto nas duas situação sem nenhuma justificativa para este impasse.
Este tipo de sentimento parece estar ligado a uma linha fina mas resistente de insatisfações introjetadas, que de uma hora para outra se rompe e volto a me sentir livre, aberto à novas perspectivas emocionais.
Mas independente destas situações comuns a quem respira, a vida mantém o seu ciclo incondicional e foi neste ciclo que se move independente, que ontem recebi um elogio de uma pessoa que eu não esperava receber e que meu colega jurou  ser uma cantada.
Cantada a esta altura do campeonato.., mas por que não?..
Eu sou um tanto lerdo para absorver algumas manifestações inesperadas como a de  ontem, mas também fiquei surpreso por ser clara e direta, me pondo uma pulga atrás da orelha e algumas borboletas no pensamento.

Um cadáver no supermercado

O frango à caipira exposto no balcão climatizado do supermercado, me causou tamanha sensação de mal estar, que carreguei aquela imagem por vários dias na cabeça. Além de ser uma ave grande, lembrando de um peru, estava acomodado dentro de uma sacola de plástico, praticamente inteiro. Os  pés, o pescoço, a cabeça com crista e olhos fechados de quem sofreu ao  se entregar ao abate, me dava a impressão de que era um cadáver e não um produto para o consumo. É claro que não deixava de ser um cadáver, mas alguns cuidados tomados com certos padrões estéticos e de apresentação de produtos, são capazes de modificar nossas impressões e conceitos, instigadas por nossos olhares morais; não é mesmo? Em outras palavras quero dizer que alguns distribuidores devem ter a preocupação de  expor seus produtos com uma apresentação que não assustem seus clientes.
Eu lembro de quando trabalhava no bloco cirúrgico do Pronto Socorro, os pacientes que se submetiam a cirurgias, eram posicionados e coberto por panos verdes e grossos, que chamávamos de campos, afim de manter a integridade do paciente e do procedimento cirúrgico, impedindo a proliferação de gemes e do risco de contaminações. Este é um procedimento normal e rotineiro nas salas de cirurgias. Esta proteção com panos (campos), sobre o corpo do paciente, protegia-o de tal forma, que me causava a impressão, e acho que também para quem trabalhava no procedimento, que não era uma pessoa, mas um corpo humano, com partes delimitadas a serem abertas com um bisturi, sem culpas e fricotes morais.
Tudo se tornava mais fácil e emocionalmente impessoal, quando alguns padrões estéticos são adicionados de modo a camuflar impactos visuais, eu pensava.
Aquela ave no supermercado, não estava cortada e embalada adequadamente de forma a atrair  consumidores, mas exposta como um cadáver para possíveis estudos periciais. Foi o que senti quando a avistei no balcão.

O que às vezes, mereço

Eu acabo na maioria das vezes fazendo coisas que me dão prazer sozinho e isto subtrai seu sabor quando não as divido com outras pessoas. Eu fico pensando, [que bom se fulano estivesse aqui, neste momento comigo para...] Mas...
Eu talvez me sinta um solitário ou um completo egoísta me pondo por vezes inseguro em dividir. No fundo eu tenho a preocupação de me mostrar e parecer infantil
Eu mereço doses de café amargo, com bofetadas terapêuticas para me acordar e acertar o prumo. É isto que eu mereço!
Dia desses eu estava com vontade de comer uma farofa com sobras de carne que só minha mãe sabe fazer. Terminei indo para a cozinha fazendo a tal farofa que comi acompanhado com uma garrafa de vinho e assistindo um daqueles filmes que  vi a tempo e bate saudades. Depois pensei que poderia levantar o telefone, ligar para alguém e dizer: Olha, ta afim de uma farofa maravilhosa?... Mas não fiz, fiquei preso em minhas tranqueiras e depois fui dormir contando manchinhas na parede do quarto. Pode?..

Lembranças e suas relações fragmentadas.


Eu vinha no carro ouvindo John Coltrane, quando lembrei de um amigo que gostava de comer cabeças de palitos de fósforos depois de risca-las.
Eu não sei por que lembrei disto, ao olhar para uma sacola xadrez vermelha, sobre o banco do carro.
Ele devorava uma infinidade de cabeças de palitos de fósforos e eu, picolés de groselha que sua mãe vendia para melhorar a renda da família.
Ele só abandonou este hábito, depois de começar a criar um filhote de pombo que caiu do telhado. Ele alimentou este pombo em sua mão, até a ave morrer velha e cega. O pombo nunca aprendeu a comer sozinho e também voar.
É estranho lembrar deste fato, que me parece não possuir nenhuma relação com eu estar voltando pra casa, dirigindo meu carro enquanto ouço John Coltrane e estar vendo a sacola xadrez vermelha no banco traseiro do carro.
Eu não gosto de pombos com seus olhinhos sinistros  assim como palitos de fósforos. Eu gosto de ouvir John Coltrane e de sacolas xadrez. 

