Canoas de Caiobá


As canoas ficavam ancoradas de frente para o mar, esperando a hora de partirem. Eram tantas as cores que ficava difícil eleger a mais bonita entre todas! Eram iluminadas pela luz da lua e quando por ali se passava sentia-se o cheiro do mar , do peixe, da simplicidade, da liberdade que se vê somente em cartões postais.
Saudades de lá!

Quinta-feira

Quinta-feira tudo parecia estar bem, mas de uma hora para outra me vi estranhamente inquieto. Era noite e saí para jantar na casa de amigos e mesmo no clima caloroso e festivo com que sempre sou recebido, sentia-me deslocado e desatento a tudo e a todos. As anchovas grelhadas estavam ótimas e o vinho tinto nem se fala, mas eu, oscilava entre sentimentos de ansiedade e angustia, do qual não sabia sua origem e nem oque fazer para que passassem. Caminhava de lado para outro, debruçava-me sobre as janelas sem me fixar em nada que via e a cabeça repleta de um vazio sem dimensões. Em alguns minutos parecia que sobrava um pequeno espaço de raciocínio lógico, onde eu retornava ao 'planeta de origem', as pessoas, as anchovas grelhadas, ao vinho que pouco bebi; depois voltava a me perder no meu próprio vazio. Mais tarde, ja em minha casa, buscava algum mecanismo interno que me fizesse retroceder daqueles sentimentos que só me abandonaram na manhã do outro dia, quando acordei.

Devagar quase parando

Meu colega costuma dar muitas gargalhadas, acha que a vida é pra isto mesmo, sorrir, se divertir, viver sem estresse. Honra seus compromissos no trabalho e nas horas vagas sua agenda e repleta de bailes em clubes, aniversários, casamentos, jantares, bate-bolas com vizinhos finalizados com grandes churrascos. Quando dirige seu carro não passa dos sessenta e se fazem algum comentário negativo a respeito vai logo dizendo: Pra que correr se vamos chegar lá mesmo! Caminha com passos lentos, mãos nos bolsos, assoviando e olhando para os lados como se visse coisas que os ditos "normais" não vêem por que tem muita pressa. Chamado de preguiçoso por alguns e "devagar quase parando" por outros, vai vivendo. Afinal por que ter pressa?

Violências corriqueiras

Falar de um assunto corriqueiro não sei se é bom por que me parecem aquelas velhas histórias repetitivas, mas que vivemos nos debatendo com eles pelas ruas todos os dias, isto é uma verdade. Será que ninguém nunca enfrentou uma situação semelhante? Pois bem, na semana passada quando fui ao banco verificar meu saldo e realizar algumas transferências, deparei-me com uma cena lamentável e que me deixou revoltado, pelo desrespeito e falta de sensibilidade humana. Primeiro quero dizer que aquelas portas giratórias, instaladas em bancos para trazerem segurança aos cliente e ao próprio banco é uma piada de mau gosto. Você tem que se desfazer de todos os objetos de metal que carrega consigo, inclusive platinas de cirurgias reparatórias, próteses dentarias, D.I.Us, se puder tirar é claro, para poder passar enquanto todos te olham como se você fosse um marginal pronto à assaltar o banco. Segurança, ledo engano! Uma vez fiquei preso em uma delas e só depois, por muito custo foi liberada para que eu passasse. Já na fila do caixa, o senhor que passara na minha frente deu um sorrisinho irônico e mostrou-me a arma que carregava na cintura e passou no detector de metais sem maiores restrições. Mas voltando à semana passada, já estava dentro do banco esperando um dos caixas eletrônicos se desocuparem, quando percebi uma senhora idosa tentando entrar e sendo barrada na porta giratória que trancava cada vez que ela forçava a sua entrada. O segurança do outro lado olhava-a com desprezo e dizia-lhe para deixar sua bolsa num nicho transparente de objetos, sem que ela pudesse ouvi-lo. Repetia varias vezes enquanto ela forçava a porta e fazia sinais de que não conseguia ouvi-lo. Ele provavelmente também desconhecia que vidros diminuem a acustica e repetia sempre a mesma frase. Depois de varias tentativas de mimicas e monólogos incompreensíveis ele resolveu abrir a porta, a contra gosto e resmungando: Além de velha é surda!
Comentei com uma jovem senhora que estava ao meu lado, sobre a violência assistida e fiquei pensando quando tempo ainda falta, para que eu seja tratado daquela maneira absurda e desrespeitosa como foi tratada aquela idosa.

