O QUE EU QUERIA DIZER E NÃO DISSE


Ainda sinto na boca o gosto da ambrosia feita por dona Neuza e que ontem coloquei na lista das melhores ambrosias que já comi, com grumos grandes e sem excesso de açúcar, no ponto! Eu queria ter dito tantas coisas ao marido dela que comemorava ontem seu aniversário, mas minha timidez inicial, e as manifestações de alegria dos convidados que chegavam, acabaram falando mais alto e terminei esquecendo. Eu queria deixar registrado em palavras a importância de se conviver com uma pessoa como ele: Simples, natural, alegre, criativo, sincero, bem humorado e de alma jovem, que declama e faz poesias, que canta canções antigas comigo quando saímos em ocorrências e que eu me sentia um privilegiado de trabalhar ao seu lado . Pensei também que no caso dele, deveria dispensar as palavras, por que o mais importante é o que a gente sente e eu estava muito feliz de estar ali naquele momento confraternizando. 
Nestes últimos meses, aprendi muito com sua convivência, dividindo experiências, discutindo objetivos pessoais, sonhos. Observo suas atitudes, seus momentos de emoção e seu modo criativo de enxergar e se posicionar diante da vida. Não conheço ninguém com 63 anos que possua tamanha grandeza de espirito, energia e disposição para fazer de seus dias momentos de prazer e alegria como ele faz.

Sem encaixes

Quando eu abri a porta e ela saiu de mochila nas costas, me perguntei o por que não estava mais sendo tão bom nossa compahia como foi um dia e então percebi que quando um laço maior se quebra, parece que todo o resto começa a se esfarelar em fragmentos menores que são difíceis de encaixa-los. Talvés ela não retorne para o churrasco combinado de hoje e me telefone dando uma desculpa passiva de se entender!

Parte de mim estava lá.

Eu tinha que ter postado este texto no domingo, mas ele não acontecia por razões que desconheço. As palavras não vinham, as letras não saiam e então hoje sem maiores esforços a coisa vingou como um piscar de olhos, natural e espontâneo:

Eu só pensava no magnifico banho ao chegar em casa depois daquele domingo de sol entre amigos e o tradicional churrasco de família. Na volta pra casa, enquanto dirigia, vinha em silencio que parecia-me ser alguma forma de insatisfação que eu não identificava ao certo, mas que aos poucos fui esmiuçando as ideias até perceber que se tratava da mesma sensação de quando eu retornava de lugares que pra mim tinham sido satisfatórios, bons, no aspecto de companhias simples, agradáveis e que me punham a vontade ou de lugares que me transmitiam paz e harmonia entre eu e o que estava a volta. Um acertamento ou integração íntima difícil de explicar. Era isto, eu estava chateado de ter deixado pra traz momentos de prazer, de intensa alegria, de bem estar entre pessoas que ali estavam e haviam me proporcionado ficar a vontade no grupo, com simplicidade, autenticidade, sem posturas socialmente elegantes e cuidadosas. Me sentia como uma criança que ganha um presente e não quer ser afastado dele nem para dormir. Ainda comentei com uma amiga sobre o que estava sentindo ao deixar as pessoas pra trás e vir embora
: Uma espécie de melancolia que cabe bem nesta cantiga de Roda que todos nós bem conhecemos e que um dia certamente cantamos: "O anel que tu destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era doce e se acabou..." Inumeras vezes quando voltava de Bombinhas para casa, sentia isto, como se parte de mim ficasse por lá e só retomaria de volta, quando eu voltasse no verão seguinte!

NOTA DE SATISFAÇÃO

Todos os finais de mês quando vou pagar uma fatura, me surpreendo positivamente com o atendimento prestado aos clientes e usuários do Banco Itaú. Os caixas operadores que são apenas dois, são gentis e prestativos sem serem enjoados, assim como os vigilantes educados e de postura profissional. Jamais te olham com ar de arrogância ou desconfiança na porta rotativa de segurança como assistí e vivenciei em outros bancos estatais. Aliás, não lembro daquela porta ter sido travada comigo ou outra pessoa desde o primeiro dia em que por ela cruzei. Também não sei se é mérito apenas desta agência na rua Barão do Amazonas ou mérito de um banco privado e que particularmente dá confiança, segurança e certeza de um serviço humanizado e competente. Mais uma coisa, não sou cliente deste banco, apenas um usuário que utiliza o serviço!

