A cidade está vazia!

Quando voltava para casa com meu filho, hoje de madrugada, de dentro do carro observávamos a cidade que parecia adormecida. Engraçado ouvir dizer que alguns centros urbanos não dormem, mas Porto Alegre, particularmente dorme principalmente nesta noite atípica. As ruas pareciam desertas e o movimento de veículos nos cruzamentos era quase zero como nas pequenas cidades do interior. Com a janela do carro meio aberta podia-se sentir o vento da noite bater nos nossos rostos como num passeio à beira da praia depois de um longo dia de lazer. Árvores balançavam, calçadas vazias e a voz de Ana Carolina cantando no rádio do carro:
"... Já sei olhar o rio por onde a vida passa, sem me precipitar e nem perder a hora. Escuto no silêncio que ha em mim e basta, outro tempo começou pra mim agora. vou deixar a rua me levar, ver a cidade se acender ..."
Já entrando em casa tivemos a sensação de que éramos os únicos moradores de um prédio de seis apartamentos em completo silêncio.

Acordei inspirado, então coloquei no aparelho de som o CD de Vinicius, Tom, Miucha e Toquinho gravado ao vivo no Canecão. Tomei meu café da manha com a voz delicada de Miucha em dueto com Vinicius, cantando "Minha Namorada", "Chega de Saudades"e "Se todos fossem iguais a você." O dia pareceu ficar mais bonito que os outros, o café mais saboroso e a vida melhor!

Chega de Saudades.


Será que eu ficarei assim? Este é o meu, o nosso futuro? Foram estas perguntas iniciais que me fiz ignorantemente, quando assisti o filme de Laís Bodanzky: "Chega de Saudades." 
Produziu em mim o efeito de uma catarse por se tratar de uma ficção que mostra a possível realidade não tão distante, retrato da vida. 
A primeira sensação foi de angustia e impotência, uma vez que não se pode parar o tempo e todos nós envelheceremos e pensar em futuro, é também pensar na possibilidade de que nossa juventude está se extinguindo. Depois de uma aceitação pautada na falta de opção, por que afinal de contas é assim a vida, envelhecemos mesmo contra a nossa vontade, mas nossos desejos e necessidades não se esgotam, continuam latentes e com isto se mantém jovem. 
O filme é ambientado durante uma noite de baile, num clube de dança em São Paulo. A trama começa ainda com a luz do dia, quando o salão abre suas portas e termina ao final do baile, pouco antes da meia noite, quando o ultimo frequentador desce a escada. Mostra também numa unica noite de baile, os dramas, alegrias e sonhos de seus personagens, mesclando comédia e drama na mesma história. O filme aborda também o amor, a solidão, a traição num clima de muita musica e dança.

Elenco:
Tônia Carreiro,
Betty Faria,
Cassia Kiss,
Stepan Nercessian,
Maria Flor,
Paulo Vilhena,
Elza Soares.

Duração:92 min.

Fora do Ar

Ontem, Moema em alguns momentos criou distancias que talvez achasse necessário para si e todos nós ali reunidos. Tinha o olhar ocupado e firme num pequeno objeto que segurava na mão, mas também cruzava os limites do seu presente que a levava para longe, muito longe de nós. 
Distanciava-se para algum lugar pessoal e secreto, fora do nosso e de seu tempo. 
Fiquei a observa-la sem que eu fosse notado e pensei que algumas vezes também faço estas viagens inconscientemente, levado por uma surpreendente distração maior que minha vontade de permanecer no que chamo de minha realidade presente. Absorvido em pensamentos soltos e sem nexo, captando impressões tácteis e visuais, navegando em imagens voláteis e talvez necessárias a o sonho, a compreensão, de quem sabe, nós mesmos em mensagem não decifradas, codificadas por senhas complexas e esquecidas. 
Por alguns minutos, também me distanciei permanecendo alguns minutos, talvez segundos, fora do ar e só retornei quando Moema bateu em meu ombro perguntando:
_No que está pensando?..

Novembro, Dezembro, já quase Janeiro

Meu quarto pela manhã, fica iluminado pelo sol, que entra pelas frestas da persiana. Hoje, além do sol, havia um vento forte que rajava pelas paredes e janelas do prédio. Haverá mistérios num dia de sol e vento e sem cantoria de passaros como o de hoje? Já me adonei deste sol e deste vento que surge por aqui, tenho sentimentos de pura nostalgia agregado ha dias como este.
Daqui vejo somente telhados marrons, chaminés sem fumaça, nuvens que parecem eicebergs em movimento lento e indo na mesma direção. Novembro já quase virando Dezembro. Indo, na direção de Janeiro, acompanhando o movimento das nuvens, partindo, indo, na direção do futuro!..

