EM TRANSFORMAÇÃO


Já faz algum tempo que eu entrei nesta fase de desaprender o que antes era para mim uma verdade indiscutível, inquestionável. Desaprender não é bem o que eu quero dizer, fica melhor eu dizer, reconceituar-me, reformular-me, restabelecer novas atitudes aos conceitos ensinados, estabelecidos, aos conceitos que dão o comando geral do que é certo e do que é errado na sociedade, afinal vivemos momentos difíceis de luta, de aceitação, de fragmentação das velhas verdades, cujos os fragmentos vão se transformando em  sub conceitos, que  no amontoado geral, vão abrindo novos caminhos opcionais, sobre os escombros que se formam, para uma ampla discussão pessoal de valores. 
Acontece que eu, aos 58 anos de idade, resolvi aderir como outras pessoas que lutam por sua condição e aceitação, deixando meus cabelos crescerem e assumir publicamente a minha identidade, identidade que deve ser inicialmente absorvida por mim. Parece pouco, mas algumas pequenas mudanças exercem seu peso transformador sobre nossa visão pessoal e de mundo.
A decisão surgiu quando encontrei por acaso, uma pagina no Facebook, onde Phills Monteiro, um brasileiro de 25 anos, carioca, que mora atualmente em Paris, resolveu estimular e dar conselhos para homens negros e de cabelos crespos a cuidarem de seu black power e assumirem sua identidade através da postura livre e pacifica. Phills que em 2012 decidiu deixar os cabelos crescerem de forma natural, só encontrava referencias femininas, o que estimulou-o a ir em busca de receitas próprias e naturais para cuidar dos cabelos. Em 2013 decidiu divulgar estes cuidados, num canal criado por ele no YouTube e o que pareceu ser apenas um novo conceito estético, visual e de chamar a atenção pelo inusitado, acabou se transformando numa verdadeira revolução de valores e atitudes, em homens que antes raspavam, alisavam ou mantinham seus cabelos curtos, para favorecerem a aceitação numa sociedade de valores embranquecidas e que ensina desde cedo, que cabelos crespos é ruim, é feio, é inaceitável. Eu acredito que atitudes simples como esta criada por Phills, traz consigo, um aval de grande importância cultural e social para todos os seres humanos, por ser indiscutivelmente uma ideia que transforma, que resgata cada individuo a sua identidade e dignidade que lhes foi tirada por séculos de existência.
E pra provar que eu entrei nesta vibe; Eu era assim:


Agora estou ficando assim e com a pretensão de deixar ainda maior:


SE PERDENDO..

Nestes tempos de modelos pré fabricados, pré estabelecidos, pré concebidos, pré isto,  pré aquilo, a gente acaba sem querer, sendo induzido a entrar nestas correntes sem sentido e nos transformando em gifs animados. Todos com a mesma cara, o mesmo gesto, a mesma expressão, o mesmo movimento automatizado. As pessoas perderam a voz e distanciaram seu olhar. 
Perde-se discernimento, dinheiro,  moradia, dignidade, perde-se amores e entes queridos, pela falta de voz e pelo olhar que também se perde em espaços vazios, na obscuridade do próprio ego. Se perde tudo e não se acha mais. A gente se perde.

FAZENDO JUSTiÇA


Essa, eu achei numa notificação do Facebook:
Um traficante criou uma maneira inovadora de vender drogas.Você manda uma carta para ele. Ele manda um moto boy entregar a droga na sua casa.
O que o juiz faz?
Pede que os correios entreguem as cartas enviadas para para o traficante. Os Correios explicam que não guardam cópias das cartas que entregam todos os dias.
O que o juiz faz?
Manda prender o presidente dos Correios. Os Correios explicam de novo que não guardam cópias de correspondências. Que as cartas apenas passam por eles.
O que o juiz faz?
Suspende o trabalho dos Correios por 72 horas. Este país virou uma piada!

O GRITO DOS BUGIOS.

Tem gente que chega na tua vida, no espaço onde tu vives ou trabalhas, para criar, organizar, implantar e que apesar de estar dividindo o mesmo espaço físico contigo, te parece simpaticamente distante, meio familiarmente intocável, mas sentimentalmente aceitável, solucionável e talvez por serem únicas com competência para fazerem mudanças. Quando falam contigo parecendo serem pessoas comuns, com sangue correndo nas veias, com os mesmos sentimentos comuns e humanos, fica no fundo aquela tênue sensação, de que são apenas artifícios políticos para te conquistar a confiança e encaminhar seus objetivos maiores. Vão te aprisionando em regras, protocolos.
Tudo isto faz eu me sentir como um grande bugio jogando excrementos de cima de uma arvore, para atingir seu alvo matematicamente calculado; uma peça manipulada para funcionalidade de um sistema falho na própria base e que carece de muitas mudanças para sobreviver.
Essas pessoas também ja foram engolidas pelo sistema e mais tarde são excluídas, por terem cumprido sua meta, seu programa, sua implantação sustentável, onde não cabem mais. Talvez esmagadas pela própria estrutura que criaram, sem ouvir os gritos dos bugios.


