O beijo que incomoda.

Eu estava na fila de uma lanchonete no Shopping Praia de Belas, aqui  em Porto Alegre, quando me deparei com cena de dois jovens rapazes, entre 19 e 20 anos, que estavam também na fila, fazendo comentários em voz alta, sobre alguma coisa na praça de alimentação que os incomodava. Na verdade, não era apenas um comentário de quem está insatisfeito com alguma coisa, mas observações e xingamentos de quem quer chamar a atenção das pessoas que estão em volta para o que estava acontecendo e que pra eles era inaceitável.
Os xingamentos mesmo sendo altos, não era dirigido de forma aos envolvidos ouvirem. Tinha como objetivo chamar a atenção dos que estavam a sua volta, eu e os atendentes da lanchonete que já olhavam na direção do alvo de ofensas dos rapazes com olhares discriminadores. Só depois que fiz meu pedido (uma salada de frutas) e paguei, percebi que o que os incomodava eram dois outros rapazes sentados em volta de uma das mesas, na praça de alimentação, trocando beijos e caricias. Era um casal de namorados gays, que estavam tão envolvidos entre si, no seu namoro, que nem perceberam ou deram atenção para os clientes que estavam em volta. Acredito que eles nem perceberam, algumas das ofensas que estavam sendo dirigidas pra eles ou que estavam sendo alvo de discriminação.
Os jovens preconceituosos logo se afastaram possivelmente ainda debochando e eu então fiquei pensando nesta cena, não tão incomum, que acontece diante da gente e percebi que evidentemente os homofóbicos apresentam qualquer tipo de idade, esses no caso eram bem jovens. Que eles não afrontam diretamente suas vitimas por que tem medo de serem revidados, utilizam-se de mecanismos indiretos, ou seja, tentam induzir algumas pessoas que estão a sua volta a se revoltarem com uma insatisfação que são deles, e não dos outros.  É como acender o palito de fósforos e aguardar na trincheira que um idiota qualquer atice o fogo causando o incêndio. Também fiquei pensando na atitude dos namorados, que trocavam caricias em seu espaço, sem incomodar ninguém e que muita gente ainda pensa se tratar de uma provocação silenciosa que fere os preceitos morais da sociedade, da família e cuja as mudanças devem acontecer de forma lenta e gradual sem macular a moral de ninguém.
Aí eu me pergunto o seguinte: Até quando é necessário esperar para que as pessoas usem de sua liberdade para manifestarem seus sentimentos publicamente como fazem os casais héteros. Ainda é preciso aguardar o famigerado beijo gay, tão esperado nos horários nobre da TV para que sirva de abertura para os tempos modernos? Bom a ficção é uma imitação da realidade e a realidade só é escrita por gente de coragem como este casal gay no shopping.  

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