Sonrisal na agua

Hoje fui ao teu encontro pensando te achar como ontem, para diminuir minha raiva, pra deitar a cabeça no teu colo e ficar quieto, sem pensar em nada, sem dizer nada, apenas me manter em silencio. Sinto distanciar-me de tudo, afastar-me não sei pra onde, desaparecendo, sumindo, partindo, efervecendo-me como Sonrisal na agua!

FALE COM ELA.

Assisti nesta semana o filme de Almodóvar, Fale com ela e me perguntei pôr que não o tinha assistido antes. Tem perguntas que não temos respostas, assim como presentes que sem razão, deixamos escapar pôr entre os dedos pôr pura desatenção, acho que foi isto que aconteceu. Desatenção, nada mais explica!

O filme é maravilhoso, um convite ao espectador entrar dentro do universo humano feminino e conhece-lo sem esperar retorno imediato pois o ganho vem de si mesmo., no silencio, no amor. Almodovar esmiuça o universo masculino feito de sentimentos como solidão, desamparo e renúncia amorosa. Para perscrustá-lo, inverte alguns sinais e dá a seus dois protagonistas características femininas. 
Marco não só é sensível ao extremo e chora pôr situações que qualquer outro homem habitualmente não choraria, como Benigno, que parece ser efeminado ou mesmo assexuado. Explora magnificamente a incomunicabilidade nas relações, o dar e sentir sem a possibilidade de retorno. Você pode estar se perguntando o que pode haver de surpreende e polêmico em um filme onde duas mulheres estão em coma e dois homens trocam experiências sobre a vida, acredite, nas mãos de Almodóvar muita coisa. 

Fale com ela conta ainda com uma participação especial de Caetano Veloso, que tem sua música (cucurrucucu paloma) inserida no filme de forma apaixonante, e ainda numa cena de toureada magnifica, Elis Regina empresta sua voz na musica "Por toda a minha vida"- de Tom Jobim. Sem me estender muito, aconselho a não fazer como eu de ficar tanto tempo sem assistir o filme. Surpreenda-se!

...Engrenando...

Depois de um dia de trabalho:
  1. Futebol de salão e gritos da torcida no club.
  2. Duas cervejas Bock bem geladas.
  3. Vaca atolada entre colegas alegres.
  4. Um chá quente e amargo para evitar a azia.
  5. Almadovar ao chegar em casa.
Vou tentar dormir para um novo dia de trabalho!..

O leitor

Depois eu conto!.. Mas acho que não estou a fim de contar. Não vou contar! Parece que tem coisas que queremos guardar só pra gente!

Cores de Almodovar e Frida Kahlo

Acordei pensando em quanto necessita-se para ser feliz. Muito.., pouco.., muito pouco ou apenas pouco de muito que exigimos?.. Então desisti de pensar nisto, tomei o rumo da rua e me fui em busca de um objetivo. O objetivo naquele momento era encontrar uma locadora nas redondezas do qual pudesse pegar um filme e assistir tranquilo na cama enquanto a chuvinha enssoça persistia em cair. Talvés um vinho?... Não!, vinho bebi ontem depois que todos sairam!.. Viver sozinho parece te dar uma dimensão maior de liberdade que percebi ser falsa, uma média amplitude do que fazer em prol de si mesmo nos dias de folga, nos dias em que não se está muito afim de abraçar obrigações necessárias e rotineiras. Daí, surge a perspectiva de estar a deriva num grande mar de possibilidades e ainda em duvidas pra onde se jogar... A única locadora aqui perto, porém longe, estava fechada, sobrou-me então olhar a vida, as pessoas caminhando caladas pelas calçadas molhadas, as árvores, as praças, a chuva, as cores, as canções que surgem na cabeça.
É, e eu percebi que precisava de muito, muito mais coisas neste momento para estar feliz!
"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores..." - *Adriana Calcanhoto.

Vinho, pinhão, amendoim torrado

Agora que todos se foram, abro a janela e observo a lua escondida entre nuvens., (parece que esta janela virou uma espécie de altar dos meus rituais intimistas!). Bebo uma taça de vinho que ganhei hoje e então sorvo-a com vontade como se engolisse a vida, absorvo-me em mim mesmo, na intimidade de meus pensamentos, na loucura que navego sem pesares. Todos se foram mas ainda percebo suas presenças, seus cheiros, a energia desprendida de seus corpos, seus movimentos pela casa. Todos se foram mas parece que ainda estão por aqui invisíveis, marcando alguma tipo de presença que não vejo, mas sinto vagar no ar. Deixaram suas almas que mais tarde baterão minha porta e irão a procura de seus corpos, que sairam antes. Presentearam-me delicadamente com vinho, pinhão e amendoim torrado.

