Carta Vieja Carmenére 2008/ Chile. Faltou corpo que aveluda a lingua e encanta no primeiro gole, no primeiro momento que se guarda em alguns segundos dentro da boca, depois excedeu um certo toque amargo que persistiu e não passou boa impresão. Não aprovou!
Trilhas sonoras da vida
Ontem, na casa de meu irmão pôr ocasião de seu aniversário, a família e alguns amigos estavam reunidos. Entre muitas gargalhadas e brincadeiras coletivas, assistíamos alguns vídeos de cantores americanos dos anos 70 da coleção particular de meu irmão. Lembrava-me de algumas musicas, mas sem saber ao certo onde exatamente elas se encaixavam na minha história. Pôr breves minutos tive aquela sensação de que o tempo passou rápido para mim, minha família e todos ali reunidos e que aquelas musicas eram no momento, algum ponto de atração que nos puxava para um mesmo espaço em comum do passado, onde todos de alguma forma foram felizes a sua maneira, então restava cantar, lembrar e aplaudir com muita saudades aquelas trilhas sonoras inesqueciveis de nossa vida.
Auto-encenação
Há duas maneiras de nos relacionarmos conosco e com os outros: Acreditar no que realmente somos ou ver nossas faces como personagens de nós mesmos e é quando utilizamos alguns tipos de disfarces e tentamos convencer a nós e aos outros sobre aquilo que pensamos que somos e que criamos no nosso mundinho falso. Muitas vezes passamos até a acreditar nestas mentiras (e em cima disto, alicerçamos histórias, emoções, opiniões que não são as nossas, que são inventadas, forjadas por este personagem que criamos). Isto acontece por que de alguma forma ficamos inseguros, temerosos de que percebam alguma fragilidade em nossa vida, que nos tornemos fracos, incapazes na opinião dos outros. Mas vale a pena lembrar que nossa opinião sobre nós mesmos é tão ou mais importante, que a destas pessoas que tentamos nos esconder, nossa opinião tem um peso muito maior que julgamos saber no perimetro da consciencia, somos duros com nos mesmos. Foi assim que me percebi semana passada, quando levantei o telefone e me pus a conversar com algumas pessoas que eu não falava há meses e que eu já percebera ter perdido a minha confiança nelas ou que talves nunca tivesse tido. Fui sentindo que meus gestos e expressões se modificavam na medida em que ia falando sobre mim mesmo, justificando-me após cada opinião que formava a respeito de algo na minha vida, era subjetivo, parecia tentar provar onipotencia e assim afasta-los do que realmente sou e que talvés precisasse na urgência de minha insegurança esconder. Por alguns instante me parecia com uma outra pessoa, falando de outra pessoa, criando um falso discurso que nem eu mesmo acreditava. Por outro lado, elas alimentavam este meu discurso, fazendo perguntas em cima de perguntas, se mostrando curiosas de saber tudo sobre a minha vida embora não se importasse com isto, curiosos sobre a minha grande mentira.
Falando de viagem
Rita deu um pouco de seu tempo para me contar sobre sua viagem para a Europa e em particular sua impressão a respeito de Roma, Paris e Atenas, cidades que por razões pessoais mais lhe chamaram a atenção por sua beleza. Enquanto falávamos percebi em seu olhar um entusiasmo que eu julgava fosse maior quando converssasemos a respeito. Fiquei pensando se é possível visitar um lugar destes sem ficar basbaquiado com sua arquitetura, museus, pontes, cultura, tudo que se pode ver e sentir nestes locais aclamados pela opinião geral. Lembrei-me de alguém ter me dito que depois de algum tempo viajando tudo parece ser um lugar comum, como se uma ruela em Paris fosse parecida com uma outra na Argentina, um vale na Espanha lembrasse algum recanto no sul do Brasil, Pittsburgh com Recife e então as pessoas não percebem mais as diferenças... Estar na Bélgica e como estar em qualquer lugar, isto é possível? Na minha opinião viajar tem que ter um gosto maior do que simplesmente conhecer lugares, é visitar com olhos de conquista, com a atenção de quem busca o diferencial em pequenas detalhes que talvés não seja encontrado na arquitetura, nos pontos turísticos, mas nas relações que se cria entre você e as pessoas, entre você e o meio. Em diferentes locais é necessário ter um olhar diferente. Observar detalhes, captar elementos que vão alem de sua historia. Sim por que cada recanto, vila deve haver alguma história, algum segredo. Impossível pensar na Torre Eifel, apenas como um gigantesco monumento de aço. Precisamos nos deixar seduzir, agregar emoções, observar ou criar situações que virem referencia em nossa vida, que atinge nossa alma, para que um dia possamos nos lembrar. Com certeza aquele banho de Anita Ekberg, no Fontana di trevi no filme La doce Vita, acho que jamais foi esquecido por ela como por todos que a assistiram.
A culpa é de Deus?
