DESAMARREM OS CACHORROS.


Depois da minha visita a exposição de Miguel Rio Branco, no Santander Cultural, aceitei o convite de um amigo, para visitar a Praia de Ipanema, na zona Sul de Porto Alegre. Saímos do Bom Fim, até o Santuário Madre de Deus, ouvindo Sidney Magal e Tim Maia, no radio de uma Kombe e depois seguimos até Ipanema cuja a água e a orla me pareceram mais limpas e menos movimentada do que das outras vezes que estive por lá de visita. Também era uma sexta-feira de tarde e desta forma, o movimento de pessoas na praia e o trafego de veículos, estavam menos ostensivos que nos Sábados e Domingos, quando costuma lotar todo o trecho de acesso a praia.
Caminhando pela orla meio vazia, eu fiquei lembrando de alguns momentos da minha infância  em que eu passava com a família por ali, para aproveitarmos os belos dias de sol em grandes piqueniques numa caminhonete DKV.


Nesta época, eu com meus dez ou onze anos de idade, lembro-me de uma situação que me deixou muito envergonhado, impedindo-me de retornar a este lugar depois de me tornar jovem. Essas mazelas emocionais que adquirimos, pela falta orientação necessária, mas que depois passa!...
Eu era criança e lembro de estar sentado na areia, num desses dias de veraneio, quando percebi dois cachorros que se arrastavam, parecendo terem sido amarrados pelos rabos. Eu fiquei muito apavorado com o que me parecia uma maldade humana e gritei para todos os que estavam presentes, que os desamarrassem para não se machucarem ainda mais.
Houve um silencio geral, depois seguido de largas gargalhadas por causa da minha inocência, que foi mais encarada evidentemente, como uma estupidez. Depois levei uma daquelas xingadas, sem entender  o porquê.


Sou desses tempos, em que se aprendia sobre as coisas da vida, aos trancos e barrancos e quase sem nenhuma explicação, tempos em que a esperteza e o código de olhares com silencio, era uma arte e sinônimo de inteligencia, alem de outros valores invertidos. Tudo bem, eu sobrevivi com alguns defeitos evidentes e não mais recuperáveis, mas sobrevivi.


Ainda hoje pela manhã, na exposição do Miguel Rio Branco, no Santander, uma fotografia com cães grudados, me fez lembrar desta situação, e depois ir até Ipanema onde vivenciei esta experiencia desagradável a tanto tempo atrás, me fez refletir que certas situações se incidem na nossa vida para reviver e reorganizar certos erros e mal entendidos a que somos submetidos. Acho que é uma especie de chance dada, para nos perdoemos de culpas do qual nem somos responsáveis.



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