Frase no embrulho

"As pedras em que tropeçamos e juntamos para construir castelos, nem sempre são construídos, guardamos nos bolsos para jogar no mundo como forma de vingança!.."
Esta frase é de um autor desconhecido, escrito á mão no embrulho do super mercado que eu trouxe para casa hoje. Achei a frase tão pesada quanto o embrulho e ficou pesando na minha cabeça ainda por alguns minutos depos que joguei no lixo.

Saudades do que fomos

Me pergunto se é possível sentir saudades de nós mesmos, não falo daquilo que vivemos ao longo da vida, mas da forma como enxergávamos as coisas na nossa volta, aquilo que um dia fomos interiormente e que foi se perdendo pelo caminho, para dar lugar ao que somos e chamamos de maturidade e nos transforma em pessoas mais seguras, prudentes. As vezes penso que a maturidade só nos traz mais dúvidas por que eu tinha muito mais certezas antes, do que tenho agora. Lembro de mim mais jovem, infinitamente mais sonhador e apaixonado, desejando conquistas cuja algumas ficaram presas em impossibilidades absurdas que ajudei a construir e tento desenlinhar, sonhos que substituí por outros, vivências que me deixaram marcas e quando lembro-me, dobro o lábio num sorriso involuntário. A juventude nos torna heróis vivos ou super herois, nos faz viver no limite de nossas emoções, transforma pecados em milagres. Vendo minha mãe sentada numa cadeira de balanços, cabelos grisalhos, mais silenciosa do que já foi, penso nas limitações físicas e emocionais que adquiriu com o tempo e que tambem já foi jovem. E eu seguirei esta mesma estrada, diminuirei minhas palavras até que emudeça minha voz e as cores percam o tom?.. Luto para que isto não aconteça, para que minha alma continue num processo oposto embora saiba que impossibilidades surgem.
Olho para aquela faixa que desaparece no infinito e lembro do dia quente que fez ontem. Hoje sopra uma brisa que ontem talvez fosse necessaria. Amanhã um pedaço de hoje com certeza me fará falta.

LEMBRANDO DE ANA TERRA.



Até as onze da manhã ninguém atendia o telefone móvel ou fixo. Caixa de mensagens vazia. Talvez todos estivessem offline. Será que todos resolveram levar flores no cemitério e enfrentar aquele engarrafamento de pessoas tristes com flores nas mãos, saudosas e silenciosas?
Este ano não ventou, não aconteceu o conhecido vento característico do Dia de Finados, a o contrario, veio um Sol forte, bom para quem está na praia, tomando um banho de mar e neste momento fazer uma pequena introspecção para lembrar o quanto seria bom a companhia daquela pessoa que partiu se estivesse ali juntos, compartilhando alegrias da vida, aproveitando este belo dia. Desta forma é possível avaliar a morte, vivendo a vida.
Agora, penso na inexplicável relação que tenho com o vento e sei que no Dia de Finados, ele sempre se apresenta deixando a própria marca, rara exceção ao de hoje, então passo a lembrar-me de Ana Terra, do Livro "O Continente"- de Érico Veríssimo cujo um trecho diz o seguinte:

"E de novo o povoado ficou quase deserto de homens. E outra vez as mulheres se puseram a esperar. E em certas noites, sentada junto do fogo ou à mesa, após o jantar, Ana Terra lembrava-se de coisas de sua vida passada. E quando um novo inverno chegou e o minuano começou a soprar, ela o recebeu como a um velho amigo resmungão que gemendo cruzava por seu rancho sem parar e seguia campo afora. Ana Terra estava de tal maneira habituada ao vento que até parecia entender o que ele dizia, nas noites de ventania ela pensava principalmente em sepulturas e naqueles que tinham ido para o outro mundo. Era como se eles chegassem um por um e ficassem ao redor dela, contando casos e perguntando pelos vivos. Era por isso que muito mais tarde, sendo já mulher feita, Bibiana ouvia a avó dizer quando ventava: "Noite de vento, noite dos mortos..."