Sombras e Vozes

Sombras e vozes conhecidas era tudo que buscava naqueles momentos em que sentava ali, na mesa do bar, na calcada movimentada, na beira da avenida que trafegavam veículos barulhentos, misturados tantas pessoas que falavam alto, gesticulavam, garagalhavam com seus hálitos de cerveja quente e espumenta nos copos. Há algum tempo, já tentara desta mesma forma, sem conseguir, respostas que viessem destas mesmas sombras e vozes que buscava pelos cantos de bares, pelas esquinas e becos pouco iluminado e nunca vieram a o seu encontro. Agora estava cercado de uma ansiedade quase descontrolada. Seria fácil, muito fácil!_ pensava angustiado_ se estas sombras lhe trouxessem algum tipo de alivio, se em suas vozes lhe trouxessem algum tipo de resposta, resposta que em algum dia pensou que pudesse arrancar de dentro de si, como se espreme com pouco esforço um limão para fazer suco. Mas é difícil arrancar de si, suas próprias respostas, espremer-se até que saia algo, desvendar seus próprios enigmas sem pirar de vez. O que se pode tirar pode ser um suco de diferente cor, textura e sabor, que não se quer provar!.. Sentado ali, em seu canto estratégico de busca, observava o movimento frenético dos garçons, o abraço, o beijo na boca, a cruzada de perna, o olhar indeciso, as bandejas de metal que sobrevoavam como ovni sobre a cabeça dos clientes, o cheiro de cerveja quente e tocos de cigarros esmagados.
Pessoas chegavam e outras saiam, pareciam que algumas retornavam à procura de algo que não estava ali, ou que estava presentes além do bar, da rua,  além de si mesmas.
Então, bebeu o ultimo gole, levantou-se e foi embora. Talvez num outro dia tivesse mais sorte.
Ninguém sabe dos sentimentos de dor dos outros, ninguem sabe. Oque se pode é apenas ter uma vaga idéia deles e talvés como foram construidos, se estendendo, se alojando, crescendo silenciosamente dentro das pessoas, formando feridas mas isto é uma vaga idéia.

Glamour Maggie


Maggie é uma menina que ainda cresce para a surpreza de muitos olhos. Vejo um pequeno brilho em seu olhar que confundo ora com luz de alegria e esperança, ora com lágrimas de uma tristeza que perece não ter fim. Trocou sua coleção de bonecas por óculos de muitas cores, telefones móveis de muitos modelos, vestidos, sapatos, perfumes, colares, glamour. Maggie é muitas e então busca em si mesma a personagem real e única entre todas as outras que criou cada qual mais bela. Busca a não coadjuvante, a que talvez lhe mostre o caminho de emoções que guarda dentro de sua magica caixinha de musica sobre a penteadeira, que lhe posicione o norte no meio de tantos atalhos surgidos na vida. Enquanto não encontra, modifica as rotas, transforma os cruzamentos em laços de presentes, os paralelepípedos em pedras preciosas, o olhar de mulher em sorriso de menina.

Uma estória que li

Uma jovem mulher e um belo homem apaixonam-se e, quando isso acontece, eles decidem casar-se imediatamente. A mulher - culta, sofisticada e experiente - diz: "Só com uma condição...".
O homem responde: "Qualquer condição é aceitável, pois não posso viver sem ti."
Ela diz: "Primeiro ouve a condição; e depois reflete. Não é uma condição vulgar. A condição é que não vivamos na mesma casa. Eu tenho uma terra vasta, um belo lago rodeado por árvores, jardins e relvados. Farei para ti uma casa do outro lado, oposto àquele onde eu vivo."
Ele responde: "Mas então qual é o interesse do casamento?"
Ela diz-lhe: "Casar não é destruirmo-nos mutuamente. Não é limitarmo-nos um ao outro. Não é matarmos o amor que sentimos. É, sim, fazermos com que o amor possa crescer. Estou a dar-te o teu espaço. De vez em quando, passeando de barco no lago, poderemos encontrarmo-nos acidentalmente. Ou, por vezes, posso convidar-te a tomar chá comigo, ou tu podes convidar-me."
O homem responde-lhe: "Essa ideia é simplesmente absurda."
A mulher responde-lhe: "Então, esquece os planos de casamento. Esta é a única ideia correta - só assim o amor pode crescer, porque seremos sempre jovens e novos. Nunca tomaremos o outro como certo. Tenho todo o direito de recusar os teus convites, assim como tu tens o direito de recusar os meus; a nossa liberdade individual nunca será perturbada. Entre estas duas liberdades, a tua e a minha, desenvolve-se o belo e fascinante fenômeno que é o amor."

Rabindranath Tagore

Mudanças internas


Quando ocorrem mudanças que te modificam o interior, estas mudanças te pegam de surpresa. Quando voce se vê, ja é quase todo outra pessoa e então aqueles velhos conceitos do qual voce acreditava ser feito, ja não lhe dizem nada ou quase nada. Tudo parece estranhamente atípico, impessoal, por que voce é um pouco do velho com novas verdades somado a mais um pouco do novo que voce passa a ser. Custa um pouco voce passar de um  para o outro e elaborar esta transição, este novo modelo doqual está se transformando.

DIA DOS MORTOS.

Caminhando pelas ruas daqui, observo belas casas de construções planejadas, jardins elaborados, cercas elétricas, cães de rara beleza e bem alimentados, mas percebo também um panorama triste, deserto neste dia que garôa e me confundi a estação do ano em que estou. Dia 02 de Novembro é dia de mortos e dia dos mortos sempre parece-me assim com este ar de tristeza estampado na cara do dia. Janelas, portas e portões fechados. Haverá alguém dentro destas casas que passo pela frente? E o que fazem, se protegem da garôa, oram pelos mortos? Não lembro de meus mortos pois lembro deles num dia mais bonito que o de hoje, fico apenas caminhando e perguntando-me pelos vivos que moram por aqui escondidos em suas residencias fechadas e sem nenhum sinal de vida. Enterrados em suas moradias como se não existissem.

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TÔ PENSANDO QUE:

Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...