Augusto.

As vezes penso em quantas pessoas de nosso meio, não conhecemos direito por que ficamos vagando no meio delas em nossos mundinhos, sem observa-las atentamente. Alguns podem ter sido poetas ou loucos e não demos a chance de ouvi-las, observa-las, de saber suas verdadeiras histórias, suas reais verdades. Não abrimos nenhum espaço da nossa atenção.
Tio Dudu era um homem quieto, mas quando falava tinha a voz mansa, pausada e carinhosa com todos nós. Minha mãe conta que na sua juventude, tinha atitudes estranhas. Não falava com ninguem e as vezes sumia no meio do mato por longas horas. Era, as vezes, encontrado deitado de baixo das arvores conversando sozinho, gesticulando, ou olhando pro céu como se buscasse alguma coisa. Quando contraiu câncer de garganta, muitos anos depois, passou a falar ainda menos e seus olhos muito mais.

Dona Dione

Dona Dione fazia seu crochê dia e noite de olhos fechados e testa franzida. Confessou-me certa vez que tinha medo de ficar cega, portanto, tramava suas linhas de olhos fechados para que a vida não lhe causasse mais surpresas.

Oque é ser pobre!

Um pai bem de vida, querendo que seu filho soubesse o que é ser pobre, o levou para passar uns dias com uma familia de camponeses. O menino passou três dias e três noites vivendo no campo. No carro, voltando para a cidade, o pai perguntou:
- Como foi sua experiência?
-Boa, responde o filho, com olhar perdido a distancia.
-E o que você aprendeu? Insistiu o pai. O filho respondeu:
-Primeiro: Que nós temos um cachorro e eles tem quatro;
-Segundo: Que nós temos uma piscina com agua tratada, que chega até a metade do nosso quintal. Eles tem um rio sem fim, de agua cristalina, onde tem peixinhos e outras belezas;
-Terceiro: Que nós importamos lustres do oriente para iluminar nosso jardim, enquanto eles tem as estrelas e a lua para ilumina-los;
-Quarto: Nosso quintal chega até o muro. O deles até o horizonte;
-Quinto: Nós compramos nossa comida, eles cozinham;
-Sexto: Nós ouvimos CDS... Eles ouvem uma perpétua sinfonia de pássaros, periquitos, sapos grilos, e outros animalzinhos... Tudo isso as vezes, acompanhado pelo sonoro canto de um vizinho que trabalha sua terra;
-Sétimo: Nós usamos microondas. Tudo o que eles comem tem o glorioso sabor do fogão à lenha;
-Oitavo: Para nos protegermos vivemos rodeados por um muro, com alarmes... Eles vivem com suas portas abertas, protegidos pela amizade de seus vizinhos;
-Nono: Nós vivemos conectados ao celular, a o computador, à televisão. Eles estão conectados à vida, ao céu, ao sol, ao verde do campo, aos animais, às suas sombras, à sua familia.
O pai ficou impressionado com a profundidade de seu filho e então o filho terminou:
-Obrigado, pai, por ter me ensinado o quanto somos pobres! Cada dia estamos mais pobres de espírito e de observação da natureza, que são as grandes obras de Deus.
Nos preocupamos em ter, ter, ter e cada vez mais ter. Em vez de nos preocuparmos em ser.
autor desconhecido
*Este texto andou vários dias nas mãos de minha mãe; disse-me que não lembrava como chegou até ela. Num almoço de domingo ela deu para mim ler. Prometi que postaria em meu blog.


ENSAIO DE CORES.

Minha agenda está toda rabiscada de idéias, pensamentos soltos, sonhos que não transfiro para ela. As vezes mantenho-a aberta por vários dias aguardando respostas... Respostas que não encontro em mim.
Um dia tudo deixou de ter graça, as piadas, o sorriso das crianças, as peripécias dos filhotes, as cores da vida. Então comecei a exercitar minhas emoções com algumas pinceladas até recuperar tudo de volta, como era antes...

Grandezas

Meu tio queria que eu fosse grande naquilo que ele considerava ser grande. Com o tempo percebi que tínhamos noções de grandezas diferentes na vida . Por um longo tempo essas diferenças nos afastou e então rompemos relações. Só descobri mais tarde quando já não era possível retomar o tempo perdido e estagnar a doença que o levou em poucos meses. Hoje tento ter cuidado com as pessoas que convivo para não reincidir no mesmo erro.

Engrenagem

Quando meu amigo partiu, lembrei o quanto tudo por aqui é provisório. Que partimos sem concluir aquilo que pensamos a que viemos. Deixamos lacunas a serem confiadas e preenchidas por outros que jamais conheceremos, por que partimos antes, sem prévio aviso, sem termos a chance de despedirmo-nos de nós mesmos. Incompletos, naquilo que achamos ser nossa missão, nossos sonhos de realizações, nossa felicidade. Viveremos na memória dos outros, de quem quiser lembrar e um dia também desapareceremos no esquecimento, pela engrenagem da vida, pela substituição que se faz necessária a cada dia que nasce e que morre. Sem culpas, sem responsáveis, apenas regras da vida.

auto confiança?

Meu sobrinho João Victor é distraido. Cruza as ruas para buscar a bola sem olhar para os lados numa confiança cega. Acho que um dia também já fui assim. Hoje fico esperando quem vai me buscar, me estender as mãos para que eu atravesse a rua fora da faixa de segurança com o sinal vermelho aberto e os olhos bem fechados. Quando desconfio da sorte, aguardo o sinal ficar verde e olho para todos os lados!

Magia do céu...

Não lembro de noites tão frias como as deste inverno, talvez tenha tido. Certa manhã, nevou em Viamão. Lembro-me de minha mãe chamando eu e minha irmã para ver os pequenos flocos de algodão gelado caírem do céu magicamente.

As cegonhas...


As cegonhas flutuavam sobre o extenso lago por onde eu passei. Silenciosas, como se fossem de papel. Lembrei que acreditava ter sido trazido ao mundo por uma delas, por encomenda de minha mãe. Tinha duvidas se elas poderiam suportar meu peso enquanto atravessavam as nuvens comigo pendurado a o seu bico rosa.

Cinara...

Tratava Cinara como se fosse filha, embora não fosse. Queria talvez ser o pai que não tive. Eu escolhia suas roupas, seus amigos e até o modo de ver a vida. Em troca, ela matava as aranhas do qual eu tinha medo. Cinara cresceu e brigou por sua liberdade, eu então, perdi o medo de aranhas.

Geovana

Geovana tem os cabelos negros e longos e o rosto que parece o de Justine. Traços de uma bela mulher que sofreu mas não perdeu a doçura, a sensibilidade, a sublime alegria de viver. Justine procurava seu amado filho, perdido, desaparecido, que talvez nunca existiu.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...