NÁUFRAGOS.

E de repente um cheiro peculiar me levou para um outro lugar e eu segurava teu rosto com as duas mãos espalmadas fixando meus olhos dentro dos teus meio assustados com a minha atitude inesperada. E nós estávamos nus sobre a areia quente de um deserto que inexplicavelmente começou a brotar grama por todos os lados e foram crescendo tão rápido que nos cobriu por inteiro. O Sol virou nuvem e então ficou frio. E eu me deitei no chão em posição fetal e tu tentavas me cobrir com o teu corpo dizendo: _Acorda, acorda, não durma!.. E eu não queria acordar, só queria ficar ali quieto e morrer sem acordar com o teu corpo sobre o meu feito lápide.

LA DOLCE VITA DE FELLINI E A ULTIMA CENA.

Estive pensando que o mundo é cheio de símbolos e que a vida da gente é cheia de situações simbólicas, de comunicações falhas e pouco compreendidas, dificultadas por mecanismos externos que por vezes não identificamos de onde vêem e que afetam a nossa sensibilidade e percepção. Dai, sobra a escolha que mais se adequa aos nossos anseios imediatos, mesmo que depois viemos a nos arrependermos... 
Lembrei disto ao rever ontem a cena final do filme 'La Dolce Vita' de Fellini, que pra mim é um dos melhores.
Observe a tentativa de comunicação entre a menina Beatrice e Marcello na beira da praia, prejudicada pelo ruido do vento e do mar e evidentemente pelo seu próprio desinteresse em ouvi-la, de compreender o que a garota estava querendo lhe dizer. 

Observe o olhar da menina depois que ele se afasta, observe seu ultimo olhar, lançado na nossa direção perguntando-nos se também desistimos, se perdemos a inocência ou a razão de viver.




Esperando Godot

Então eu corri as pressas para casa na ânsia de deixar quase tudo que a mim me cabia, pronto. Poderia ter sido uma noite agradável de sorrisos e vinho tinto se não fosse a ligação desanimadora desmarcando tudo em cima da hora e a outra que fiquei esperando e não recebi. Sobrou apenas cinzas da expectativa desfeita e uma garrafa de vinho que beberei mais tarde, como Wladimir e Estragon na estrada, esperando Godot!

Pode ser que tudo mude quando chegares em casa

Pode ser que tudo mude quando tu chegares em casa e leres no espelho do banheiro com creme dental -Eu te amo!
Pode ser que tudo se transforme quando alguém te disser que teu café tem um sabor especial e que ninguém faz igual.
Que teu corpo é mais quente...
Que teu olhar tem mais luz que os outros olhares...
Que teu sexo é mais gostoso...

E aí tu ficarás pensando pra onde tudo isto vai te levar e que tipo de responsabilidade tens sobre tudo isto!
Basta ouvir: - Eu te amo?

Fato curioso

Mandaram-me esta semana, um motorista novo, para trabalhar comigo, chamado Gil e então durante um agitado atendimento de um paciente com falta de ar, gritei por seu nome para que me alcançasse algumas coisas que eu precisava no momento. Havia entre as pessoas que estavam a nossa volta observando o atendimento, uma senhora que ao virar-se e olhar curiosa para os meus cabelos volumosos disse para uma outra a o seu lado: _Ele deve ser o Zé Ramalho!

Mascara de Paz e paciência

Meu colega de trabalho andou me achando um tanto ansioso nestes poucos dias que trabalhamos juntos, depois de seu retorno das férias, inclusive não me permitia usar com frequência o rádio de comunicação, somente quando era extremamente necessário. Disse-me que eu ficava muito estressado e tornava-me agressivo pôr motivos às vezes desnecessários. Fazia brincadeiras provocando meu senso de humor. Eu bem que me esforçava para melhorar e evitar que alguns enguiços funcionais e pessoais me atingissem , mas em alguns momentos era difícil impedir que me afetassem de maneira a sentir muita raiva e me deixasse angustiado e insatisfeito com tudo. Então me mostrava mais calado e ausente, transformado em alguém que não sou e que os outros desconhecem, usando mascaras que simulavam paz. Mas alguns dias depois, fiz um atendimento que surpreendentemente salvou minha (auto-estima), então pude me livrar dos enguiços e retirar minhas mascaras de vez...