Areia movediça

Começamos a nos encontrar com uma certa frequência e isto não me fazia mal até eu perguntar-me sobre os por quês. Disse-me que algumas situações semelhantes em nossa infância provocou esta atração de amizade, este reconhecimento interior que nos aproximou a ponto de termos tantas coisas para dizer um ao outro. Mas será que temos mesmo o que dizer um ao outro, será que isto é verdadeiro? Não me sinto suficientemente confiante, aberto para recebe-lo como talvez ele esperasse que eu fosse. Pôr vezes penso estar pisando em areia movediça e então me disponibilizo pela metade, me ponho em alerta como um guardião esperando o momento de afastar ou eliminar a fera do meu espaço.

Conjugar o verbo morrer

Eu sei, tu sabes e acho que todo mundo sabe que um dia iremos morrer embora seja difícil conjugar este verbo no "nosso tempo" e de que forma acontecerá. Abandonaremos esta carcaça velha e partiremos para algum lugar com nossa alma, espírito ou sei lá como chamar, intacto, jovem, como se nenhuma alteração tivesse sofrido com o decorrer do tempo, ao contrario do nosso corpo que vem perecendo dia após dia. Mas fico pensando também, que se depois de mortos, não tivermos mais esta consciência dos dias em que vivemos por aqui, na terra, perderemos toda a referência, as lembranças boas e más, os amores, os amigos e aí que graça tem?... É como ganhar o prêmio Nobel sem nunca sabermos que ganhamos, ser reconhecido por algo somente depois de morto, como os pintores do século passado que nunca souberam que viraram gênios de suas obras. Será que o premio final é isto, a inconciência de tudo que somos e que vivemos? Ontem à noite quando atendi um homem atropelado na avenida e percebi que não havia mais vida naquele corpo, jogado sobre uma poça de sangue e que uma de suas pernas fora amputada e arremessada do outro lado da calçada, percebi também a fragilidade das coisas e a rapidez com que se transformam em outras. Ali estirado, não parecia ser gente, era um pedaço de carne ensanguentada e imóvel. Cobri seu corpo com um lençol e afastei-me repetindo pra mim mesmo que era um homem e que talvés nem percebera que havia chegado a sua hora.

De mãos dadas

Vi na rua uma idosa com a expressão preocupada segurando a mão de um menino que carregava uma bola. Ele tinha o olhar inocente e perdido. Esta cena comum fez-me lembrar de minha avó que dizia proteger-me do mundo e das maldades da vida. Hoje eu sei que ela protegia-me inclusive de mim mesmo.

Nova esperança

Por vezes sonho acordado e estes sonhos são tão reais que fazem-me acreditar que não me levarão às margens das impossibilidades, daquilo que minha mão não alcançará por estar além do seu alcance. Mas sei que são desejos que me absorve a alma, agita meus hormônios, meu sangue na perspectiva de um novo caminho. O dia também se fez novo por aqui, iluminado com o nascimento do sol e pássaros cantando na minha janela. Esta sinfonia não deve ser em vão. Daí veio então esta canção na lembrança, que ouvi algum tempo, na voz de Elis, enquanto eu abria a janela:

"Nova esperança, bate coração, renascer cada dia como a luz da manhã. Despertar sem medo, enganar a dor. Disfarçar essa mágoa que anda solta no ar...

Ter que acreditar no regresso da estação, como o sol volta a brilhar, como as chuvas de verão. Ter que acreditar só pra ter razão. De sonhar mais uma vez...

Nova esperança, bate coração, Renascer cada dia como a luz da manhã. Semear a terra, certo de colher, da semente o fruto, depois descansar..."


A visita inesperada

Margarita chegou em minha casa depois que toda a visita já tinha ido embora. Tinha o olhar da desconfiança e os movimentos cuidadosos de quem procurava pistas incriminadoras, de quem é vítima de fantasmas que criou a cerca de minha vida. As vezes penso que minha alegria é sua tristeza, que minha liberdade sua prisão. Margarita é boa gente, mas não se liberta destes fantasmas que a aprisionam-na e que talvez nunca se livre em minha companhia.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...