Agora pela manhã liguei para o celular de uma colega de trabalho, e que considero muito mais que isto, mas uma grande amiga em se tratando do tempo que nos conhecemos e que dividimos um com o outro nossos problemas pessoais e luta profissional por mais de vinte anos. Ela estava na rua quando me atendeu e informou-me com tristeza sobre o falecimento de sua mãe dia 14, sendo atendida por uma equipe do SAMU. Insatisfeita e revoltada com a qualidade do atendimento que foi prestado à sua mãe, disse-me que buscaria os recursos legais para processar o serviço que não valorizou o estado grave em que se encontrava sua mãe quando foi solicitado e durante o socorro. Fiquei perplexo enquanto ela me dava a noticia, com a voz triste o ocorrido com sua mãe, dona Bibi, que eu conhecia de tanto tempo e indiscutivelmente criei laços, como se fosse um familiar meu. Envergonhado de fazer parte deste serviço do qual ela se queixava e que hoje, enfrenta tantos problemas internos quanto estruturais, que tenta abraçar os problemas de saúde de uma cidade que cresce à margem de um defasado numero de recursos técnicos pertinentes a todo o problematico complexo de saúde neste país, como (pessoal, centros de emergências, ambulâncias, hospitais, recursos), com uma legislação bonita de se ler no papel, mas que no dia a dia é impraticavel. Fiquei naquele situação delicada de quem não pode ficar em cima do muro e que precisa tomar partido de algum lado da situação, a dor de minha amiga ou as explicações formais de um serviço instituído, legalizado, informatizado, do qual faço parte e sei que algumas vezes não recolhe informações corretas de quem solicita o serviço e então envia o recurso errado, às vezes nem envia, que desacredita e descredibiliza profissionais de funções menores que atendem na linha de frente. Talvés eu devesse visitar minha amiga e dar-lhe tapinhas nas costas dizendo que havia chegado a hora de sua mãe partir e que nada poderia ser feito, nem mesmo pelo SAMU, talvés eu devesse lhe dizer que eu acreditava que tudo foi feito com a maior competencia, desde o acolhimento médico na hora do chamado até o atendimento final realizado pela equipe, mas eu não tenho certeza de nada!.. Não, eu não consigo ser hipócrita o suficiente para encenar este teatro e acho que ela deveria ir sim em busca da verdade, apurar responsabilidades se tem duvidas sobre o ocorrido ou apenas se consolar, fingir que aceitou e colocar a culpa como a maioria das pessoas fazem, em Deus.
O trote
Hoje é domingo e ainda tenho de trabalhar. O telefone começou a tocar 4h 30 min. da manhã por que alguém do outro lado da linha resolveu passar trotes ou algum golpe e eu fui o escolhido. Foram três absurdos e insistentes pedidos de socorro de alguém que se dizia minha filha, que simulava a voz de uma adolescente chorando e pedindo ajuda, que se dizia estar nas mãos de bandidos. Eu não tenho filhas e então resolvi desligar o aparelho da parede depois da terceira insistencia, imaginando que se não o fizesse viriam frases agressivas falando em sequestro, dinheiro, morte e outras barbaries. Resolvi afastar-me daquele clima, sai do quarto e fechei a porta. Aguardei meu horário de ir para o trabalho sentado na sala, já sem sono., irritado. Impossivel não deixar de se alterar com uma ligação destas, na madrugada interrompendo o sono, mas não quis pensar em quem estava do outro lado, se era simulação ou verdade, se alguém precisava realmente de ajuda, dar vazão ao desespero, preferi acreditar no possível golpe já conhecido e que tantas pessoas foram vitimadas, talvés pra mim fosse mais facil acreditar nisto. Chovia la fora e ouvia a chuva bater na calçada de concreto, nas caixas de proteção de ar-condicionado. Lembrei de meu filho que vi algumas horas antes e combinamos assistir um vídeo juntos nestes poucos dias de ferias escolar. A chuva parecia não desistir de cair, o telefone decididamente eu deixara mudo e trancado no quarto, abri a porta e saí para o trabalho fingindo despreocupação.