DE OLHOS BEM FECHADOS PRA NÃO SE ASSUSTAR.


Seguindo na direção da serra pela estrada de Taquara, a RS-020, quem já não se deparou com uma construção retangular e de aspecto sinistro, com muros altos, cactos em volta e esculturas diabólicas (Gárgulas) sobre o portão de entrada como se fossem demônios vigiando quem se aproxima do lugar?
Já faz algum tempo que passo por ali e sempre me arrepio com a construção que dificilmente passa desapercebida. Quem faria um prédio destes, com um aspecto arquitetônico tão assustador capaz de chamar a atenção e provocar tantas suspeitas ao seu redor e do motivo de sua construção?
Lembro-me do filme, "De Olhos bem fechados" de Stanley Kubrick, onde Tom Cruze é o protagonista e que por uma serie de situações, acaba numa mansão como musico, onde acontece uma seita orgasmática, que envolve toda a sua vida numa história de muito suspense e tensão. Teria este prédio estranho a mesma finalidade, de ponto de encontro para algumas pessoas realizarem cerimonias pouco convencionais como no filme? Por que é tão espaçoso e num lugar tão desértico e de pouca movimentação de pessoas?


Alguns curiosos, já investigaram e postaram tantas coisas na Internet sobre este lugar, mas nada de conclusivo sobre o motivo de sua existência e modelo arquitetônico tão diferente e assustador.
Algumas informações relatam, que se tratava de uma fabrica de piscinas, mas os moradores da região dizem que nunca viram movimento de operários e caminhões. Quanto a sua construção, levou cerca de oito anos para ser acabada e nunca foi contratado qualquer morador da região para trabalhar no lugar. O prédio possui poucas portas e janelas externas, coibindo olhares indiscretos e desconfiam que possui dependências subterrâneas. Uma vez por semana (nas sextas-feiras à noite), vários carros de luxo são recepcionados por alguns funcionários do lugar de forma muito discreta e pouca iluminação. Pesquisas imobiliárias foram realizadas, sem que descobrissem o nome do proprietário do lugar. Uma colega me contou que a algum tempo, saiu uma reportagem na televisão sobre este lugar informando que era uma espécie de templo de adoração  a o demônio, e que não permitiram fotos e gravações de imagens. Eu não encontrei nada à respeito na Internet. É pouco ou quer mais?.. Se isto tudo não basta, pule o muro e depois venha me contar!..

O MUNDO ESTÁ AO CONTRARIO

                               

Eu fico impressionado com a direção que o mundo vem tomando e vem na minha cabeça a composição do Nando Reis: ["O que está acontecendo?.. O mundo está a o contrário e ninguém reparou. O que está acontecendo?.. Eu estava em paz quando você chegou".]
Eu acredito que o mundo está ao contrario sim e que muita gente já reparou!..

Eu lembro que já faz muitos anos, desde que assisti esta cena na televisão e fiquei chocado ao ver a Estátua da Liberdade enterrada na areia, sinalizando o fim dos tempos no filme "O Planeta dos Macacos". A Estátua da Liberdade era para mim um símbolo de força, resistência e riqueza, de um país indestrutível e que deu certo.
Eu pensava dentro da minha inocência seduzida pela mentira do capitalismo americano, que nada poderia abalar-los e se assim fosse; imaginem as outras potências que ficavam em segundo, terceiro e quarto plano na escala do poder mundial, comparados aos Estados Unidos? A destruição da maior potência econômica, era inevitavelmente a queda do resto do mundo em efeito dominó.
Numa manhã do dia 11 de Setembro de 2001, quando eu estava de plantão, outra cena de destruição chamaria a atenção dos meus olhos incrédulos, mas desta vez não era a imagem de um filme produzido pela FOX, mas a pura e cruel realidade de outro símbolo de poder sendo atingido e depois vindo abaixo sob o olhar perplexo do mundo.
O atentado terrorista coordenados pela Al-Qaeda de Osama Bin Laden, sequestrou quatro aviões comerciais, fazendo-os colidir intencionalmente contra as torres gêmeas do Word Trade Center em Nova Iorque, centro financeiro americano, além do Pentágono e arredores de Washington. O total de mortos nos ataques foi de 2.996 pessoas, a maioria civis inocentes, fragilizando o poder da grande nação e colocando o resto do mundo de sobre aviso. Depois, surgiram outros retratos da realidade como guerras, terremotos, Tsunamis, contaminações radioativas que só eram vistos na tela do cinema em forma de filmes milionários, para instigar a adrenalina dos espectadores apaixonados pelo gênero. Jamais imaginei que um dia isto faria parte da minha realidade. Tudo às vezes me parece tão irreal, que custo a crer no que estou assistindo, quando ligo no noticiário da TV. Tudo parece uma cena de ficção elaborada em estúdios de gravação cinematográfica. A imagem da Estátua  da Liberdade enterrada, no que sobrou de Nova Iorque no filme "O Planeta dos Macacos, me parece hoje tão possível quanto foi na sua lendária ficção. 