Agora pela manhã liguei para o celular de uma colega de trabalho, e que considero muito mais que isto, mas uma grande amiga em se tratando do tempo que nos conhecemos e que dividimos um com o outro nossos problemas pessoais e luta profissional por mais de vinte anos. Ela estava na rua quando me atendeu e informou-me com tristeza sobre o falecimento de sua mãe dia 14, sendo atendida por uma equipe do SAMU. Insatisfeita e revoltada com a qualidade do atendimento que foi prestado à sua mãe, disse-me que buscaria os recursos legais para processar o serviço que não valorizou o estado grave em que se encontrava sua mãe quando foi solicitado e durante o socorro. Fiquei perplexo enquanto ela me dava a noticia, com a voz triste o ocorrido com sua mãe, dona Bibi, que eu conhecia de tanto tempo e indiscutivelmente criei laços, como se fosse um familiar meu. Envergonhado de fazer parte deste serviço do qual ela se queixava e que hoje, enfrenta tantos problemas internos quanto estruturais, que tenta abraçar os problemas de saúde de uma cidade que cresce à margem de um defasado numero de recursos técnicos pertinentes a todo o problematico complexo de saúde neste país, como (pessoal, centros de emergências, ambulâncias, hospitais, recursos), com uma legislação bonita de se ler no papel, mas que no dia a dia é impraticavel. Fiquei naquele situação delicada de quem não pode ficar em cima do muro e que precisa tomar partido de algum lado da situação, a dor de minha amiga ou as explicações formais de um serviço instituído, legalizado, informatizado, do qual faço parte e sei que algumas vezes não recolhe informações corretas de quem solicita o serviço e então envia o recurso errado, às vezes nem envia, que desacredita e descredibiliza profissionais de funções menores que atendem na linha de frente. Talvés eu devesse visitar minha amiga e dar-lhe tapinhas nas costas dizendo que havia chegado a hora de sua mãe partir e que nada poderia ser feito, nem mesmo pelo SAMU, talvés eu devesse lhe dizer que eu acreditava que tudo foi feito com a maior competencia, desde o acolhimento médico na hora do chamado até o atendimento final realizado pela equipe, mas eu não tenho certeza de nada!.. Não, eu não consigo ser hipócrita o suficiente para encenar este teatro e acho que ela deveria ir sim em busca da verdade, apurar responsabilidades se tem duvidas sobre o ocorrido ou apenas se consolar, fingir que aceitou e colocar a culpa como a maioria das pessoas fazem, em Deus.
O trote
Hoje é domingo e ainda tenho de trabalhar. O telefone começou a tocar 4h 30 min. da manhã por que alguém do outro lado da linha resolveu passar trotes ou algum golpe e eu fui o escolhido. Foram três absurdos e insistentes pedidos de socorro de alguém que se dizia minha filha, que simulava a voz de uma adolescente chorando e pedindo ajuda, que se dizia estar nas mãos de bandidos. Eu não tenho filhas e então resolvi desligar o aparelho da parede depois da terceira insistencia, imaginando que se não o fizesse viriam frases agressivas falando em sequestro, dinheiro, morte e outras barbaries. Resolvi afastar-me daquele clima, sai do quarto e fechei a porta. Aguardei meu horário de ir para o trabalho sentado na sala, já sem sono., irritado. Impossivel não deixar de se alterar com uma ligação destas, na madrugada interrompendo o sono, mas não quis pensar em quem estava do outro lado, se era simulação ou verdade, se alguém precisava realmente de ajuda, dar vazão ao desespero, preferi acreditar no possível golpe já conhecido e que tantas pessoas foram vitimadas, talvés pra mim fosse mais facil acreditar nisto. Chovia la fora e ouvia a chuva bater na calçada de concreto, nas caixas de proteção de ar-condicionado. Lembrei de meu filho que vi algumas horas antes e combinamos assistir um vídeo juntos nestes poucos dias de ferias escolar. A chuva parecia não desistir de cair, o telefone decididamente eu deixara mudo e trancado no quarto, abri a porta e saí para o trabalho fingindo despreocupação.
Ensaio sobre a Cegueira
Imagine que de uma hora para outra tu percas a visão e depois gradativamente todas as pessoas a tua volta, vizinhos, amigos a cidade, o país inteiro, numa epidemia repentina e inexplicável e todos acabam cegos e reduzidos pela obscuridade, a meros seres lutando por seus instintos. Ensaios sobre a cegueira é um drama que descreve o colapso humano e urbano com a destruição da sociedade perdendo tudo aquilo que se considera civilização. Mostra o caos e a luta das pessoas para se adaptarem a falta destes sentidos (visão e civilidade) e o preço a pagar por isto. Mais do que tudo, é uma reflexão dos valores humanos na medida em que são obrigados a confiar um nos outros para continuarem a sobreviver com a diferença do que eram para o que se tornaram, obrigados a rever valores morais e humanos indistintamente.
Baseado no livro de José Saramago.
Ensaio sobre a Cegueira tem a direção de
Fernando Meirelles e o Título original -Blindness
Ano: 2008/ Brasil-Japão-Canadá.
Baseado no livro de José Saramago.
