Uma peça descartavel- Part 2


Hoje é o terceiro dia que passo na rua Leopoldo Machado Soares, do lado do edifício onde moro e vejo a peça descartada, ainda na caixa de plástico vermelha. Tenho preferido andar pelo outro lado da calçada, pois as moscas tomaram conta e o cheiro deve estar insuportável.
Muitas pessoas como eu, devem ter visto aquele cão morto, jogado por ali, mas ninguém quer tomar partido desta coisa tão cruel e desrespeitosa, nem mesmo o serviço de limpeza publica.
Eu pensei em colocar do lado dele, algum tipo de cartaz escrito: "Aqui um cão morto e abandonado por seus donos,  que não tiveram a dignidade de enterra-lo." - mas a chuva destes dias com certeza apagariam as letras. Eu talvez ainda me dê ao trabalho de fazer isto, antes de sobrar apenas seus ossos.
Ah! enquanto escrevia este texto, aqui no blogue, percebi da janela, que três homens de uniforme laranja, do serviço de limpeza publica, se  aproximavam do local. Certamente o levaram embora.

Andróides e bonecos de cera.

Eu fico sempre com pé atrás, com aqueles caras, que usam a barba cortada bem fininha, delineando o contorno da face e não usam bigode; O cabelo bem cortado e brilhante como se  faltasse alguma coisa de humanos neles, um tipo que me lembra um boneco de cera, ou um androide cujo o modelo saiu de circulação. Esta figura que considero estranha, me causa uma certa apreensão. Eu sinto uma vontade de jogar água sobre eles, para ver se entram em curto circuito.

Modificações pessoais necessarias

Resolvi modificar a forma de como escrevo os textos no meu blog. Acho que meus textos estavam muito politicamente corretos e isto fazia com que eu me sentisse um pouco afastado do que eu particularmente considero ser eu mesmo e do que acredito. Não acho que sou sempre correto e equilibrado, para escrever coisas politicamente corretas e que pareçam estar posicionadas no conforto das palavras que todos gostariam de ler. Acho que devo ser mais incisivo, mais profundo, mais duvidoso e contraditório nas minhas colocações do que atualmente tenho sido, sem medo de parecer emocionalmente doentio e mal resolvido. Afinal é tudo isto que somos, um amontoado de sentimentos  paradoxais a procura de uma verdade ou mentira incontestável. Na Sexta-feira quando recebi alguns amigos em minha casa, discutimos sobre essas questões. Por que esta necessidade de parecer-mos aquilo que não somos ou de tentar-mos esconder nossos ódios, rancores ou mesmo parecer-mos equilibrados neste mundo que nos dá tombos a toda hora? A  transcrição no papel ou em gestos e palavras de nossos medos, anseios, alegrias, burrices, futilidades e loucuras, nada mais é do que  a revelação corajosa  do que somos, como indivíduos únicos e com o objetivo de causar reações a quem as recebe mesmo achando tudo uma idiotice.

QUANDO É QUE EU FIQUEI MALUCO.

Eu lembro muito bem quando foi que eu fiquei maluco. Eu fiquei maluco, quando minha mãe me segurou pelos braços com medo e meu pai bêbado, me mijou na cara, um liquido quente e cheirando `a cachaça.
Daí por diante, eu também passei a mijar, só que nas próprias calças, até os seis anos de idade e virei piada em toda a família. Acho que eu intimamente, queria voltar a sentir aquele cheiro horrível de mijo em cima de mim. 
Depois passei a ter medo de aranhas e de um homem apelidado de João do Poço. A não dormir à noite e a falar com fantasmas. A acreditar que o correto era usar os calçados nos pés de forma contraria. A beber somente suco de uva, achando que era sangue e eu um vampiro imortal. A mastigar bagana de cigarros que encontrava na rua. A odiar minha mãe, por que ela gostava do meu pai. A não confiar na minha avó, após ela ter me convencido a colocar meu dedo na boca de um rato, preso numa ratoeira para testar minha masculinidade. A trancar minha irmão menor dentro do guarda-roupas, só para vê-la chorar. A ter raiva do professor de biologia, que um dia me passou a mão na bunda. A sentir vergonha quando meu tio descobriu que eu me masturbava no banheiro e contou para todo mundo na minha frente... 
Depois eu fiquei por um longo tempo calado, simulando sorrisos e vigiando meus gestos, para que acreditassem que eu era um ser absolutamente normal.

O passeio michou!

