PRENUNCIO DE DIAS PIORES


Às vezes, perdia-se de si, esquecia quem era e pra onde estava indo. Não reconhecia as pessoas, as ruas, os prédios, os cheiros que compunha a cidade, agora transformada num mundo estranho a sua volta. 
Perdia o norte e ficava girando feito uma bussola desorientada, ate encontrar um refúgio, uma porta fechada, uma parede que lhe parecesse sólida, para também apoiar-se e esticar as costas tensas que doía.
Forçava por alguns momentos, lembrar-se do objetivo que tinha, quando levantou da cama tão certa de si, trocou de roupa e ganhou a rua de cabelos soltos, boca pintada, com algum propósito debaixo do braço e uma certa apreensão contida.
Era somente disto que lembrava?..
Desconfiava que estava a beira de um colapso, pois não era possível aqueles esquecimentos repentinos, que a despersonalizava, deixando um grande vazio da sua existência e preenchidos pelo barulho desenfreado da cidade.
As pessoas olhavam-na como se percebessem que algo estava errado.
Sua cabeça girava e transformava suas lembranças num monte de pó, a se perder no vácuo.
Algo de pior estava por vir, pensava apreensiva enquanto caminhava sem rumo. Os esquecimentos eram algum prenuncio de dias muito piores a lhe surpreender.

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