Sem palavras

Ontem fiquei pensando no que dizer para aquela mulher de quarenta anos, magra, negra, com curso superior que lançava sua opinião numa roda de amigos sobre discriminação e preconceito racial, que achei bonita, mas depois mudei de opinião:
_Minha professora de Sociologia inúmeras vezes levantava discussão sobre os problemas do racismo e pregava a igualdade de direitos entre todas as raças embora eu sentisse que ela não acreditasse no que estava falando!
_Eu percebo que uma grande parcela do preconceito racial, parte do próprio negro contra a sua raça!
_E eu não namoro negros. Não sinto atração por eles. [ Risos]. Gosto de homens brancos , de olhos claros e que tenham carro, disponibilidade e condições de me levar a ambientes caros para jantar e passear!
Nossa, somos todos livres, ao menos pensamos que somos e por isto cada um fermenta suas ilusões até no caldeirão da própria ignorância! Olhando depois para seus cabelos com um aplique de fios lisos e de cor avermelhada que caia até o final das costas pensei até onde ia sua falsa identidade e o que acumulou desta vida além de preconceitos.


NO CLIMA DE FERIAS.


Cheguei a pouco do passeio que fiz ao centro de Porto Alegre, na 55a Feira do livro, no Museu do Exército, que existe já a dez anos, sem que eu soubesse e expõe uma coleção de veículos de combate e transporte, uniformes, armas, equipamentos (capacetes de vestuários de combate), fotos e documentos do período colonial aos dias atuais. A entrada é franca de segundas a quintas- feiras das 8h as 12h.
A Igreja Nossa Senhora das Dores com suas paredes, teto, altares, meticulosamente trabalhados, lustres e portas gigantescas e em reforma do piso e consequentemente toda empoeirada.


O restaurante ao lado da Casa de Cultura Mario Quintana onde comi uma deliciosa picanha grelhada por apenas 15,00 reais, salada verde e arroz branco. Mas o que mais me chamou a atenção foram as pessoas sentadas nas calçadas almoçando, bebendo, comendo sorvetes a o ar livre e em trajes leves, dando a sensação de uma cidade praieira, uma cidade que não corresponde ao perfil da Porto Alegre que tenho como registro. Dava-me a sensação de que a qualquer momento, quando virasse meu rosto para uma das ruas que cruzavam a Dos Andrades, enxergaria água e não aquele muro vergonhoso que esconde o rio.


No final da Andrades, onde deixei o carro, sentei-me numa praça com árvores enormes e extensa área de sombra onde era possível sentir uma brisa livre vindo do Guaíba. Pessoas deitadas sobre a grama, namorados se beijando e até dois senhores em volta de uma churrasqueira improvisada ao ar livre da praça, num clima de leveza absolutamente incomum. Decididamente esta não parecia ser a cidade onde moro e que tantas vezes encontrei-a barulhenta, agitada, sombria e sem graça. Era outra cidade que eu desconhecia por consequência de um fim de semana grudado num feriado!

Entrando em clima de férias

Hoje é sábado e promete fazer um bonito dia de sol. Como sempre, não consegui me manter na cama e levantei abrindo todas as janelas para arejar o clima de abafamento da noite passada e da meia garrafa de Martini que esvaziei. Hoje é meu primeiro dos quinze dias de férias que passarão voando se eu não estiver atento as possibilidades de desopilação, descanso e muito lazer que surgirem nos próximos dias. Gostaria de ter falado sobre inúmeros assuntos aqui no blog, como a manifestação discriminatória dos alunos da Unicaban contra a colega que usava um mini vestido vermelho ou rosa e com grande repercussão na mídia, sobre a postura anti- ética de uma profissional médica nesta semana, quando levei um paciente para ser avaliado no posto de atendimento na Lomba do Pinheiro. Quero entrar no clima de férias e ao menos por estes dias me manter afastado destes temas que me causaram vergonha e mal estar!