O porco assado

Acordei agitado e então lembrei do sonho:
Vistava amigos no interior, do qual conhecia-os somente do sonho. Sentados em volta de um forno de barro, assavam um enorme porco para festejarem minha chegada na fazenda. Estávamos entre oito pessoas e conversávamos sobre coisas banais, mas oque chamou-me a atenção e achei estranho é que assavam o animal vivo e sem que tirassem suas vísceras. Quando se agitava sobre o braseiro por causa do calor que lhe queimava o corpo, sua dona lhe fazia um carinho para que se acalmasse e aceitasse seu destino final. Seus olhos se movimentavam e algumas vezes pareciam ser doces e inocentes a procura de sua dona. Com medo de toda aquela situação estranha, algumas vezes corria até a porta enquanto alguem comentava dando gargalhadas: Esta gente da cidade tem medo de tudo, até da própria comida!

Discutir relação

Andei me perguntando por que discutir relação dói tanto? E quando digo que dói é por que dói mesmo! Eu mesmo fico arredio quando tenho que discutir. Um numero bastante elevado de pessoas fogem deste tema como o diabo foge da cruz. O gênero masculino então, nem se fala, alegam que é perda de tempo, que a o invés de ajudar prejudica mais ainda e ai se vai... A verdade é que é necessário algumas vezes, se colocar os pingos nos is e certamente conversar é a melhor saída. As relações se formam não só no casamento, mas em outros âmbitos de nossa convivência afetiva, seja no trabalho, na escola, entre amigos que fizemos. Quem não se deparou com algum comentário desagradável feito por algum amigo ou colega de trabalho e partiu para o vamos tirar a limpo esta história? Eu muitas vezes!
Discutir relação não precisa ter cara de imposição, de xeque mate, de dá ou desce, claro que importa oque se fala, não se pode fugir do foco e ficar na embromação, mas em certas horas é bom dar importância também a forma com que falamos oque nos incomoda. Calma e delicadeza não faz mal a ninguém! Boa educação muito menos!
E é bom lembrar que se discutir relação é algum tipo de jogo dos tempos modernos, vale a pena também ressaltar que as partes envolvidas sempre saem ganhando, não importa se casados, amigos, ou colegas de trabalho.


Insigth

Me pego algumas vezes pensando nas contas para pagar, nos consertos que tenho de fazer, as ligações que não retornei, as visitas que prorroguei, as senhas que esqueci e antes que tudo vire um colapso total em minha vida estabeleço regras de solução que nem sempre as cumpro por que também termino por esquece-las. O jeito é ir vivendo conforme é possível viver, sem culpas, sem traumas e procurando sem estresse uma forma mais ligth de solucionar essas situações incomodas. Fico pensando que os traumas de hoje, podem ser o resultado das coisas mal resolvidas de ontem, como também sei que nossas métodos de uma perspectiva melhor as vezes são ineficientes e necessitam de um novo insigth para serem solucionadas com tranqüilidade e bom humor.

22/07/2008

Quando Mariana passava na rua, Paulo assoviava suas canções favoritas. Mesmo fingindo indiferença, ela sabia que era para chamar-lhe atenção. Mantinha o rosto sereno sem olhar para ele assustada com o que pudesse acontecer. Um dia trocou de caminho para ver o que acontecia, quando voltou a passar por ele, percebeu que trocara de repertório.