Jardins floridos e vasos na janela


Descobri que sou um ganhador, quando pensava estar perdendo oportunidades que a vida me oferecia, sem minha devida atenção e reconhecimento. Eu ficava preocupado, como diz uma amiga, de não estar regando adequadamente o meu jardim como devia regar e então, corria o risco de não nascerem flores.
Na verdade eu não tenho espaço para jardins grandiosos, tenho são vasinhos  agrupados no parapeito da janela e que molho quando necessário e me satisfaço por alegrar meus dias, mesmo me dando poucas flores. Isto é o que me basta, saber que não necessito de grandes jardins floridos, por que eles podem ser substituídos por outras coisas talvez menores e que também te dão prazer na vida.

A GANGUE DE VIGILANTES DE BANCOS

Existe coisa pior do que vigilante em porta giratória de banco, com olhar de desconfiança e superioridade nos impedindo de entrar?
Eles parecem fazer de tudo para complicar e nos colocar em situações comprometedoras diante do publico que fica no aguardo de um grande alvoroço, quando se tenta cruzar uma, duas, três vezes a porta giratória e ela tranca impedindo a passagem. 
Na verdade todos tem vontade de fazer um alvoroço, mas ninguém se sente com coragem de faze-lo e ser taxado de mal educado. Por outro, lado os vigilantes se sentem vitoriosos do outro lado da parede de vidro, donos do impedimento e rindo disfarçadamente enquanto te fazem de bobo.
Eu agora, quase não vou à bancos e quando preciso ir, me preparo pelo menos com um mês de antecedência, tomando banhos de ervas e inalando fumaça de descarregos. 
Quando me deparo com algum olhar de superioridade ou desconfiança, imagino que suas "virilhas fedem" debaixo daqueles uniformes escuros, como a de qualquer simples humano. Este truque me ajuda a desmistificar a ideia de que são superiores e eu um fantoche brigando para ter acesso livre a o que tenho direito de usufruir.

Aracnofobia

Jamais me passou pela cabeça que o Ademir tivesse tanto medo de aranhas, mas ontem ele confessou pra mim e outra colega, durante a troca de plantão o seu pavor, descrevendo detalhadamente esse seu comportamento e ilustrando com muitas historias e fazendo  interpretações teatrais à respeito. 
Eu já sabia do seu medo por cobras e por altura quando fizemos alguns passeios juntos, mas aranhas é algo que pensei que só eu e algumas mulheres histéricas pudessem ter. 
Eu tinha certa vergonha de admitir este meu medo para as pessoas das minhas relações e que elas por alguma vingança ou brincadeira de mal gosto, jogassem este bicho de oito olhos e oito patas em cima de mim, mas depois trabalhei tanto neste medo, que pareceu ter aliviado grande parte do que foi e hoje já consigo até mata-las ou simplesmente deixa-las passar.  
Ter medo de um bicho assim, pode parecer para algumas pessoas tão ridículo, como ter medo de uma formiga ou mariposa, mas ele existe de fato e deve ser respeitado como se fosse um leão.
Os medos às vezes, se parecem com os vícios, a gente pensa que se livrou, mas eles estão apenas adormecidos, esquecidos em nossas gavetas e num certo momento adquirem dimensões que pareciam não mais ter.

A violência de cada dia


O massacre ocorrido na escola Municipal Tasso da Silveira, zona oeste do Rio de Janeiro ontem pela manhã, assim como o atropelamento dos ciclistas no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre, Fevereiro passado, me deixou sem saber o que dizer, porem muito chocado e com a certeza de que muito deve ser feito para conter ou diminuir estes processos  crescentes de violência que  vem atingindo a sociedade como um todo.
Mas o que fazer de real e eficiente para conter tudo isto? Será que já estamos no beco sem saída à espera de uma destruição em massa?
O que percebo é que tudo parece ineficiente para erradicar o que carece de uma saída urgente e cuja as  politicas sociais não conseguem acertar. Tudo parece vir se afunilando gradualmente, dia após dia sem resultados positivos e com mecanismos capengas que corrigem de um lado, mas deformam do outro, caindo num ciclo de tentativas intermináveis e sem esperança.
Acho que todos já perceberam, que estamos vivemos dias de gerra e sem a mínima perspectiva de melhora, nestes quadros deprimentes e que parecem não acabar.
Talvez seja imperativo buscarmos nossas próprias saídas, através de uma auto analise pessoal como indivíduos e cidadãos e tentarmos controlar nossas pequenas violências, afim de suprimir pela raiz as grandes e que atingem tantos inocentes.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...