Cansaço estresse raiva.

Hoje foi mais um dia de trabalho e então cheguei muito cansado ao ponto de não ir direto para o banho como sempre faço. Deitei -me na cama com as pernas e os braços esticados, olhando para o teto branco e lembrando de todos os momentos estressantes que foi o meu dia. Penso que as vezes pode ser possível contornar estas situações de explosão, de raiva e insatisfação geral com o trabalho, mas em outros momentos a pressão gerada é tão intensa que acabamos cedendo a indignação que hora frustra, hora desacredita em dias melhores tornando-se quase impossível impedir que se acenda o pavio da desordem, e do descontrole pessoal. Acredito que todo o clima de dor, sofrimento, angustia vinda dos clientes e vitimas que atendo nas ruas muitas vezes em péssimas condições, quase mortos, não me causam tanto cansaço quanto os trâmites burocráticos, os desvios de responsabilidades, os desrespeitos, as omissões de uma fatia minima de profissionais da sociedade que acreditam piamente que tratam de saúde com decência e salvam vidas por trás de mesas, gabinetes, telefones e rádios de comunicação. Estes heróis deveriam aprender que vidas se salvam quando colocamos as mãos no sangue, ouvindo gemidos, gritos, queixas, arregaçando as mangas, respeitando limitações, desfazendo os laços das diferenças de cor, das diferenças sociais , objetivando unicamente a manutenção da vida, sem sentirem-se deuses ou juizes. Quem sabe um dia aprendam que para a realização de um trabalho serio deve haver respeito mutuo entre todas as partes envolvidas e sem divisão de castas. Quem sabe assim eu deitaria em minha cama tranqüilo e com a sensação absoluta de ter feito a minha parte com satisfação!

Perguntas e respostas

Pensei de repente, que talves não seja melhor que tudo fique absolutamente transparente, absolutamente visível, claro, entendível; um pouco de sombra pode ajudar a estabelecer certas duvidas naturais da vida, tão necessária ao nosso imaginario, a nossa fantasia, a nossa inocência. Fértil á sobrevivencia. Afinal por que saber dos reais motivos, das necessaria atitudes, dos verdadeiros conceitos e motivações? Faz-me bem algumas vezes ser embalado por minha própria ignorância e acreditar que algumas coisas não possuem respostas, por que surgem sem uma razão específica. Surgem desmioladas, sem origem, sem causa. Nasce por nascer...e quando se pensa nelas tentando esmiuça-las, surgem infinitas elocubrações indefinidas, volateis, complexas e perturbadoras. Hoje quero dormir sem respostas das perguntas que me fiz, sem o peso das buscas. Quero dormir solto, despreocupado no leito grandiosos da preguiça, irresponsável, talvez amanhã acorde cheio de perguntas numa ansia desesperada por respostas que hoje não estava afim de desvendar por que optei pela divina ignorância.

AQUI

No carro, transparência nos sorrisos. Satisfação de estar ali um do lado do outro cantando musicas do repertório do arquivo mental. Todas as musica que se pudesse lembrar, a musica da hora, do gosto pessoal, do passado, do presente. Prazeroso isto!.. Isto é também uma espécie de namoro, talvez não muito diferente de tantos outros que devem pintar por aí. Cumplicidade no olhar, no sorriso, erro de compasso, de letras, desafinação, sei lá... Não precisa falar de muitas coisas, as musicas falam oque se gostaria de dizer, oportuna e sem constrangimentos.

[Eu nunca disse que iria ser A pessoa certa pra você Mas sou eu quem te adora]

[Se fico um tempo sem te procurar É pra saudade nos aproximar E eu já não vejo a hora]

[Eu não consigo esconder] Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim] [Aqui Agora que você parece não ligar Que já não pensa e já não quer pensar Dizendo que não sente nada] [Estou lembrando menos de você Falta pouco pra me convencer Que sou a pessoa errada] [Eu não consigo esconder Certo ou errado, eu quero ter você Ei, você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar] [Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza mas não dá É como uma represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está] [Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim Em mim... Aqui]

Letra e musica de: Ana Carolina e Antônio Villeroy

Suburbano coração

Algumas musicas que ouço, me fazem lembrar de pessoas, de situações, de vivencias que compõe minha vida, meus dias, bordando emoções. Brilho solitário do vidrilho perdido e depois encontrado sem esforço, ao acaso.

