CANÇÃO IX



Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo

Pensando

Que se a mim não me deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.

E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata

Apenas tu, dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas suas águas.

NÃO ERA DESTE MUNDO

Um corpo se juntou a o meu, na madrugada.
Deitou na minha cama e me abraçou do nada. 
Estava escuro e eu não quis me virar.
Não quis verificar.
Fiquei imóvel.
De olhos fechados.
Calado.
Coração acelerado.
Assustado.
Que desafio tão complicado.
Não quis saber quem me abraçou naquela madrugada
Tentando me aquecer. 
Me envolver.
Fiquei ali parado.
Apavorado.
Asfixiado.
Pensando que aquele corpo
 talvez não fosse deste mundo.

OLINDA- PERNAMBUCO

 “Ó linda situação para se construir uma vila”.



A HISTÓRIA:
Eu ouvi falar de Olinda ainda na escola, por uma professora nordestina que coincidentemente se chamava Olinda: Um lugar entre colinas, fundado por um fidalgo português, chamado Duarte Coelho, que tomou posse da região, quando está, ainda era habitada por índios, no período que foi instituído as capitanias hereditárias pela realeza portuguesa.
Olinda é uma das mais antigas cidades brasileiras, tendo sido fundada (ainda como um povoado) em 1535 pelo primeiro donatário.
Foi a cidade mais rica do Brasil -Colônia entre o século XVI e as primeiras décadas do século XVII, chegando a ser referida como uma "Lisboa pequena", dada a opulência, só comparável à da Corte portuguesa.


Depois de povoado, Olinda prosperou chegando a posição de vila e mais tarde invadida e depois  incendiada peles holandeses, nas disputas por terras. 
Olinda foi perdendo seu espaço para Recife, onde seus invasores se estabeleceram e prosperaram.
Muitas edificações foram saqueadas e levadas para Recife, localizada a 7 quilômetros de Olinda. Somente em 27 de janeiro de 1654, os holandeses foram expulsos e iniciou-se a lenta reconstrução da Vila de Olinda.




O QUE ENCANTA NA CIDADE:
Olinda até hoje desperta encantos, por apresentar uma arquitetura colonial com casinhas e sobrados coloridos, pois naquela época não era usado números nas residências, eram identificadas apenas pela cor vibrantes das fachadas.


As ruas sinuosas e estreitas são iluminadas por lampiões de luzes amarelas nas fachadas das casas, sem postes e com calçamentos de pedras, muitas retiradas do mar. Essas pequenas ruas descem colina a baixo e desembocam em praias de águas límpidas, morna  e cor esverdeada.


CENTRO HISTÓRICO:
Subindo a Ladeira Da Misericórdia, chega-se no seu centro histórico, onde é possível vislumbrar a beleza do mar, com algumas barreiras naturais e a cidade de Recife.
Foi no alto desta colina, que surgiu o nome da vila, a partir de uma exclamação feita por seu donatário Duarte Coelho: “Ó linda situação para se construir uma vila”.


Sua vida noturna e agitada, com muitos bares e restaurantes que disputam espaço no centro histórico e na beira-mar. Durante o dia, alem da maravilhosa praia, feiras de artesanato comercializam diversos trabalhos de artistas locais por preços acessíveis.


BASÍLICA DE SÃO BENTO:
É a igreja mais rica de Olinda, fundada em 1582 com um altar de madeira banhado de ouro 22. Este altar foi desmontado 2001 em 52 peças e levado para Nova Iorque, numa exposição que comemorava os 500 anos do Brasil. Possui também o quadro mais antigo do pais, mais ou menos 400 anos, em estilo renascentista com a imagem de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro.
Também é a unica igreja em que a imagem de Cristo fica virado para a rua e de costas para o altar. O Convento de São Francisco e suas quatro capelas com azulejos portugueses e a Igreja da Sé, de onde se tem a clássica panorâmica da cidade, tendo Recife e o mar como pano de fundo. 