Ensaio sobre a Cegueira tem a direção de
Fernando Meirelles e o Título original -Blindness
Ano: 2008/ Brasil-Japão-Canadá.
Esquecimento
Ontem à noite, eu falava com minha irmã pelo telefone enquanto ouvia de fundo a voz de minha mãe me advogando:
_Não briga com ele, deve estar muito cansado, por isto esqueceu!.. Mas minha irmã, continuava sem dar ouvido à ninguém, braba com minha falta.
_Tu esqueceste do meu aniversário seu mer...
Meu Deus, era verdade! Esqueci inclusive do dia da semana, do mês, do ano... Como pude esquecer do seu aniversário, da menina que eu trancava dentro do guarda-roupas e que ainda hoje sei que precisa de tanta atenção.
_Não briga com ele, deve estar muito cansado, por isto esqueceu!.. Mas minha irmã, continuava sem dar ouvido à ninguém, braba com minha falta.
_Tu esqueceste do meu aniversário seu mer...
Meu Deus, era verdade! Esqueci inclusive do dia da semana, do mês, do ano... Como pude esquecer do seu aniversário, da menina que eu trancava dentro do guarda-roupas e que ainda hoje sei que precisa de tanta atenção.
Estranhos de nós mesmos.
Encontrei uma mulher no posto de saúde que assim que teve a oportunidade se aproximou de mim e disse sorridente:
_Acho que não esta lembrado de mim! Sou a sobrinha da Teresinha, a tua amiga, lembra?.. Acho que não vais te lembrar pois eu era adolescente ainda e tu era bem jovem, mas te reconheci, assim que entrastes naquela porta, os olhos, o jeito!..
Depois da surpresa, fiquei buscando, pensando.., meu Deus, claro que não lembrava dela...e nem com um largo esforço conseguí lembrar da adolescente que foi. Falava de coisas em comum e que cruzavam na minha memoria meio reticente, falho, mas que com certeza foram situações que vivenciamos juntos, fechava! Agora era uma mulher feita, uma estranha mulher dizendo-me que se lembrava de mim, de anos atraz em visitas em sua casa, em sua família... Me senti desconfortável, embaraçado, como se estivessemos falando de outras pessoas que não éramos nós, envergonhado pela falta de lembrança, sendo subjugado pelo meu próprio esquecimento, incomodado com o que o tempo faz com a gente: 'Um estranhos de nós mesmo'. E ela continuou, empolgada por ter se lembrado de tudo, feliz por ter me encontrado mesmo me achando mais velho. Talvés meio irritada de eu ter esquecido.
_Acho que não esta lembrado de mim! Sou a sobrinha da Teresinha, a tua amiga, lembra?.. Acho que não vais te lembrar pois eu era adolescente ainda e tu era bem jovem, mas te reconheci, assim que entrastes naquela porta, os olhos, o jeito!..
Depois da surpresa, fiquei buscando, pensando.., meu Deus, claro que não lembrava dela...e nem com um largo esforço conseguí lembrar da adolescente que foi. Falava de coisas em comum e que cruzavam na minha memoria meio reticente, falho, mas que com certeza foram situações que vivenciamos juntos, fechava! Agora era uma mulher feita, uma estranha mulher dizendo-me que se lembrava de mim, de anos atraz em visitas em sua casa, em sua família... Me senti desconfortável, embaraçado, como se estivessemos falando de outras pessoas que não éramos nós, envergonhado pela falta de lembrança, sendo subjugado pelo meu próprio esquecimento, incomodado com o que o tempo faz com a gente: 'Um estranhos de nós mesmo'. E ela continuou, empolgada por ter se lembrado de tudo, feliz por ter me encontrado mesmo me achando mais velho. Talvés meio irritada de eu ter esquecido.
De olhos bem fechados
Eu achava que não era sonho. Eu acreditava que era real e podia ouvir o cavalgar veloz do cavalo negro pelo corredor estreito do pátio de casa durante a madrugada. Era fascinante e assustador. Eu apertava meu corpo contra as paredes da casa, de olhos bem fechados para que ele não me atropelasse e daí eu morreria. Eu sentia o seu cheiro e o vapor que saia de sua boca. Eu nunca acreditei que fosse sonho, sempre pensei que fosse real e até hoje tenho esta dúvida do que de fato acontecia!..
COMO SE FOSSE..
Me acordei cedo para trabalhar sentindo-me tão normal, equilibrado, envolvido nestes conceitos de aceitabilidade para com as coisas que normalmente me ponho contra e me rebelo. Então me veio a letra de uma musica do Fagner na cabeça que ficou presa em mim quase que o dia todo. Nada a ver com que eu sentia, mas ela ficava ali dentro de mim repetitiva, como ave saltando, como se eu buscasse energia para conquistar as estrelas.
"De azul carinho Vi a noite pintada Fosse alegre como ave soltando Fosse triste como ser virgem Fosse linda como a conquista Das estrelas, das estrelas De azul carinho Veio o desenho pintado Jeito de amar desesperado Mais chorando que vivido Como se vivê-la fosse não vê-la."
Fagner/Capinan
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