O CHEIRO DO RALO

Às vezes algo me falta, muitas coisas me faltam até o término do dia, da semana e esta procura exaustiva me deixa quase sem forças, quase desistindo, até eu me dar por conta, de que nada é possível fazer a não ser aguardar, esperar por um novo dia, como quem aguarda o inevitável, o que não se pode mudar, o que está sendo conduzido por forças que eu desconheço. E ai fica aquela sensação de estar sentindo inevitavelmente o cheiro do ralo, e o cheiro do ralo podemos com o tempo, sentir uma certa doçura.


O PODER DAS LETRAS

Eu sei que as coisas não deveriam correr para este lado do rio, mas existem frases, textos, ideias que leio e que modificam toda a minha ideia e conduta para com seus autores. Na pratica, eu tenho medo de estar fazendo um julgamento precipitado, resumido e errado à respeito, mas o poder das letras são tão poderosas, que me faz recuar das possíveis constatações negativas que poderão surgir a cargo do tempo.

PÁSSAROS PRESOS

Existe um cheiro peculiar em cada arvore que eu abraço, em cada rua que entro, uma sinfonia em cada vento que sopra criando notas musicais nunca ouvidas por mim antes. Tenho um nó preso na garganta a me arranhar e quem não o tem, não faz parte deste mundo.
As vezes desconfio que  a natureza trabalha silenciosa, para que libertemos pássaros engaiolados do nosso interior. Solta-los dói. Mante-los preso nos asfixia até a morte.


SENTIMENTOS DE INVERNO

Quando chove tanto assim, me perece que é chuva de Julho, que forma lago nas praças e calçadas desta cidade, misteriosa sinfonia de sapos, meninas olhando o mundo por traz da bruma na vidraça, brasa no fogão a lenha, café preto perfumando o ar, pão torrado com margarina, lampião de querosene pendurado na parede, com discreta luz querendo se apagar...


IDAS E VINDAS.

Então eu sinto nossas desigualdades como fórmulas matemáticas incompletas, nestas equações de verdades e de sentimentos que correm inexplicavelmente de uma ponta a outra da vida e no sentido contrario. Desencontros que revelam nossas diferenças, enquanto vais em tuas Idas e eu volto arrastando lembranças de outros tempos em que parecíamos seguir numa mesma direção. Tempos também de solidão, de pensamentos de inverno, de nuvens escuras e espessas no horizonte, de olhos ressecados ao vento, que por sorte, alguns verões lhes deram brilho, viçosidade. Tenho a sensação de que um dia, cruzaremos um pelo outro e bateremos nossas mãos acidentalmente na rua. Nos olharemos surpresos olho no olho, com a impressão de que nos conhecemos de algum lugar do passado...
Sabe? Nada disto é triste, são apenas constatações de que nos deslocamos para pontas opostas nesta vida, construindo o que somos hoje, seres humanos diferentes.


AMARRANDO O CELULAR NA TESTA

Não tenho mais paciência e antes que eu tenha uma crise de estres, estou começando a não aceitar mais convites de pessoas que vivem de celular na mão o tempo todo, desatentas a qualquer bate-papo que inicio com elas.
Na verdade, isto é muito constrangedor e qualquer assunto, se fragmenta e morre quando é percebido a desatenção. Pessoas com este perfil, já se contaminaram com a mentira de que não estão sozinhas, de que são populares, de que são amadas por estarem cercadas de gente, que curtem tudo o que elas postam, sem ao menos lerem o que foi escrito.
Gente fora de moda, como eu, que dá importância a atenção, a o olho no olho, deveria ir viver numa ilha deserta e longe dessas modernidades ou então, amarrar o celular delas na minha testa, para  dar a sensação de que estão me olhando no rosto, enquanto estamos falando.


CENAS COMUNS DO COTIDIANO.

Acordar cedo e abrir a janela... Numa determinada hora, a noite divide espaço com o dia e tem uma cor diferente, uma cor cinza pálida mesclado em sombras, que parece uma película de filme antigo a rodar na tela quadrada da janela. As imagens passam fragmentadas sob a luz dos raios frágeis do sol que começam a despontar do outro lado do infinito.
Na rua, o homem cruza decidido, o cachorro fareja qualquer coisa pelo chão, o casal de namorados se abraçam e bocejam no portão.  Pra onde vão todos, o que o cachorro procura?
Engraçado ver a vida assim, sob uma aresta diferente, um toque de enigma no que é vitalmente comum ao cotidiano.
Observar as pessoas, mesmo que a distancia, nos revela verdades e mentiras, nos aproxima do humano que todos somos, um toque de despedida que se espalha na alma.


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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...