O passeio planejado pela Serra do Pinto, michou por conta da cara feia do tempo neste final de semana. Achei inadequado num dia encoberto de nuvens e chuvoso como o de hoje, subir a serra onde pouca coisa poderia ser vista. Oportunidade de dias melhores e ensolarados não faltará para conhecer-mos  este belo lugar e tirar muitas fotografias. Agradeço a presteza de meu colega que foi guarda florestal do lugar e teve a gentileza de desenhar um mapa com os principais pontos a serem conhecidos.

Uma peça descartavel.

Pela manhã, quando saí para o trabalho, encontrei um cão morto, dentro de uma caixa de plástico sobre a calçada da Rua Leopoldo Machado Soares, na Intercap onde eu moro.
A forma como ele estava acomodado, ainda deveria estar vivo quando foi largado ao relento e a própria sorte. As pessoas  não tem mais a dignidade de enterrar seus mortos; parece mais conveniente abandona-los na rua, em qualquer lugar, em qualquer situação como uma peça descartável e isto me revolta demais.
Algumas vezes eu penso em mudar-me da cidade para algum lugar mais rural, cercado de mato  e   tranquilidade, embora eu sinta um pouco de receio de morar isolado e ser assaltado ou morto por algum delinquente de plantão ou ainda morrer de depressão cercado de árvores e muito silencio. Não sei o que seria pior, mas ainda não desisti de tratar estes medos e providenciar alguma mudança neste sentido, mesmo que seja apenas experimental. Hoje decididamente me senti numa nova estação, este clima meio chuvoso, me deixa mais introspectivo e também menos cansado. O cansaço para algumas pessoas como eu, é mais mental do que físico, mais emocional do que muscular.

Meu inimigo mora do lado

Tem um cara que mora na pensão de estudantes aqui do lado de casa, que não gosta de mim. Eu sinto isto por que quando eu passo por ele, ele fica com aquele jeito camuflado de quem esta em vigilância, que é quando a pessoa te observa pelo canto do olho, embora pareça estar olhando na outra direção. Nós nunca trocamos uma única palavra, mas sei que não sou aceito por alguma razão que talvez eu nunca  venha a descobrir.  
No principio, ele nada significava para mim, apenas uma imagem comum, de alguém comum, fazendo coisas comuns, até o dia em que fixou seus olhos sobre mim e percebi sua  expressão de desaprovação, náusea e falta de simpatia. Eu agora estou no aguardo de reconquistar meus velhos poderes mágicos, chegar na sua frente e desintegra-lo com meus próprios olhos, por que me cansei de fingir ser correto.

Teoria da positividade

Hoje li no blog Canudos Coloridos, um texto escrito por Guy Franco, que eu chamarei de "receita pratica para a felicidade", embora não seja própriamente esta a função do texto, mas achei muito engraçado e diz o seguinte:

"_Sem medo de ser feliz, sem medo de ser feliz, sem medo de ser feliz. Repita isso umas cinco vezes até a expressão começar a fazer sentido na sua cabeça. Vamos lá. Em frente ao espelho, repita: Sem medo de ser feliz, sem medo de ser feliz. Entende do que eu estou falando?"

Esta teoria da positividade fez eu lembrar de uma amiga, já falecida e que foi casada com um  cara muito magro. Ela depois de experimentar varias correntes filosóficas e espirituais com o objetivo de ter uma vida emocional mais centrada, encontrou uma que veio de encontro ao que ela chamava de (menos complexa e possível de seguir). Ensinaram-lhe um exercício, que segundo ela, era capaz de modificar o perfil emocional e energético das coisas não aceitáveis ou que produzissem energias negativas com o meio, interferindo-se nas boas relações de convivência. Através de pensamentos positivos era possível  provocar verdadeiros  milagres de transformação. Ela então repetia, inicialmente em voz alta, inúmeras vezes para o marido do qual ela não  aceitava que fosse tão magro: 
"_O  fulano é gordo, o  fulano é gordo, o fulano é gordo, ele é perfeitamente gordo!" E enquanto conversava com ele, interiorizava esta situação imaginaria repetindo pra si  em silencio. Na verdade ele nunca aumentou nenhum centímetro se quer do que era, somente a falta de paciência com ela.

A grande Lua.

Foi algo de encher os olhos no Sábado passado - dia 18, quando olhei para o céu da janela do meu quarto e percebi que a lua estava tão grande e brilhante que parecia antecipar situações de ordem sobre naturais. A lua deste Sábado foi a maior em quase 20 anos. Dados publicados por especialistas na Internet, informaram que este é um fenômeno raro, bem mais raro do que a Lua Azul que acontece uma vez a cada dois anos e meio. A última Lua Cheia tão grande e tão perto da Terra ocorreu em Março de 1993, foi o que informou Geoff Chester, do Observatório Naval dos EUA, em Washington.

