Quando se respeita alguém, não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento.
Que nada nos defina.
Que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja a nossa própria substância.

João do poço.

João acordou assim com aquele seu jeito sem graça e ar de cansaço, olhando para as paredes quase brancas de seu quarto. Amargo conhecido na boca, nos gestos, nos olhos vermelhos de pouco dormir.

Câimbra nas pernas do sucessivo trabalho árduo.
Quando pequeno tinha medo que um velho mendigo o levasse para o fundo do poço onde diziam que morava. Na adolescência, não chegava nem perto de tudo aquilo que se parecesse, ou lembrasse de um poço. Beber água de poço então... Parecia ter o gosto daquele velho que vagava pelas ruas com um saco sujo sobre as costas e unhas compridas. Dizia a si mesmo:
_Poço é um buraco profundo no chão para a captação de água. Por isso deve ser escuro e sem ventilação. Se cair lá dentro como sair?
Um dia construiu seu próprio poço, jogo-se lá pra dentro e nunca mais saiu.

GUARDA DO EMBAÚ - SANTA CATARINA.


Dia 06, pela manhã, parti de carro, para um paraíso composto de muita agua salgada e areia branca, numa vila pequena, cercada de muitas outras praias também de beleza peculiar e vegetação nativa na serra do Tabuleiro. Quis presentear-me neste passeio com a presença de meu filho e um velho e querido amigo.
A praia da Guarda do Embaú está localizada no município de Palhoça SC a 50 km da Capital Florianópolis e 400 Km de Porto Alegre. É uma vila de pescadores com um rio que corta a praia e deságua no mar através de um canal proporcionando assim essas duas opções de lazer aos visitantes.

O mar é propício à prática do surf, e o rio ideal para pesseios de caiaque ou barco, que são oferecidos pelos próprios nativos. É um paraíso em meio a natureza, preservada. Uma caminhada de 40 minutos por dentro da mata, atravessando rios, dá acesso à Cachoeira do Zanela, com 8 metros de altura. A cachoeira de Maciambú é menor. Nela, o rio corre pela mata e forma um imenso lago, dividindo-se em duas quedas, formando outro lago logo embaixo.
Em Guarda era tudo muito bom, o mar, o sol e a parceria, porém, queríamos ir mares além. O motivo? Espírito aventureiro agregado aos exorbitantes preços cobrados na praia. 
Um micro xis-burguer catarinense R$ 8,00. Café da manhã não se encontrava por menos de R$ 15,00. Almoço composto de um peixe grelhado com arroz e salada para duas pessoas não  baixava de R$ 38,00 à R$ 42,00 enquanto que nas praias vizinhas o preço habitual era de R$ 21,00 á R$ 23,00. Sem falar na travessia que se fazia de barco para chegar até o mar: R$ 2,00 de ida e mais R$ 2,00 a volta, sem choro nem vela. Reclamei à uma moradora e comerciante do local sobre os altos preços cobrados na praia o que ela me disse que tal valorização dava-se a o fato do modelo Paulo Zulu morar e ter uma pousada no vilarejo.
Me pergunto: Será que ator e modelo - celebridade é responsável por transformar uma bela e pequena vila de pescadores num reduto de mercenários? Não posso crer!
A pousada de nome Boliche em que nos hospedamos no centro do vilarejo, parecia aconchegante, mas com o passar dos dias percebemos inumeras falhas que nos fizeram repensar sobre reservas por telefones. A piscina só começou a ser limpa depois de reclamar-mos e as roupas de cama só foram trocados depois de uns tres dias nos dez que estivemos por lá.

Fomos visitar a Ponta do Papagaio, praia de beleza indiscutivel (foto acima), que se separa da Praia do Sonho por apenas uma estreita faixa de terra. Depois de uma longa caminhada almoçamos um delicioso namorada grelhado com molho de limão, depois conhecemos a praia do Sonho e um pulinho em Pinheira. Diferentes da Guarda as duas praias, são mais familiares, portanto, mais propicias ao descanso.

Bom, acesso à praia caro, alimentação cara, serviço de pousada deficiente, nos obrigou a fazer incurssões por praias mais modestas e nem por isto de menor qualidade como Pinheira, Sonho, Ponta do Papagaio. Para deslocar até a praia do Rosa e Garopaba, me informaram de um acesso pela serra do Tabuleiro onde é possivel apreciar toda a beleza da região. É tudo tão bonito, que não acredita-se no que se ve la de cima.
Existe inclusive um lago em formato de coração cercado por uma vasta area verde e morros com penhasco como só vistos em produções cinematográficas. Este caminho alternativo faz-se, saindo da Guarda do Embau e entrando no municipio de Paulo Lopes pela BR 101 mais ou menos 8km. Depois se atalha pelos morros, saindo dentro da cidade de Garopaba, diminuindo consideravelmente a distancia, o risco de percorrer pela BR 101 em construção, assim como o consumo de combustivel.
O visual lá de cima da serra é um presente.
Na pousada em Guarda do Embau, fizemos amizade com dois casais do interior do Rio Grande do Sul muito simpaticos. Os mais jovens pareciam em crise no casamento. Ele enchugava tudo que vinha pela frente e ela mais atraz tentando esconder o que era evidente. Reclamaram tambem dos preços salgados aplicados na praia e no terceiro dia arrumaram as malas e partiram para outra praia.
No quinto dia vieram amigos de Poa (Cleusa, Vó e os sobrinhos), que se estabeleceram por uns tres dias e depois mudaram-se para Garopaba pelos mesmos motivos. Mas isto com certeza ficará para um outro post!..