Quem vem lá
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são

A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração

Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração.

Composição:
Chico Buarque

LUZ E SOMBRA do Livro Morangos Mofados de Caio Fernando de Abreu

LUZ E SOMBRA:
[Deve haver alguma especie de sentido ou o que virá depois?- São coisas assim as que penso pelas tardes, parado aqui nesta janela, em frente aos intermináveis telhados de zinco onde às vezes pousam pombas, e dito desse jeito você logo imagina poéticas pombinhas esvoaçantes, arrulhantes. São cinza as pombas, e o ruido que fazem é sinistro como o de asas de morcegos. Conheço bem os morcegos, seus gritinhos agudos, estridentes. Mas não quero me apressar. Penso que se conseguir dar algum tipo de ordem nisto que vou dizendo haverá em conseqüência também algum tipo de sentido. E penso junto, ou logo depois, não sei ao certo, que após essa ordem e esse sentido deve vir alguma coisa. O que depois?- pergunto então para a tarde suja atrás dos vidros, e sinto reconfortado como se houvesse qualquer coisa feito um futuro à minha espera. Assim como se depois do chá fumasse lentamente um cigarro mentolado, olhando para longe, aquecido pelo chá, tranqüilizado pelo cigarro, enlevado pelo longe e principalmente atento ao que virá depois deste momento. Faz tempo não tomo chá, e controlo tanto os cigarros que, cada vez que acendo um, a sensação é de culpa, não de prazer, você me entende? Não, você não me entende. Sei que você não me entende porque não estou conseguindo ser suficientemente claro, e por não ser suficientemente claro, além de você não me entender, não conseguirei dar ordem a nada disto. Portanto não haverá sentido, portanto não haverá depois. Antes que me faça entender, se é que conseguirei, queria pelo menos que você compreendesse antes, antes de qualquer palavra, apague tudo, faz de conta que começamos agora, neste segundo, e nesta próxima frase que direi. Assim: é um terrível esforço para mim. Se permanecer aqui, parado nesta janela, estou certo que acontecerá alguma cosa grave- e quando digo grave quero dizer morte, loucura, que parecem leves assim ditas. Preciso de algo que me tire desta janela e logo após, ainda, do depois. Querer um sentido me leva a querer um depois, os dois vêm juntos, se é que você me entende...] 

Por que postei este pedaço do texto de Caio Fernando de Abreu as seis horas da manhã? Não sei a o certo!...talvez por identificação e porque perdi o sono. Por causa da janela como pano de fundo descrito no texto e coincidentemente algumas vezes tento ver o meu mundo através de uma delas? Obter minhas respostas? Pelas pombas cinzas sobre os telhados que também arrulham sobre as casas vizinhas daqui?... Infinitos telhados, a duvida sobre o sentido das coisas, e a compreensão do fluxo quem sabe monótono ou apressado da vida, do nosso interior, a ânsia de se compreender e ter respostas a tudo isto? Algo neste texto descreve pontos que me são pessoais, particularmente especial em minha vida, em minha loucura particular, batendo em minhas duvidas, cutucando reticencias que há em mim e acredito também, em ti e que se falarmos ninguém compreende.

Raros momentos com Gal.

Hoje retornando do serviço pra casa, coloquei o cd de Gal Costa, Acústico-MTV no som do carro e fiquei fissurado naquelas musicas que tantas vezes já ouvi e que quando retorno à ouvi-las, bem... Baixou um clima de saudosismo gostoso, principalmente quando ouvi as canções como: Não Identificado de Caetano Veloso, Sua estupidez de Roberto Carlos, Vapor barato de Zeca Baleiro e camisa amarela de Ary Barroso. Nestes momentos de rara intimidade, tenho a impressão de que somos belos e imortais como estas musicas maravilhosas.