Alguma armadilhas que não consigo lidar...

Foi uma surpresa encontrar o Jerson ontem, aquela hora da tarde tão chuvosa, numa das ruas da cidade que não parecia a nossa, mas outra cidade desconhecida de um lugar qualquer. Nos reconhecemos de imediato, eu de macacão azul, muitos quilos à mais e ele de jeans, camisa social e um suéter bege que não combinava com os cabelos de um amarelo queimado pelo Sol e muitos fios grisalhos.  
Acho que no primeiro momento, quando cruzamos nossos olhares, houve uma reciproca negação, como se não quiséssemos nos reconhecer depois de mais de 30 anos, com os aspectos físicos bem diferente do que fomos no passado aos 16 anos.
 _Nossa que coincidência, tu por aqui?.. Eu estava passando, quando esta senhora desmaiou e então decidi chamar a ambulância! Será que ela vai ficar bem? -Acho que foi isto que ele falou num meio sorriso...
_Eu já te informo assim que terminar!- respondi num tom de voz tenso e desajeitado, enquanto examinava a paciente sentada numa cadeira de plástico colocada sobre a calçada e protegida pela marquise.
Lembrei rapidamente que muitas e muitas noites em que varamos a madrugada jogando conversa fora, ele tocando musicas de Jorge Ben e Vinicius de Moraes no violão, enquanto tentávamos encontrar respostas para aquelas perguntas complexas guardadas em nós e que quando se é jovem,  se tem aos montes e  só são respondidas com a maturidade que mais tarde, exige novas questões urgentes. 
Ele estava parado na rua entre outras pessoas que amparavam uma senhora de rosto muito pálido e então levei alguns minutos para me localizar diante de toda a situação. 
Sua voz continuava a mesma, pontilhada, controlada, porém  tomada de uma timidez e nervosismo talvez  atribuída a toda a  situação incomum em que se encontrava.
Eu me achava em alguns momentos ausente do que estava fazendo e também incomodado, uma vez que me desconforto ao trabalhar sob olhares curiosos e mais ainda, com a armadilha que o destino  havia me provocado, sem eu estar preparado. 
Nunca imaginei este encontro e se tivesse que idealiza-lo não seria desta forma, num momento atribulado do trabalho e sob o olhar publico de desconhecidos.
Sua presença me inibia tanto quanto me causava um sentimento nostálgico. Inexplicavelmente não conseguia aceitar este encontro cujo o espaço de tempo nos roubou afinidades e agora nos posicionava um diante do outro de forma tão formal e distante. Fiquei sem ação. O que dizer naquele momento: É.., pois é..,vai continuar chovendo hoje?..
Depois de colocar-mos a paciente dentro da ambulância, ele posicionou-se na porta com  a expressão menos assustado e despediu-se agradecendo nossa atenção com um breve sorriso reticente. 
Depois que cheguei em casa, fiquei pensando no porquê coloquei a culpa em coisas tão subjetivas, me eximindo de responsabilidades. Era só apertar o botão, me desarmar, abrir um sorriso e depois contar uma outra história final.

Roendo ossos e lambendo os dedos

Num dado momento, tudo começa a ficar chato e repetitivo e então você passa a roer os ossos da relação, que foi somente o que sobrou.., mesmo estando noutra...
Enquanto você vai roendo, vai lembrando do que foi antes, do quanto saboroso e  prazeroso foi um dia, sem as queixas diárias de cansaço, de desafetos e perseguições no trabalho, da falta de dinheiro e de sexo, da solidão e tantas outras conversas que se tornaram  desnecessárias por que afinal, estamos noutra à lamber os dedos.
Eu gostaria antes de publicar esta postagem, de uma totalidade que esmagasse o prescindível!
Devo pedir desculpas quando uso algumas  palavras rudes para esclarecer o que estou sentindo? A franqueza por vezes é uma arma, não é um bom negócio também nas amizades, não mantém de pé a politica da boa vizinhança e isto provoca magoas. Eu sinto muito por não aceitar e deixar registrado em palavras o que me incomoda e que me abstém de leveza e tranquilidade.

Aproveito a musica gravada por Bethânia para completar minha idéia:
"Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser e de dizer coisas que podem magoar e te ofender mas cada um tem o seu jeito todo próprio de amar e de se defender.."

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...