Ensaio sobre a Cegueira
Imagine que de uma hora para outra tu percas a visão e depois gradativamente todas as pessoas a tua volta, vizinhos, amigos a cidade, o país inteiro, numa epidemia repentina e inexplicável e todos acabam cegos e reduzidos pela obscuridade, a meros seres lutando por seus instintos. Ensaios sobre a cegueira é um drama que descreve o colapso humano e urbano com a destruição da sociedade perdendo tudo aquilo que se considera civilização. Mostra o caos e a luta das pessoas para se adaptarem a falta destes sentidos (visão e civilidade) e o preço a pagar por isto. Mais do que tudo, é uma reflexão dos valores humanos na medida em que são obrigados a confiar um nos outros para continuarem a sobreviver com a diferença do que eram para o que se tornaram, obrigados a rever valores morais e humanos indistintamente.
Baseado no livro de José Saramago.
Ensaio sobre a Cegueira tem a direção de
Fernando Meirelles e o Título original -Blindness
Ano: 2008/ Brasil-Japão-Canadá.
Baseado no livro de José Saramago.
Ensaio sobre a Cegueira tem a direção de
Fernando Meirelles e o Título original -Blindness
Ano: 2008/ Brasil-Japão-Canadá.
Esquecimento
Ontem à noite, eu falava com minha irmã pelo telefone enquanto ouvia de fundo a voz de minha mãe me advogando:
_Não briga com ele, deve estar muito cansado, por isto esqueceu!.. Mas minha irmã, continuava sem dar ouvido à ninguém, braba com minha falta.
_Tu esqueceste do meu aniversário seu mer...
Meu Deus, era verdade! Esqueci inclusive do dia da semana, do mês, do ano... Como pude esquecer do seu aniversário, da menina que eu trancava dentro do guarda-roupas e que ainda hoje sei que precisa de tanta atenção.
_Não briga com ele, deve estar muito cansado, por isto esqueceu!.. Mas minha irmã, continuava sem dar ouvido à ninguém, braba com minha falta.
_Tu esqueceste do meu aniversário seu mer...
Meu Deus, era verdade! Esqueci inclusive do dia da semana, do mês, do ano... Como pude esquecer do seu aniversário, da menina que eu trancava dentro do guarda-roupas e que ainda hoje sei que precisa de tanta atenção.
Estranhos de nós mesmos.
Encontrei uma mulher no posto de saúde que assim que teve a oportunidade se aproximou de mim e disse sorridente:
_Acho que não esta lembrado de mim! Sou a sobrinha da Teresinha, a tua amiga, lembra?.. Acho que não vais te lembrar pois eu era adolescente ainda e tu era bem jovem, mas te reconheci, assim que entrastes naquela porta, os olhos, o jeito!..
Depois da surpresa, fiquei buscando, pensando.., meu Deus, claro que não lembrava dela...e nem com um largo esforço conseguí lembrar da adolescente que foi. Falava de coisas em comum e que cruzavam na minha memoria meio reticente, falho, mas que com certeza foram situações que vivenciamos juntos, fechava! Agora era uma mulher feita, uma estranha mulher dizendo-me que se lembrava de mim, de anos atraz em visitas em sua casa, em sua família... Me senti desconfortável, embaraçado, como se estivessemos falando de outras pessoas que não éramos nós, envergonhado pela falta de lembrança, sendo subjugado pelo meu próprio esquecimento, incomodado com o que o tempo faz com a gente: 'Um estranhos de nós mesmo'. E ela continuou, empolgada por ter se lembrado de tudo, feliz por ter me encontrado mesmo me achando mais velho. Talvés meio irritada de eu ter esquecido.
_Acho que não esta lembrado de mim! Sou a sobrinha da Teresinha, a tua amiga, lembra?.. Acho que não vais te lembrar pois eu era adolescente ainda e tu era bem jovem, mas te reconheci, assim que entrastes naquela porta, os olhos, o jeito!..