Sem perceber os sinais

Ela não lia os sinais dele e nem ele percebia mais os dela. Cada olhar tem uma dimensão pessoal daquilo que quer ver, e ele ficava pensando nesta dimensão que os desigualava fazendo-os tão solitariamente independentes um do outro e orgulhosamente duros. Falavam-se não só com os lábios, mas com o olhar, gestos e outras sutis atitudes nem sempre percebidas na contingencia dos dias.


Saudades

Eu sinto ele crescer a cada dia e vejo sua transformação mesmo ele estando longe de mim. E cada dia que surge percebo minha angustia aumentar por não te-lo ao meu lado toda a hora, perto de mim e dividir o abraço, o calor, o sorriso, a descoberta. 
Os dias passam, ele cresce e eu me desfaço nesta perda tão sem lógica que me diminui e eu não falo nada pra ele!
"Estou hoje vencido , como se soubesse a verdade.
  Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, e não tivesse mais irmandade com as coisas"...

                                                                                                    Fernando Pessoa.

FILMEZINHO BASICO, TAMBÉM TEM ALGO PRA ENSINAR.

Assisti na TV, hoje de tarde, o filme "O casamento do meu melhor amigo" com Julia Roberts, Dermont Mulroney e Cameron Diaz.... que acho um filmezinho daqueles comuns que encontramos facilmente em qualquer locadora da esquina e cujo final se sabe o que vai acontecer porque parece já ter nascido pronto para agradar o grande público. Não vou contar aqui toda a história do filme, pois acredito que a maioria das pessoas já o assistiram, como não me sinto seguro o suficiente para classifica-lo de medíocre, visto que já o assistí mais de uma vez e então concluo que gosto de alguns filmes medíocres.


Mas acontece que tem cenas neste filme, que mexem comigo de forma a me deixar introspectivo e eu ficar pensando... e até gostar do filme, mesmo tendo consciência que pra mim não é "aquele filme". Uma das cenas que mexe comigo é quando Julianne (Julia Roberts), resolve abrir seu coração e declarar seu amor para o amigo Michael (Dermont Mulroney), dizendo que nunca revelou-o por ser na época uma pessoa orgulhosa, vaidosa e que colocou prioridades menores a frente de sua vida como forma talvéz de sufocar este sentimento. Eles então se beijam e são flagrados por kimberly (Camerom Diaz), noiva de Michael, que sai correndo aos prantos sentindo-se traída. Julianne percebe o amor do amigo por Kimberly, quando ele corre atrás dela sentindo que a perderá para sempre e em seguida que perdeu a sua oportunidade, que o tempo passou e ela perdeu o trem das onze para Kimberly, que ela não é mais a mulher da vida de seu amigo/amor. Julianne assumi abertamente para os dois suas tentativas por vezes desonestas de reaver seu amor perdido no passado. Começa então a tomar novas atitudes para ajudar o casal a ficarem juntos, quando percebe a impossibilidade de afasta-los e que realmente se amam.


Depois de correr algumas cenas, tudo é acertado entre os personagens. Michael se casa com Kimberly. Na festa ainda desmotivada por tudo que lhe aconteceu, por sentir-se por um lado derrotada e por outro sentindo ter tomado medidas acertadas para unir o casal, faz um emocionante discurso e oferece emprestado uma musica para o casal de noivos, até que eles tenham sua própria musica. Mais tarde seu amigo gay vivido pelo ator Rupert Everett lhe surpreende com sua presença inesperada na festa mostrando-nos a importância de se ter um amigo leal, verdadeiro na hora em que nos sentimos derrotados e sem perspectivas. Bom, este é um filmezinho básico que mostra sentimentos básicos e a importância das coisas básicas em nossa vida como amor, amizade, honestidade, fidelidade, sensibilidade e que as vezes não é mais possivel retomar as coisas do passado por ter ficado pra traz nas nossas lembranças e o que sobra são os sentimentos do que poderia ter sido possivel se pudessemos ter permitido no tempo certo!

Quem compra os nossos sonhos?