Vale a pena também conhecer: O antigo observatório astronômico de Olinda, do século XIX, atualmente fechado sendo restaurado e transformado num Centro de Informações Turísticas.

MERCADO DA RIBEIRA:
Neste local eram presos e comercializados os escravos e hoje transformado num mercado de artesanato.




ELEVADOR PANORÂMICO E MIRANTE DA CAIXA D'ÁGUA DA SÉ:
Inaugurado no final de 2011, o elevador panorâmico e o mirante da caixa d'água da Sé de Olinda, são as mais novas atrações turísticas do Sítio Histórico. A 20 metros do solo, o mirante descortina uma visão de 360 graus de Olinda e do Recife, assim como o elevador. A viagem é R$ 5,00 e pode ser feita das 14h às 17h.
Listada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, Olinda possui 22 templos católicos e 11 capelas de singular beleza par se conhecer e nunca mais esquecer.



CARNAVAL E OS BONECOS GIGANTES:
Uma das principais marcas de Olinda é o Carnaval e o desfile dos Bonecos Gigantes. Confeccionados de madeira, papel e tecidos, estes bonecos são conduzidos pelas ruas da cidade, animando os foliões. Um dos bonecos mais conhecidos e tradicionais é o “Homem da meia-noite”.
Estes bonecos são representações de importantes personalidades históricas do Brasil e do mundo. Políticos, músicos, atletas e artistas famosos são transformados, com muito talento e arte, nestes lindos símbolos do carnaval olindense.


Todos os anos, mais de um milhão de foliões participam da festa popular. São aproximadamente 500 grupos carnavalescos que desfilam pelas ruas, principalmente do centro histórico de Olinda desembocando na região dos 4 Cantos, uma encruzilhada formada por 4 ruas que se encontram. Além dos clubes carnavalescos, saem às ruas clubes de frevos, blocos, maracatus, troças, afoxés e caboclinhos.
Olinda é a mais antiga entre as cidades brasileiras declaradas Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO, e foi o segundo centro histórico do país a receber tal título, em 1982, após Ouro Preto.
Tambem foi eleita a primeira Capital Brasileira da Cultura, após concorrer com as cidades de Salvador e João Pessoa.

Até o próximo passeio!

TUDO MUDOU.

Nada mais em mim responde aos teus apelos.
Nem minhas células,
Nem minha alma,
Nem eu mesmo, respondo.
Tudo mudou de rumo, pra outra direção.
Não tenho mais essa compulsão,
De fazer e ouvir reclamações.
Não te dou atenção.
Fechei meus ouvidos,
Meus olhos.
Minha atenção.

CIDADE TRISTE.


Quando caminho num dia cinza, como o de hoje, com chuva e vento frio me batendo na cara, árvores sacudindo nas calçadas e pessoas em silêncio seguindo seu rumo, sinto cruzar as fronteiras de um filme mudo, que ficou lá para traz, em algum lugar esquecido do pensamento.
Vem a saudades de um poeta que se foi, de uma praça que se esvaziou, de uma rua que não sei onde vai dar, nesta cidade tão triste que os grafites tentam alegrar.

TESTOSTERONA.

Existe um homem que há nos homens, 
que desperta alguns sonhos, 
que libera certos hormônios,
com cheiro desconhecido, 
mas familiarizado aos mais íntimos sentidos.

Existe um homem que há nos homens, 
Que de tão quieto, não é notado, percebido.
Que de tão forte, é vigiado, perseguido.
Que de tão belo e audaz é temido.

Existe um homem que há nos homens,
camuflado de resistências,
que não se dobra a insistências,
 Que pra ser conquistado,
somente com muita
Paciência.

COM MEUS BOTÕES

Neste jogo em que algumas pessoas se submetem a viver como gladiadores não para manter sua acuidade de sobrevivência, mas a vaidade pessoal, nada pode lhes garantir uma soberania para toda a sua existência.
Ingênuos são os que acreditam nisto. São apenas peças manipuladas por um jogo maior de interesses e vaidades que logo perderá sua funcionalidade e também irá cair. 
É inacreditável as pessoas não perceberem que o que é novo hoje, se torna velho amanhã e como diz a musica do Belchior: "O novo sempre vem..."