Fuso-horários

Algumas pessoas parecem viverem num fuso-horário diferente da gente, mesmo vivendo no mesmo país, na mesma cidade e com isto provocando desencontros absurdos que te fazem surtar se não estivesse embuido de paciência e esperança cristã. No momento em que tu precisas fazer um contato, não atendem ao telefone pôr que estão dormindo, se tu ligas mais tarde estão no banho e liga de novo o telefone está ocupado e liga mais uma vez saiu para o supermercado, o celular desligado, até tu desistires de vez e entregar este encontro, a sorte, ao acaso, a coincidência de tropeçarem na mesma calçada exclamando com surpresa:
_Meu Deus, tu pôr aqui, precisava demais falar contigo hoje, mas tu não me liga!
Daí tu tentas explicar que tentou mas não consegue por que recebe uma avalanche de explicações misturadas com problemas simples mas inaceitáveis.
_Precisamos conversar, mas agora estou com presa, minha vida está uma loucura, nem te conto. Vê-se me liga, estou sempre em casa! Tu não me ligas!..
Tic-tac, tic-tac, este é o ruído de um relógio, ou de uma bomba pronta para explodir e acabar com tudo, inclusive com uma amizade! Brincadeira, não quero ser demasiado irônico, ou digamos venenoso neste comentário! Mas estive pensando que algumas situações na nossa vida se sobrepõe ao nosso entendimento, mesmo sendo simples, humanamente simples de se compreender como atrasos, mal entendidos, desencontros, o difícil é as duas partes se entenderem neste rebuliço de que provocamos.

Chico Maravilha nós estamos por aqui...

Hoje acordei pensando no Chico. Engraçado, devo ter sonhado com ele, pois quando levantei da cama tudo parecia mais iluminado e diferente, como se eu não acordasse agora, em Junho de 2009, mas num dia ensolarado em 1970 e via ele caminhar na minha volta ou então ter falado com ele a poucos minutos. Chico foi um amigo que tive na juventude e que se diferenciava dos outros pela sua alegria de viver e energia com que encarava as coisas e de um espirito transformador. Lembro-me que com ele assisti meu primeiro filme nacional na tela grande do cinema Miramar e que mais tarde virou ícone, "Toda a Nudez Será Castigada- do Jabor." Em 72 ele resolveu criar um jornalzinho quinzenal de rua e que sobreviveu não mais de três meses, era financiado por comerciantes locais da rua onde morávamos e destinava-se alem de propagandas, falar de futebol e fazer fofócas de vizinhos. Organizou também um time de voleibol entre jovens da nossa rua para competir com outros jovens de outros bairros. Soube mais tarde que Chico casou-se, teve filhos, mudou-se para um bairro distante e antes de completar cinquenta anos, morreu de um câncer ósseo. Tocava violão e era fã de Jorge Ben Jor, brincava algumas vezes que as musicas "Fio Maravilha" e "Taj Mahal" tinham sido feitas para ele.

Opiniões inesperadas

Hoje enquanto trabalhava, lembrei-me de um cara que conheci numa festa e que mais tarde veio a ser meu amigo no Orkut. Enquanto conversávamos e trocávamos informações, disse-lhe que trabalhava com socorro nas ruas, numa ambulância, o que ele surpreso, me respondeu prontamente:
_Eu não sirvo para isto, não daria certo eu ficar juntando gente quebrada no meio da rua, até por que eu não sinto pena delas!..
Eu fiquei na ocasião quieto e pensando a respeito de sua afirmação inesperadamente honesta e sem rodeios e perdi a oportunidade de dizer-lhe que também com raras exeções, sentia pena das vítimas que ainda hoje atendo.
Acho que por puro preconceito, fiquei envergonhado de lhe dizer isto.

Eu e a loura de Klimt

Fiquei na cama até bem próximo do meio dia enrolado em cobertores de lã quente e entregue à preguiça. Liguei a TV e virei o rosto para o lado oposto, ouvindo somente o som e sentindo os reflexos das imagens nas paredes brancas do quarto, nos frisos da persiana cinza. Sobre a minha cabeça, lembrei da gravura da mulher loura de Gustavo klimt, também enrolada em cobertas coloridas e em silencio como eu.

Palavras soltas

As vezes me vem a cabeça palavras soltas ou frases que me parecem sem sentido quando tento ouvir oque estou pensando e fica aquela sensação de idéias vagas, descoladas da lógica, descompromissadas de razão e vai fermentando outras novas idéias fugazes. No final encontro alguma lógica ou recaio em desculpas temperadas por motivos naturalmente óbvios, desculpáveis!

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...