ALTA TENSÃO


Admiro Bruna Patrizia Romilda Maria Teresa Lombardi, não só por seus trabalhos na telinha da TV e no teatro, mas por sua poesia da mais alta qualidade, intimidade e sensibilidade visceral.
Lembro-me quando veio a Porto Alegre visitar nosso poeta Mário Quintana tornando-se sua musa, e inevitavelmente musa da nossa cidade gaúcha.
Agora de retorno a mídia para lançar seu filme, que ainda não o vi , O Signo da Cidade, ressurgi magnífica, traduzindo-se como a verdadeira artista que é.


Alta Tensão

eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.



*Bruna Lombardi
do livro "O perigo do Dragão."

Acordei-me mais tarde sem as urgentes necessidades de avaliar minha vida, de contestar o mundo, de procurar respostas para as coisas que não tem respostas. Acho que estou me cansando dessas lutas intermináveis que militei desde que abri os olhos para a vida. A duras penas estou tentando ser mais leve comigo mesmo,mais condescendente com o mundo.
Menos Intransigente com as pessoas.



Antropofagia

Sonhei que estava sendo servido numa bandeja, como um prato exótico a um grupo de quatro mulheres famintas e obstinadas. Após cada uma delas se servirem, arrancando alguma parte do meu corpo me lançaram um sorriso maldoso e satisfeito.
A o final, depois de me mastigarem, todas se olharam colocando a mão no estômago, com cara de indigestão. Montei meus pedaços que sobraram e sai andando.
Às vezes fico buscando coisas que não são minhas, e sim dos outros, histórias que divergem das minhas crenças e tornam-se impessoais, improdutivas, sem gosto. Então, trancafio este ser que não sou eu, que não tem a minha cara, que não prima pelas coisas simples e descomplicadas da vida que hoje busco.
Tive, sim
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim
Íamos vivendo em paz
Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou
Tive, sim
Mas comparar com o teu amor seria o fim
Eu vou calar
Pois não pretendo amor te magoar.
Cartola
Não quero que fiquem do meu lado por solidariedade, mas por prazer.
Que façam amor comigo não por curiosidade mas por tesão.
Não tenho paciência de ser uma opção a mais.
Um paliativo para doenças crônicas.
Eu tenho presa de viver.
Compromissos inadiáveis com a vida,
com a alegria,
com o prazer,
com a paz.
Nada além disto.

Ontem bebi uma garrafa de vinho tinto, saudando todas as impossibilidades que se fizeram diante de minha vida. Os sonhos que não se realizaram, o casamento que se rescindiu, os desencontros entre amigos, os convites desfeitos com previas desculpas. Bebi em paz sem mágoas, na santa paz. Aveludando a língua, o céu da boca.

Numa boa.


São impressionantes os erros de comunicação que se criam entre as pessoas e porque não dizer de interpretação. Não temos ainda o poder de sabermos o momento certo de estender a mão ou de recolhê-la quando se faz necessário. De falar e de calar-se. De olhar para dentro do outro e saber do que necessita qual sua urgência maior. Como proceder para minimizar sua dor e acrescentar-lhe o que falta? Obviamente precisamos uns dos outros em vários momentos da nossa vida e daí vale a regra de uma mão lava a outra, porem cria-se circunstancias em que precisamos ficar só, sem mimos, sem o ombro amigo para encostar-mos a cabeça. Queremos ficar só, com nossas angustias, com nossas faltas de respostas. Precisamos respirar. Precisamos apenas de nossa própria companhia. Sem suportes externos. A ajuda se torna imprópria, desagregada. Necessitamos apenas de silencio para o consenso de nossa dor.



Mas,...dia desses, era imperativo que eu falasse com alguém.
Dirigia pelas ruas da cidade, como se não estivesse ali sentado atrás do volante, dividia-me entre os cuidados que se deve ter com o transito violento e as nuvens vagas do meu cérebro sem uma direção linear. Não me sentia presente em mim mesmo, dentro do meu corpo, da minha vida. Necessitava ver alguém mesmo que fosse o vizinho mal humorado do andar de cima, ou um estranho simpático que me emprestasse o ombro para que eu chorasse compulsivamente como uma criança perdida...


*Depois passou este meu estágio de crescimento, onde parece que tudo doi!..mas para melhor...

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...