PANDORA E GIRALTO

Te levanta, abre a porta.
Nada aqui nos conforta.
Nada ilumina ou da cor ao teu olhar , nem ao meu.
O que te prende aqui, não sou eu.
Acenda a luz por favor.
Já é tarde, ainda não amanheceu.
A casa está vazia e só reflete sombras. 
Só falta nós abrirmos a porta e sairmos sem alardes.
Os outros já se foram.
Nosso tempo se esgota, nos derrota.
Te levanta, abre a porta, acenda a luz.
Transportemo-nos para além deste sofá vermelho e das paredes cinzas.
Talvez num outro lugar, encontremos guarida entre alamedas floridas.
Há nas Dálias, Rosas, Lírios, Hortênsias, partes de nós, esparramados entre raízes que brotam no meio das pedras, na mata, nos rios, nos caminho das estradas altas da serra de outro mundo.
A luz virá natural, como um eclipse, numa noite de Natal.
Te levanta, abre a porta.
Vem.
Quem sabe partir, seja o nosso presente.
Nos alimentaremos de luz e néctar.
Passearemos de mãos dadas.
Tu Pandora e eu Giralto.

RACIOCÍNIO COMPLEXO


É preciso paciência para entender este raciocínio complexo:
O que se perde é o que se ganha. 
O que parece menos é mais. 
E o profundo é tão raso, que podemos atravessar a pé,
sem medo de nos afogarmos.

VENUSTO.

Não, eu não sei falar bonito ou dar grandes opiniões. Não sei lidar com as palavras, assim como muitas mulheres daqui, que passam a maior parte da vida, na beira do riacho lavando, ou na frente do fogão cozinhando.
Só sei, é que perto da hora em que tu chegas do trabalho, cansado, preparo o que aprendi de minha avó, que também ensinou minha mãe, sem muitas palavras.
Corto as cebolas que tenho, esmago todas as cabeças de alho que perfumam a casa, quebro os galhos de alecrins, louros e outras ervas que colho do mundo e jogo no cozido,  alvoroçando toda a vizinhança.
Sirvo-te em silêncio, com arroz soltinho, na mesa arrumada sem assuntar, por que não tenho palavras bonitas e de grande importância pra dizer.

QUE NÓ É ESTE.

Que nó é este, 
Que não se desfaz.
Que tanto aperta,
E se refaz.

Que me tira o sono,
Que me desperta
Que me completa
E me repleta.

E de repente me esvazia 
A qualquer hora do dia.
E não estia.
Me fatia.

E dá uma dor, 
Uma nostalgia,
de certas coisas que eu nem sabia

Que nó é este
Que me sufoca,
Desaparece e logo volta.
Retorna com tanta energia
E me desafia.

SABIÁ.

Sabiá que canta,
que me transplanta do sono,
que me desperta antes da luz clarear,
do dia chegar.

Sabiá escondido, no arvoredo,
o gato malvado quer te pegar.
Atrevido,
exibido,
não para de cantar e
querer me fazer acordar,
me levantar,
me preparar,
para ir trabalhar.

CONVITE FEITO

Apenas uma mensagem
e tua curiosidade se acendeu. 
Respondeu.
Apareceu.
Veio ao meu encontro todo molhado.
Cansado.
Desconfiado.
Sabendo que deveria ficar.
Arriscar.
Ficou. 
Tentar o que nunca tinha feito. 
Se embaraçar. 
Se questionar
Até chorar.
Correr o risco.
Feito corisco
Se mostrar.
Sem se anunciar.

