Tentativa de suicídio

Mais do que chamar a atenção do marido, ela queria sentir pena de si mesma e por isto tremia sobre a cama e dizia palavras desconexas em prantos. 
Havia tomado algumas doses de uma bebida forte e mentiu ter ingerido comprimidos para morrer, que permaneciam intactos na cartela dentro do armário. 
Somente eu e ela, sabíamos que era uma encenação e que talvez fosse sua unica chance de provocar alguma emoção diferente nos presentes e em si mesma naquele final de Domingo, sem perspectivas...

UMA CIDADE DO MEU INTERIOR- MOSTARDAS.


Cidades do interior me fazem bem, acomodam minha alma. Voltar a passear por estas ruas na pequena cidade de Mostardas na Quinta-feira, me causou uma grande sensação de conforto e bem estar. Era como se eu estivesse voltando pra casa depois de algum tempo, longe.




Minha visita foi alem do reconhecimento geográfico e turístico do lugar, mas o encontro de meu passado, agregado na cidade e sua historia que já visitei antes.
Toda a história tem algo de nós, guardado nas sobre-linhas do tempo, nos telhados das casas antigas, nas sombra das árvores das praças, no carrinho de cachorro-quente da esquina, nas particularidades e olhares das pessoas que cruzamos nas ruas, nas relações que se constroem com o meio onde estamos.
 

Não importa, em qualquer lugar podemos criar laços fortes com pessoas e objetos que nunca vimos antes. Este talvez seja um dos mistérios contidos em nossa emoção,.. não sei..
Mesmo eu tendo nascido numa cidade maior, é notório os hábitos e sentimentos em comum, com as pessoas que moram mais distantes e que parecem não ter nada haver comigo, mas que na verdade tem e muito.


Não existe separação quando se trata de emoções humanos, tudo se agrega a um laço comum, que por vezes não compreendemos, somente sentimos. O que talvez ganhamos em modernidade e outros recursos de facilitação, nos grande centros, perdemos na simplicidade, na gentileza e bondade para as pessoas do interior. Seria este o elo de agregação que me fisga para esta intimidade?.. Por vezes volto mais triste desses passeios como se perdesse parte de mim, porem mais intimísta, mais completo, mais esperançoso de vida, de tudo...


Os Marrecos brancos de um lago desconhecido

É, foi na estrada que cruzei por eles, um grande bando de marrecos brancos, havia mais de cinquenta deles, com seus olhinhos redondos  a me observarem desconfiados de dentro de um lago desconhecido. Os marrecos e eu temos esta relação de desconfiança recíproca à espera de um posivel ataque de surpresa. Apesar de não serem agressivos com os gansos, me causam certa aflição que só alivia depois de imagina-los assado num refratário enfeitado com frutas e farofa de milho temperada. Este é um recurso que uso, para firmar minha superioridade sobre eles.
Tenho alguns conhecidos cujo a atitude, o movimento dos olhos, e o tom da voz, me lembram de marrecos. Estes não adianta imagina-los assado num refratário, por que simplesmente não me apetecem e me perecem mais inofensivos.

Crise de identidade indígena


Alem da questão da terra, outro grande problema enfrentado pelos índios em suas comunidades  atualmente, é a crise de identidade cultural, já que os mais jovens não sabem o que são e o que querem ser, se são brancos ou se são índios. Eles não são brancos mas se utilizam das coisas do branco como telefones celulares, walkmans, alem de outros objectos e do vestuário enjambrado.
A jovem indigena grávida que atendi hoje na reserva da Lomba do Pinheiro, só falava em guarani e seu marido, tambem seu interprete, me disse que ela se chamava Marcia, mas que não era seu nome verdadeiro, mas um apelido branco. Eles são tímidos, de pouca conversa para quem não conhecem e como todo o ser humano ficam fascinados por novidades electro/ eletronicas.
Fotografei estas crianças moradoras da Reserva, que me pareceram uma mistura de muitas identidades e que também adoraram ser fotografadas e muito curiosas com o modelo do meu celular. Ressalto ainda o colete do menino de calção vermelho na foto, com um colete de sacola de plástico, criado por ele.

Sabão de coco e cantos gregorianos

Terça- feira é um bom dia para se malhar de um jeito diferente, você não exercita  somente os músculos do corpo, mas o cérebro em algumas seções de paciência, resignação e auto controle.
Paciência de monge, para trafegar nas avenidas engarrafadas de Porto Alegre.
Resignação de dona de casa, para fazer compras no supermercado e lembrar que esqueceu da lista em casa,   
Auto controle, para tentar entender o porquê o notbook  se nega a localizar o endereço de IP e orçar os arranhões no carro feitas por sociopatas disfarçados de gente normal, que você encontra pelo seu caminho. 
Depois de tudo, mais paciência para aguentar a si próprio depois desta maratona.
Terça-feira é o dia em que não ouço Amy winehouse  e Marina Lima no radio do carro, não buzino, não atendo ligações telefonicas no celular, não assisto novelas e o Jornal Nacional e  quando chego em casa, tomo um demorado banho com sabão de coco e me jogo na cama para ouvir cantos gregorianos a meia luz.