O vendedor de mapas

A caneta ficava sempre no mesmo lugar, perdida entre papeis com anotações, rascunhos, recortes de jornais dentro da gaveta. As vezes algum livro também era colocado ali para ser lido com paciência, quando pudesse driblar a falta de tempo, o cansaço. Os encontros com Artur da Távola, Nietzche e Clarice Lispector eram curtos e suas caminhadas longas. De manhã a rotina de sempre o deixava mais forte, mais esperançoso por melhores dias. Enrolava seus mapas e saia cedo em busca do sustento, da força que sempre o fazia retornar ainda mais esperançoso e talvez feliz.

PINTURA TRAGICA

Era cedo da manhã quando passei e vi o velho e conhecido mendigo, que me pede cigarros, sentado no meio fio brincando com uma pomba morta. Olhei com curiosidade e então disse-me que ela caíra morta em pleno voo, cansada de voar. Quando voltei para casa fiz outro percurso e encontrei mais algumas delas, caídas sobre as calçadas, entre o meio fio e a rua, boiando sobre as poças de chuva. Eram mais de seis, parecendo uma pintura trágica e triste. Por aqui, onde eu moro, é cheio delas, ocupam telhados e praças, sem fazer muito ruído. Observam a mim e os vizinhos, curiosas nas janelas entre abertas do apartamento, enquanto toco meus dias com alguma pressa. Elas parecem estar sempre pelos cantos, incansáveis, ousadas, quase estáticas, como uma outra pintura que vi.

Renascer...Recomeçar?

Não lembro a o certo o nome e o seu autor, mas o filme que assisti ontem a tarde, conta a história de uma familia; Particularmente a de uma senhora idosa que sai com o marido para visitarem um dos filhos que está de aniversário e no dia seguinte, após a comemoração, brindes e lembranças do passado o marido morre de um ataque cardíaco deixando-a completamente sem rumo e despreparada emocionalmente para continuar só. Passa então a viver com os filhos temporariamente até refazer-se de seu trauma e é jogada de um lado para o outro como um estorvo. Um filho extremamente materialista, ocupado em ganhar dinheiro, frio e dissociado dos laços familiares e uma filha insegura e desequilibrada que não consegue se firmar como escritora de peças de teatro e mantém um tumultuado relacionamento amoroso com um jovem homem que trabalha como construtor na casa em reforma. O filme cresce, quando num encontro de idosos em que a filha esta presente a velha senhora declara não ter sido uma boa mãe e muitas vezes ter tido o desejo de abandona-los ou cala-los para sempre em função da pressão que sofria como progenitora. Cresce mais ainda, quando a filha problemática pede à sua mãe para aproximar-se de seu amante para descobrir seus planos com relação a ela, e e a velha senhora ao tentar, se envolve com o amante da filha passando a relacionar-se sexualmente com ele. Neste momento surgem reflexões sobre as modificações que o corpo sofre com o passar dos anos, impasses sociais e morais relacionados a velhice e a diferença de idades. Seu caso com o jovem construtor é descoberto, quando a filha mexendo em seus pertences, descobre desenhos feitos por ela do corpo nú de seu amante e de cenas de sexo oral, abalando e revoltando toda a familia.
Mais do que a trama e enfoques que centralizam as divergências de cunho moral, onde bem sabemos que velhos são excluídos, abandonados, subestimados, algumas vezes massacrados e proibidos de amar e ter uma vida sexual ativa, o filme é um grito de socorro e por que não dizer um alerta, uma declaração óbvia de que o corpo envelhece mas a alma não, e que decididamente nos mantemos emocionalmente, latentes, receptivos a tudo, por toda a vida, inclusive à amar, ter desejos e que para a velhice ninguém está preparado.
No final, deixando a familia, sua casa, o jovem amante para traz, ela sai com alguns pertences em baixo do braço em busca de si mesma, talvez de sua felicidade.

Filme: Recomeçar/ The Motter
Inglaterra/ Lançamento:2003
Diretor: Roger Miccheell do filme:
"Um lugar chamado Notting Hill".

Atores: Daniel Graig e Anne Reid.

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Quando as nossas emoções, alegrias e tristezas passam do tempo, nossos sentimentos humanos ficam acomodados numa cesta do tempo recebendo so...