Depois da surpresa, fiquei buscando, pensando.., meu Deus, claro que não lembrava dela...e nem com um largo esforço conseguí lembrar da adolescente que foi. Falava de coisas em comum e que cruzavam na minha memoria meio reticente, falho, mas que com certeza foram situações que vivenciamos juntos, fechava! Agora era uma mulher feita, uma estranha mulher dizendo-me que se lembrava de mim, de anos atraz em visitas em sua casa, em sua família... Me senti desconfortável, embaraçado, como se estivessemos falando de outras pessoas que não éramos nós, envergonhado pela falta de lembrança, sendo subjugado pelo meu próprio esquecimento, incomodado com o que o tempo faz com a gente: 'Um estranhos de nós mesmo'. E ela continuou, empolgada por ter se lembrado de tudo, feliz por ter me encontrado mesmo me achando mais velho. Talvés meio irritada de eu ter esquecido.
De olhos bem fechados
Eu achava que não era sonho. Eu acreditava que era real e podia ouvir o cavalgar veloz do cavalo negro pelo corredor estreito do pátio de casa durante a madrugada. Era fascinante e assustador. Eu apertava meu corpo contra as paredes da casa, de olhos bem fechados para que ele não me atropelasse e daí eu morreria. Eu sentia o seu cheiro e o vapor que saia de sua boca. Eu nunca acreditei que fosse sonho, sempre pensei que fosse real e até hoje tenho esta dúvida do que de fato acontecia!..
COMO SE FOSSE..
Me acordei cedo para trabalhar sentindo-me tão normal, equilibrado, envolvido nestes conceitos de aceitabilidade para com as coisas que normalmente me ponho contra e me rebelo. Então me veio a letra de uma musica do Fagner na cabeça que ficou presa em mim quase que o dia todo. Nada a ver com que eu sentia, mas ela ficava ali dentro de mim repetitiva, como ave saltando, como se eu buscasse energia para conquistar as estrelas.
"De azul carinho Vi a noite pintada Fosse alegre como ave soltando Fosse triste como ser virgem Fosse linda como a conquista Das estrelas, das estrelas De azul carinho Veio o desenho pintado Jeito de amar desesperado Mais chorando que vivido Como se vivê-la fosse não vê-la."
Fagner/Capinan
Sonrisal na agua
Hoje fui ao teu encontro pensando te achar como ontem, para diminuir minha raiva, pra deitar a cabeça no teu colo e ficar quieto, sem pensar em nada, sem dizer nada, apenas me manter em silencio. Sinto distanciar-me de tudo, afastar-me não sei pra onde, desaparecendo, sumindo, partindo, efervecendo-me como Sonrisal na agua!
FALE COM ELA.
Assisti nesta semana o filme de Almodóvar, Fale com ela e me perguntei pôr que não o tinha assistido antes. Tem perguntas que não temos respostas, assim como presentes que sem razão, deixamos escapar pôr entre os dedos pôr pura desatenção, acho que foi isto que aconteceu. Desatenção, nada mais explica!
O filme é maravilhoso, um convite ao espectador entrar dentro do universo humano feminino e conhece-lo sem esperar retorno imediato pois o ganho vem de si mesmo., no silencio, no amor. Almodovar esmiuça o universo masculino feito de sentimentos como solidão, desamparo e renúncia amorosa. Para perscrustá-lo, inverte alguns sinais e dá a seus dois protagonistas características femininas.
Marco não só é sensível ao extremo e chora pôr situações que qualquer outro homem habitualmente não choraria, como Benigno, que parece ser efeminado ou mesmo assexuado. Explora magnificamente a incomunicabilidade nas relações, o dar e sentir sem a possibilidade de retorno. Você pode estar se perguntando o que pode haver de surpreende e polêmico em um filme onde duas mulheres estão em coma e dois homens trocam experiências sobre a vida, acredite, nas mãos de Almodóvar muita coisa.
Fale com ela conta ainda com uma participação especial de Caetano Veloso, que tem sua música (cucurrucucu paloma) inserida no filme de forma apaixonante, e ainda numa cena de toureada magnifica, Elis Regina empresta sua voz na musica "Por toda a minha vida"- de Tom Jobim. Sem me estender muito, aconselho a não fazer como eu de ficar tanto tempo sem assistir o filme. Surpreenda-se!
...Engrenando...
Depois de um dia de trabalho:
- Futebol de salão e gritos da torcida no club.
- Duas cervejas Bock bem geladas.
- Vaca atolada entre colegas alegres.
- Um chá quente e amargo para evitar a azia.
- Almadovar ao chegar em casa.
Vou tentar dormir para um novo dia de trabalho!..
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