DA GIRA

Uma reza.
Uma oração.
Uma canção.
Despeja tanta emoção.
Bate em meu coração.
Saia rodada.
Perfumada.
Transfigurada.
Bonita.
Transita.
Incita.
Dança como se não dançasse pra ninguém.
Colar de contas. 
Temperado com cachaça e dendê.
Não posso morrer.
Tenho que viver para ter
neste ilê


"Numa tarde, quando eu vi pombas Giras voando, girando, dançando."

ACALANTO.

Deita
O sono já chega
E o corpo cansado
Quer se aconchegar

Dorme
A noite é tão pouca
E o dia já volta
Pra te despertar

Lia, cozinheira e babá
Rita faz amor pra viver
Clara que trabalha por dois
Nina que nem sabe o que fazer

Se amanhece o sonho se vai
Mais um dia pra se viver
Vidas que o destino constrói
Ilusões que o tempo vai varrer

Nina sonha já ser mulher
Rita quer um vestido de outra cor
Clara sonha um tempo de paz
Lia quer sonhar com seu amor

Dorme
Que amanhã é tempo
De recomeçar


Esta musica de Mario Gil, interpretada por Monica Salmaso é uma das coisas mais bonitas que já ouvi nos últimos tempos. Linda, linda. feminina, sensível.

CANÇÃO V

Quando Beatriz e Caiana te perguntarem, Dionísio se me amas, podes dizer que não. Pouco me importa ser nada à tua volta, sombra, coisa esgarçada no entendimento de tua mãe e irmã.
A mim me importa, Dionísio, o que dizes deitado, ao meu ouvido.
E o que tu dizes nem pode ser cantado porque é palavra de luta e despudor.
E no meu verso se faria injúria
E no meu quarto se faz verbo de amor

Hilda Hist./ Zeca Baleiro.

CALIFÓRNIA DAQUI.

Califórnia daqui, underground.
Usa o skate de tapete.
 De manhã milk shake.

Revigora.
Se isola.
Ignora.
Às vezes aparece,
Tocando viola.
Olhos de mau,
Radical,
Não intencional.

Olhos rasgados.
Puxados por um risco atravessado,
Desenhado.

Tesoura na mão.
Cabelos no chão.
Transformação.

Tufo dourado na cabeça.
Coroa com certa estranheza,
Diferente beleza,
Uma certa tristeza.
Flecha veloz nas plataformas de rua,
Nos corrimões,
No concreto armado,
Descolado,
Arremessado.

Não sofre nenhum arranhão.
Presta a atenção.
Apenas a sensação,
Que tem o mundo nas mãos.



TRUNCA


Sempre que repetia os erros, 
Sentia que melhorava.
Então não rebatia,
Não refletia,
 Só insistia na rebeldia.
Persistia nos erros, até chegar aos acertos,
Mesmo com alguns defeitos
E assim fazia a maquina funcionar,
Truncar,
Incendiar,
Ate tudo se ajeitar,
Se arrumar.
Mordia os lábios ate sangrar,
Depois voltava a teimar.


FERIADO NACIONAL

Quando levantou da cama, ao amanhecer, o dia parecia sombrio. O sol pouco evidente, espalhava seus filetes de luz, por entre as arvores, na rua ainda deserta de gente e sem automóveis barulhentos.
Não sabia ao certo, o motivo daquela sua primeira impressão, mas percebeu folhas avermelhadas, nos galhos de pitangueiras e um gato branco, sentado num muro grafitado.
O dia, particularmente aquela manhã, lhe parecia mais lenta que o normal. Nada intencional, mas com aquela cara de feriado nacional.

SANGUE NAS VEIAS.

As veias das mãos e dos braços, turgiam quando ele fazia alguma força, ou movimentava o volante do Cadillac azul para leva-la a passear.
Ela observava-o perfumada, no banco de traz, com discrição e controle de seus impulsos, para não tocar com a ponta dos dedo aquelas mãos e braços e sentir a intensidade com que o sangue corria dentro delas, quente e vermelho.
Haveria muito mais a ser percebido sobre seus  secretos sentidos, não fosse esconder os olhos, que se perdiam na direção da rua, um tanto envergonhados, olhando a paisagem passar.

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