Práticas de amar

Existem pessoas que modificam o conceito de amar por que cometem praticas destorcidas contra quem ama. Tentam ditar regras, sufocar liberdade, impor suas verdades. Puxam ganchos de problemas vazios ou que não existem para te pendurar neles. Esticam cordas para se equilibrarem com sentimentos ora de alegria, ora de frustração tentando te arrastar com elas nesta dança absurda. Sempre querem mais do que se tem para dar, ficam insaciáveis, insatisfeitas, perigosamente letais. Eu estou fora desta.

A despedida

Moema partiu sábado à tarde com a finalidade de vivenciar a alegria da qual chama de vida. Retomar contatos de seu convívio do passado. Despediu-se com olhar profundo, mesclado de doce e azedo, dominada talvez pelo cansaço de suas antigas intensões. Percebi que fará uma desintoxicação de mim. Limpará sua alma, suas feridas ainda abertas para que seja breve a cicatrização, a cura. Fiquei sentado com o olhar fixo no laminado do chão, procurando oque pensar, ouvindo o ruido da chuva imaginaria que não caiu sobre o telhado . Senti seus batimentos do coração junto dos meus numa sinfonia desgovernada, seu cheiro de priprioca, sua coragem de gigante. Em breve retornará outra à procura urgente de sua nova vida.

Profissão de risco

Transferi ontem à noite, do posto de saúde da Restinga para o Pronto Socorro, um soldado aposentado da brigada militar que foi baleado no abdome e braço, em defesa sua e da comunidade, contra uma ação criminosa em um supermercado nas redondezas da Estrada do Barro Vermelho. Lembrei deste fato, por que enquanto deslocávamos na ambulância, ele me comentava sobre a sua necessidade de ainda ter que trabalhar depois da aposentadoria, para puder manter a família. Havia momentos em que ele chorava e depois rezava agradecendo à Deus por sua vida e também pedia que livrasse seu filho do caminho desta profissão tão pouco remunerada e arriscada.

Sexo à três

Uma amiga que não vou dizer o nome nem que a vaca tussa, me contou que seu namorado perguntou-lhe certa vez oque ela gostaria de experimentar de "novo" com ele, quando iam ao seu apartamento transar. Depois de alguns dias, fazendo charminho, boquinhas e vencer a timidez, ela disse-lhe que tinha vontade de transar a três.
-Ha três? Como à três? Perguntou ele dividido entre mesclas de curiosidade, surpresa e desconfiança.
-Eu, tu e outra mulher! Confessou-lhe revelando seu segredo de muito tempo. Ele então excitado, comprometeu-se de providenciar outra parceira, e quando conseguiu, a o contrario do que minha amiga pensava, tudo transcorreu a mil maravilhas, em perfeita harmonia e sem comprometer a satisfação dos três.
Algumas semanas depois, envergonhada, ela terminou tudo com ele, que a ligava insistentemente insinuando que as duas teriam iniciado um caso. Ela disse-lhe então, que nunca mais vira a moça de novo e que só com ele não achava mais graça.
Bem, postei este texto sobre minha amiga, não com o objetivo de contar uma história de sacanagem ou uma piada vulgar para aborrecer os preconceituosos e puritanos, mas com o intuito de alertar as pessoas sobre nossos desejos muitas vezes sufocados e reprimidos por falta de coragem e vergonha. Medo de assumi-los diante de nós mesmos, de descobrir interesse por coisas ditas fora do normal.
Acho que vale a pena o experimento de nossa libido desde que não prejudique a nos nem a ninguem, desde que todos fiquem felizes e satisfeitos com seus fetiches e desejos "proibidos".

Será que estou ficando louco?

Tenho deixado de cortar os meus cabelos, que são crespos, pra mais de três meses. Resolvi mudar de cara ou estou ficando completamente louco. Como trabalho nas ruas, pescando gente atropelada, acidentada e outras coisitas mais, as vezes não dá tempo para ajeita-lo. Hoje quando levei um paciente para a emergência clinica do Pronto Socorro, a doutora Carmem me perguntou assustada enquanto eu entrava na sala:
-Oque é isto?
-É um paciente!
-Não, o teu cabelo?..
Todos riram, menos ela com a expressão de preocupada.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...