Noite passada entrei madrugada à fora, conversando pelo Skipe. O assunto? Dimensão, profundidade, intensidade, expectativas geradas pelos sentimentos. Mais tarde quando fui deitar-me fiquei pensando o quanto foi positivo ter feito isto e percebido principalmente a dificuldade de se ter real dimensão de tudo oque se sonha e deseja da outra pessoa, enquanto ainda estamos envolvidos numa relação, até que ela por alguma razão se desfaça. A dificuldade que temos de enxergar os outros e a nós mesmos no emaranhado de emoções e que nossos sentimentos inúmeras vezes são egoístas, passionais e que nos perdemos em intenções subjectivas, em expectativas com desdobramentos complexos e não correspondidos. Fragmentamos alguns sentimentos grandes em pedaços menores afim de interioriza-los com mais facilidade, perdendo sua real grandeza, dai partimos para emoções cada vez menores, nos despolarizamos, distanciamos-nos até encontrar caminhos diferentes, individuais. Mas todo este processo ainda que doloroso nos impulsiona a tomar novos rumos, possibilitando-nos crescimento e reconhecimento de quem somos, e o que procuramos, nos injeta coragem e força para diminuir estes erros e aceitar as diferenças. Algumas frases ditas na conversa, ficaram marcadas e acordaram pela manhã comigo: "Os sentimentos não são uma linha reta e mudam de direção". "O mais difícil é encontrar quem compre os nossos sonhos".

Quando a psicologia vira salada de frutas

Observando o menino correr incansavelmente pela casa, ora se debatendo contra as paredes, ora sorrindo, ora chorando, a mãe se pondo nervosa em cuidados maternos, o pai chamando sua atenção, percebi o quanto as técnicas de educação aplicada pelos pais aos seus filhos na hora da tensão, são semelhantes entre as famílias em geral. Possuem atitudes que formam elos em comum, na forma de educar, nas palavras usadas para chamar a atenção, nas expressões codificadas no olhar, na tensão para não cometer erros, na preocupação de manter a postura e se mostrar competente diante das pessoas que os assistem. Enfim educar parece ser uma equação complexa com técnicas moldáveis a cada situação, e ainda passível de erros imperceptíveis aos que estão emocionalmente envolvidos. Em alguns momentos, a psicologia vira salada de frutas, deixando os pais perdidos, envergonhados e preocupados com suas próprias posturas diante das outras pessoas que também se põem desconfortáveis por talvez se reconhecerem.

Palavras sem sentido

A tarde de hoje, parecia estar abandonada!.. Abandonada como, por quem, do que estou falando se haviam pessoas nas ruas, nos carros, em suas casas? As vezes as palavras soam verdadeiras porem sem sentido, sem clareza e não se encaixam nas definições que queremos dar ao que sentimos. São palavras talvez associadas a sentimentos que também são vagos e parecem escorrerem como agua de alguma boca sedenta. De onde eu estava deitado, com a porta aberta, podia ver as largas folhas de bananeiras sacudirem com o vento e a chuva fina que lavava tudo a minha volta, até mesmo esta minha vacuidade.

Deslige a luz.

Ontem a noite, deitado na cama, me veio na cabeça a questão da comunicabilidade entre as pessoas. Se para alguns, isto não é problema, para a grande maioria ainda é uma questão a ser resolvida e principalmente quando estão envolvidos sentimentos na historia. Algumas vezes é tão complicado nos fazermos entender, justificar nossas atitudes sem causar sustos, dizer o que pensamos, sem corrermos o risco de sermos taxados de egoísta, frio ou qualquer destas coisas sub-humanas. Cria-se um clima de desentendimentos e aborrecimentos que nos transforma em seres tão isolados em nós mesmos que perdemos a capacidade de alinhar e redefinir nossas ideias para abrir novos leques de possibilidades. Ficamos confusos, divisiveis, descrentes da possibilidade de sermos aceitos como realmente somos. Nos perdemos em frases soltas que foram ditas e pareceram sem significado algum, perdidas. Quando não é possível alguma congruência, surge uma única pergunta a ser feita: Por que não nos entendemos afinal?..
E então só te resta o gesto de desligar a luz
.

