A bruxa buscava Salvador, quando este dormia, cansado, quase hipnotizado das rotinas de seus dias normais. Esperava o estagio certo de sua entrega ao sono e então invadia-o sem permissão, induzindo-o a sonhos estranhos, dividindo-o em dois seres; O que segurava sua mão para passeios mágicos e o que ficava na espreita cuidando para que o corpo não se fosse. Voavam sobre telhados e causavam transformações, assumiam lutas e desvendavam mistérios incompreensíveis. Ela sabia que ele era um dos escolhidos e precisava inicia-lo mesmo sabendo de sua resistência, de seu apego as situações comuns de sua paralela vida. Um dia, presenteou-o com uma pedra azul, que dizia ser magia, incomum, oferecida exclusivamente para ele, que era também incomum, na esperança de conduzi-lo a o que ela achava ser inevitável...
A maré
O mar invadiu de repente o calçadão decorado, onde as pessoas caminhavam e dali podiam admirar toda a sua grandeza, o seu poder e beleza. Corroeu por baixo, formando crateras, túneis, expondo raízes; Lambeu por cima roubando os ladrilhos portugueses que enfeitavam o passeio, manchando muros, arrancando flores, arrebentando degraus. Num dia beleza e no outro total destruição. As pessoas atônitas, e com supostas respostas, foram embora arriscando motivos para todo aquele estrago impiedoso.
*Calçadão da praia de Caiobá-PR
*Calçadão da praia de Caiobá-PR
Rosito
Rosito era irmão de Joca, marido de Marta, pai de Januaria e morava na Cidade Baixa. Era Jornalista e deficiente físico desde que nasceu. Veraneava no Siriú e cantarolava Caetano Velososo e Tom Zé enquanto molhava os pés na espuma do mar. Disse-me uma vez que sua deficiência incomodava as pessoas por que sua postura dava a impressão de que estava embriagado. Pessoa sensível, culta e sofrida. Tivemos uma amizade intensa e rápida por que nossas vidas mudaram de curso. Muitos anos depois, quando entrei na UTI do Pronto Socorro onde trabalho, encontrei-o deitada em uma cama, com aparelhos na boca. A enfermeira disse-me que tinha sido atropelado. Dias depois quando retornei à UTI, encontrei sua cama ocupada por outro paciente.
Namoro e promessas
Algumas vezes eu ia até o Escaler do Toninho beber alguma coisa e ver pessoas. Conhecia Lauro e Elen de lá:
Lauro que era arquiteto conheceu Elen que era psicóloga, no circo "Escaler Voador". Ele usava batas largas de algodão crú e ela saias compridas de crepe indiano. Namoram-se e apaixoram-se. Lauro prometeu construir uma bela casa para eles. Elen prometeu cura-lo desta doença.
Lauro que era arquiteto conheceu Elen que era psicóloga, no circo "Escaler Voador". Ele usava batas largas de algodão crú e ela saias compridas de crepe indiano. Namoram-se e apaixoram-se. Lauro prometeu construir uma bela casa para eles. Elen prometeu cura-lo desta doença.
Feitiço
Alguns dias pela manhã tem sido assim: Levantar cedo por força do habito, banho quente, café preto passado direto na caneca, pãozinho francês aquecido no microondas, notbook sobre a mesa da cozinha. Tem dias que amanhece com sol e outros meio nublado, então corro até o quarto para cobri-la melhor, observar seu descanso a distancia, seu sono profundo. Não quero acorda-la, somente observar-la sem fazer ruídos, como um bruxo que rouba traços da alma sem querer mostrar-se.
Maria Conceição
Quando Conceição se turbinava fumando seus (baseados), despia-se por completo ignorando eu e o resto dos moradores. Caminhava pela república completamente solta, nua e despreocupada com quem estivesse a sua volta. Os garotos que moravam nas redondezas competiam entre si, esperando vê-la passar por traz das largas janelas de madeira enquanto cantarolava musicas de Janis Joplin. Conceição namorou Carlos, depois Lídio. Foi mais tarde fazer medicina numa cidade do interior e nunca mais a vi.
Marisa
Marisa e eu desempregados, passávamos as noites inteiras comendo polenta com caldo Knnor e café preto. Falávamos sobre nossas decepções amorosas, nossos medos e fragilidades. As vezes nem dormíamos. Fazíamos de nossos encontros uma psicoterapia de queixas, silencio, gargalhadas e leitura de cartas um dia recebida, um dia escrita e nunca enviadas. Foram dias de tristeza e pobreza passados juntos, ancorados em uma forte amizade e superados pelo tempo. Hoje quando nos encontramos na rua ou na internet, lembramos com certa saudades esses tempos difíceis, mas vividos com intensidade e sentidos como vitória.
AS ROSAS
Enquanto ela caminhava pelos corredores do supermercado, eu escapei de seus olhos e fui até a floricultura encomendar rosas. Escolhi as mais belas e diferentes do balcão.
Disfarçava de vez em quando para que ela não percebesse minha intenção. Quando as entreguei notei lágrimas de felicidade em seus olhos. Os clientes que passavam surpreendiam-se com as lágrimas e as rosas lilases nunca vistas antes.
O gato

O gato passeia pelo muro do edifico ao lado. Olhar de felino Siamês de um profundo azul que esconde segredos. Sempre nos vigiamos desconfiados. Eu da minha janela que se abre silenciosa e ele de sua rota marcada. Temos missões secretas que jamais confiaremos um a o outro, talvez nem para nós mesmo, animais urbanos.
Enquanto o resgate não chega
Pela manhã quando cheguei em casa após um plantão de 24 horas, não quis deitar para dormir, tomei um banho e sai a procura de gente. Tinha urgência de ver pessoas, que considero amigas. Ver seus rostos, observar seus gestos, ouvir suas vozes. Quando as encontrei, percebi mudanças não tão significativas em algumas delas, mudanças provocadas talvez por suas vidas borradas de pequenos problemas, insatisfações pessoais, estresse do trabalho e algumas pequenas alegrias ditas comum, previamente esperadas... Rimos, bebemos café e até contamos piadas com pouca graça. Voltei para casa menos tenso, e com a sensação de sermos náufragos de um mesmo barco encalhado e na expectativa e esperança de um resgate que demora a chegar, mas que temos um ao outro para nos aliviar enquanto o socorro não chega.
DOLORES DURAN
Eu amava Dolores Duran e tudo que cantava sem nunca te-la conhecido. Imaginava uma mulher com um vestido comportado como era os da época, cantando debruçada sobre uma janela, expondo o seu olhar triste, melancólico, para quem passava na rua.
Depois, por algum tempo, confundia-a com Cacilda Becker a dama do teatro. Somente depois quando esta paixão tendeu a aumentar é que fui em busca de seu rosto estampado em algumas revistas da época. Minha mãe, também fã da cantora, ensaiava dentro de casa, algumas de suas musicas temperando minha sensibilidade musical de criança e seu cansaço pela labuta da vida .
Depois, por algum tempo, confundia-a com Cacilda Becker a dama do teatro. Somente depois quando esta paixão tendeu a aumentar é que fui em busca de seu rosto estampado em algumas revistas da época. Minha mãe, também fã da cantora, ensaiava dentro de casa, algumas de suas musicas temperando minha sensibilidade musical de criança e seu cansaço pela labuta da vida .
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