Criança.

                     Vou
                        Vou levar
                            O tempo que for
                                      Vou
                                           Vou levar
                                                   Até desvendar caminhos e ver
                                                            Como eu chego em você...

                                                                                                   Vou

Eu gosto desta batida ritmada nas musicas de Marina Lima, a letra que parece não caber nos espaços e cai perfeitamente, recortada, urbana, tensa, sensacional.
A janela do carro aberta e o vento batendo na cara, lembra Marina gravida de um liquidificador. 

UMA FORMULA EQUIVOCADA.

É possível acreditar naquele André da novela das nove, fazendo caras e bocas e pose de Don Juan, usando e esnobando as mais belas e  charmosas mulheres que surgem na  frente dele, como simples pedaços de carne? Eu pergunto ainda mais: será que o diretor pensa que é possível a gente acreditar naquele estereotipo montado? 
Ora, sem desmerecer o grande ator Lázaro Ramos, mas fica difícil  acreditar que num  país  preconceituoso e racista como o nosso, é relevante construir um personagem como  este, que parece  ter estampado na cara, sou rico, bonito e gostosão e cuja as mulheres ficam de quatro com meia dúzias de palavras de sedução? De onde este personagem tira elementos para construir seu egocentrismo?
Tem algo de errado nesta fórmula, que sinceramente não me convence. Acho que o  Rock, personagem  em "O Pai, Ó", era mais  sedutor e convincente que este André, vocês não acham?

Por dentro

O silencio é bom enquanto penso.
Mas eu não consigo decifrar estes segredos, estas transformações absurdas.
Eu to surpreso...

Eu lanço um sorriso falso.
E sei que nada combina.

Eu to quase lá e não quero fazer cenas.
É isto.
Eu to quase lá.

Ainda na Sexta...

Depois de ficar esperando de manhã, por convites para comer peixe nesta Sexta-feira Santa, resolvi desistir da espera e ir no lugar certo, a casa de minha mãe.  Ela nunca abandona estas tradições e portanto era o lugar oportuno de filar a bóia que evidentemente era peixe.
Depois de experimentar o assado, o frito, o escabeche, a salada de batata com camarão, o quibébe de abóbora, percebi que meu celular estava cheio de mensagens com convites para almoçar na casa de um colega e que eu nem percebi tocar. Mas já era tarde demais até para dar explicações e pedir  desculpas por não estar atento ao celular esquecido dentro da pasta.
De tarde, fui visitar uma amiga que fazia tempo que não via e que soube ter estado em Paris e  depois na Índia, lugares que tenho algum interesse de conhecer e que é sempre bom fazer especulações com quem já  foi. 
Rimos bastante das fotos tiradas em muitos recantos e dos comentários bem humorados, feitos  por ela sobre cada lugar onde esteve e em particular sobre os banheiros de Paris que não tem chuveiros e os da Índia onde não usam papel higiênico.
A tarde passou tão rápida  e intercalada por algumas pancadas de chuva forte e falta de luz, que quando percebi já era noite fechada.

Sexta-feira Santa

Hoje é Sexta- feira Santa e o dia nasceu ensolarado e com aquela cara de me aproveitem por favor e eu como sempre, não tinha me preparado para nadíca de nada...
Nas outras Sextas- Feiras Santas, que passaram por minha vida, sempre foram meia chochas, mesmo se fizesse um dia bonito como o de hoje, parecia ter um gosto de resignação, respeito e culpa. 
Minha mãe ensinou desde cedo pra nós (filhos), respeito e  culpa, principalmente culpa, que  parece existir em todas as consciências cristãs. 
Eu lembro de ser criança e de me perguntar como um homem em sua sã consciência, podia dar sua vida em defesa de pessoas que ele  nem conhecia e nos deixar com esta dívida nas costas. 
Fazíamos jejuam e também éramos proibidos de lavar o rosto e os dentes quando acordávamos. Pisávamos em ovos neste dia,  pois tudo tinha cara de pecado e de proibições e eu não via a hora de tudo passar e chegar o domingo de Páscoa. 
Os tempos mudaram, eu mudei e  acho que até a fé de minha mãe também mudou...

A cartomante

Eu não estava embriagado ou coisa parecida, embora eu tenha ouvido com muita disposição meu colega contar sua experiência numa cartomante na Restinga com detalhes. Eu normalmente driblo para não ouvir estas conversas que considero obscuras para minha compreensão, mas arrisquei e não doeu. 
Segundo ele, a mulher é muito boa e acertou tudo, do que ele já sabia e do que ele não sabia, deixando-o visivelmente preocupado.
Esta segunda parte, que me deixa inseguro em mexer com estas coisas. Eu não descreio nestas revelações e muito menos no poder de ninguém. Eu tenho é medo de descobrir fatalidades que não terei força emocional para suportar e que prefiro que me tomem de surpresa quando eu estiver tomando um sorvete da baunilha.

Postagem em destaque

TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...