Donas de suas salas

O que falta na vida daquelas três mulheres me pergunto quando eu ligo a TV e as encontro sentadas nas suas salas bebendo vinho e falando sobre suas vidas entrincheiradas aos pequenos problemas do dia a dia e as impossibilidades que elas mesmas constroem em nome de conceitos morais, família, normas, estatus, bons costumes, medo dos riscos? É desta forma que vejo as personagens de Lilia Cabral (Tereza), Leticia Spiller (Betina), Natalia do Vale (Ingrid) na novela Viver a Vida, o retrato da insegurança e de assumir riscos que deflagrem alguma instabilidade emocional e que as tirem do falso domínio de suas vidas como mulheres realizadas e resolvidas, fazendo-as apenas desfilarem nas margens de sonhos não impossíveis, mas difícil de serem realizados. E me pergunto por que depois de algum tempo achamos que tudo parece ser mais difícil de acontecer e nos recolhemos em descrenças, sufocamos nossas expectativas positivas de que tudo pode ser possível, deixando-nos medrosos, sem energia de buscar o que nos falta. Vendo-as assim reunidas as vezes buscando conforto na troca de palavras, fazendo observações inteligentes, estabelecidas em suas areas de conforto, lembro-me da musica de Cazuza: "Sentadas são tão engraçadas, donas de suas salas!.."

Conceitos que desconsertam

_ Nossa, agora sim tu ficastes melhor com estas tranças. Antes parecia-te com um globetrotter!.. E particularmente eu achava anti-funcional aqueles cabelos grandes. Pensava se tu não assustava os pacientes durante os atendimentos, se eles não te achavam com cara de bandido!

Eu fiquei pensando nas palavras chaves que ela utilizou para referir-se a minha aparência: Anti funcional, assustador, bandido?... Será que a aparência interfere sobre nossa competência profissional, nossa relação entre as pessoas ou é tudo um grande e camuflado preconceito? 
Estamos, além ou aquém de uma simples imagem pré estabelecida por conceitos rasos e raramente centrada na lógica, no óbvio de ideias superficiais que são construídas à respeito. Nem sempre o resultado de uma equação é exata e verdadeira, portanto algumas pessoas precisam aprender a olhar para os outros com diferente visão, desatrelado destes padrões falsos que ditam por exemplo, que ser negro é sinônimo de pobreza e inferioridade, que cabelos grandes e crespos é de desleixo e portanto marginalização; que cabelo de negro deve ser usado curto ou raspado. 
Para quem não sabe, o Black Power é muita mais que um modelo de cabelo a ser usado, mas uma postura de coragem diante da sociedade e imposição de valores culturais e políticos. 
Usar um modelo destes é levantar uma bandeira assumindo coragem e orgulho de suas próprias raízes, é mostrar sua própria existência a quem não quer enxergar. É dizer eu sou assim e tem quem goste, quem aprecie e me respeita. 
Li em uma revista que "quem já passa dos 40 anos sabe que, nos anos 70, quanto maior era o black power mais seria respeitado pela turma. 
O primeiro famoso a assumir o pixaim foi Toni Tornado, depois Tim Maia. Ambos haviam morado nos Estados Unidos por um tempo. 
A atriz Zezé Mota conta que, em visita àquele país, na época, deparou com os negros usando cabelo natural, voltou para o hotel e enfiou correndo a cabeça debaixo do chuveiro e sentiu como se fosse uma libertação. 
O black dos anos 70 tinha o corte bem definido. Era cortado com precisão. A moda atual é deixar o cabelo crescer sem corte, sem definição." Bom, mais do que qualquer definição ou conceito, eu descobri que uma simples mudança nos cabelos fez eu revolucionar algumas normas entre colegas no trabalho, alguns membros da família e outros que acham que o mundo deve seguir seus padrões ultrapassados e estagnados que sempre tentaram ditar regras e gritar mais alto.

Paragrafo final entre aspas, colhido da revista
Raça
edição 86

Bem dita tecnologia

poucos minutos atrás conversei com meus compadres em Foz do Iguaçú- Paraná, por vídeo conferencia. Bendita tecnologia que aproxima as distancias e pode-se perceber na pequena telinha a emoção descrita nos olhares!... Saudades de voces, voltem logo para o café com as novidades!

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...